África do Sul: uma noite do Rio Vista Lodge

"Há pessoas que colecionam antiguidades, selos ou recordações dos Beatles. Eu coleciono travessias de fronteira, e as melhores foram aquelas que tive de atravessar a pé (...) Para mim, uma fronteira representa a vida da maioria das pessoas."
Paul Theroux, O Último Comboio para a Zona Verde - Do coração de África até Angola, o meu último safari

Ao contrário de Paul Theroux, não colecciono travessias de fronteira (gosto mais da ideia de coleccionar ilhas) mas se o fizesse o meu cromo mais raro seria o da caótica fronteira entre o Botswana e a Zâmbia e o mais repetido o da movimentada Ressano Garcia, que separa Moçambique da África do Sul. E num destes dias voltei a passá-la, não para fazer um grande safari mas por uma causa menos nobre: uma sessão de compras em Nelspruit, cidade super comercial onde abundam lojas para todos os gostos (os fãs de mobiliário e de coisas de decoração não podem perder a Weylandts, nem que seja só para dar uma espreitadela) e onde a imensa Makro fará as delícias mesmo de alguém não muito consumista.

Nesta viagem entre Maputo e a capital da província de Mpumalanga, feita entre planícies cheias de laranjeiras e de cana-de-açúcar e entre montanhas cobertas de verde e de muitas rochas (e à beira da N4 os habituais mercados de venda de fruta e um ou outro sinal de perigo a indicar que podem andar hipopótamos por ali), foi a noite passada no Rio Vista Lodge, em Malelane, com vista sobre o Crocodile River e o Kruger Park, mesmo ali em frente, do lado de lá da cerca.

Chegámos ao Rio Vista ao final da tarde de uma sexta feira (mesmo a tempo de não perder o jantar pois a cozinha do The Deck Restaurant, que tem na ementa bitoque ou bife à portuguesa, encerra cedo, às oito), pelo que a vista ficou apenas para a manhã do dia seguinte, a acompanhar o pequeno almoço. E nessa altura voltamos a encontrar Anita, a proprietária do lodge, uma sul africana com pais nascidos no Porto e que na véspera tinha praticado um pouco de português (bastante razoável), desejando-nos uma boa noite e conversando um pouco.

Contou-nos que viveu quase sempre na África do Sul (à excepção de três anos passados na Austrália) e que espera continuar por Malelane, onde tem planos para melhorar o seu alojamento à beira rio: os adeptos do relaxamento passarão a ter em breve um SPA com vista (construído no deck onde funcionava antes o restaurante), os aficionados por desporto um sports bar e os aprendizes ou praticantes de golfe um driving range para melhorar as tacadas.

O Rio Vista (que tem justamente muito boas avaliações no Tripadvisor) é um bom ponto de partida para visitar o Kruger (a porta mais próxima é Malelane Gate). Ou então um bom local para ficar a contemplar a paisagem, volta e meia animada pela presença de animais. A nós fizeram-nos companhia algumas galinhas do mato, uma águia pesqueira e outras aves - mas para as conseguir identificar precisava de um curso de ornitologia.

O Rio Vista Lodge tem 27 quartos confortáveis, alguns térreos e com saída directa para o cuidado jardim e outros no primeiro andar (preços a partir de 686 rands para uma pessoa e 1151 para dois, cerca de 46 e 78 euros ao câmbio actual, com pequeno almoço). Tem ainda piscina exterior e um restaurante que funciona todos os dias menos aos domingos ao jantar e segundas ao almoço. Mais informações no site, através do e-mail riovista@mweb.co.za ou do telefone +27(0)137901246.

De Maputo a Malelane são 143 quilómetros e dali até Nelspruit mais 59 a partir da estrada principal. São precisas cerca de duas horas e meia, três horas, para fazer a viagem