Cabo Verde: um tchim-tchim com Germano Almeida no Mindelo
Ter ido à livraria do Centro Cultural do Mindelo, ali à beira da Marginal, em busca de alguns dos livros de Germano Almeida e nem meia hora depois estarem estes a ser autografados pelo grande escritor de Cabo Verde – o mais lido e o mais traduzido – foi um dos momentos felizes de um regresso a São Vicente e à sua capital. O contador de histórias, como gosta de ser chamado (Germano acha escritor demasiado "pomposo"), com os seus quase dois metros de altura e um Prémio Camões no currículo, ganho em 2018, acolheu na biblioteca da sua casa três turistas portugueses que lhe apareceram à porta e lhe disseram ser seus fãs. E por ali ficou, na companhia de um amigo e da nossa, à conversa sobre os seus gostos gastronómicos (gosta de comida portuguesa e gosta de comer em casa), sobre os mandingas, figuras do Carnaval do Mindelo, que na véspera tinham desfilado pela cidade, sobre os seus livros, que são cerca de 20, ou a adaptação ao cinema que foi feita de dois deles. E entre conversa e autógrafos ("Muito obrigado pela visita", escreveu-me em Os Dois Irmãos), ainda brindámos a nós, a Cabo Verde e aos seus livros futuros, com um grogue e com um ponche de mel de cana, aberto para a ocasião.
Já me tinha cruzado com Germano Almeida no dia em que aterrei pela primeira vez em São Vicente, altura em que começava no Mindelo o Escritaria em Cabo Verde, uma espécie de réplica da homenagem que lhe havia sido feita em Portugal, em Penafiel, em 2021. E foi nessa tarde de Novembro de 2023 que troquei uma ida prevista à praia da Laginha, chinelos já calçados e toalha na mão, pela sessão de abertura de um festival literário onde ao longo de dois dias decorreram conferências, uma feira do livro, o lançamento da obra Infortúnios de um Governador nos Trópicos, sessões de autógrafos ou sessões de cinema ao ar livre, com os filmes O Testamento do Senhor Napumoceno e Os Dois Irmãos, realizados por Francisco Manso, a passar ao final do dia na Praça D. Luis. Houve ainda a inauguração de uma silhueta do escritor colocada de frente para o mar da Laginha, um "plágio" assumido da de Penafiel, a seu pedido. Nessa altura, disse-me Germano, quando lamentei não ter comigo os livros comprados na véspera, que o procurasse que ele mos autografava: "Toda a gente sabe onde moro. É só perguntar". O que ficou confirmado neste regresso ao Mindelo.
Germano Almeida, que ainda poderá andar por Portugal no rescaldo do Correntes d' Escritas, onde participou, nasceu em 1945 na ilha da Boa Vista, uma ilha que em entrevistas já considerou "enorme", "um continente" ou uma espécie de "centro do mundo" e onde nunca sentiu a insularidade. Mais tarde, estudou Direito na Universidade Clássica de Lisboa e desde 1979 é advogado em São Vicente. Na escrita, iniciou-se com as primeiras histórias a serem publicadas com o nome de Romualdo Cruz na revista Ponto & Vírgula. O Testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo, de 1989, é o seu primeiro romance; Infortúnios de um Governador nos Trópicos, de 2023, baseado na história do coronel português João da Mata Chapuzet, Governador de Cabo Verde de 1822 a 1826, é, por enquanto, o último livro publicado. Aguarda-se a saída de Crime nas Correntes d' Escrita, tal como os restantes editado pela Caminho [O Testamento e O Governador estão à venda na Wook por 11,90 e 14,31 euros].
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