Moçambique: a banhos em Chizavane (parte II)

Depois de em Novembro passado ter descoberto Chizavane, um belo pedaço do litoral da província moçambicana de Gaza, regressei recentemente para mais um fim de semana prolongado. E desta vez não houve casamento a invadir a praia, mas fiquei a conhecer alguns pormenores da história do par que nessa altura a usou para a habitual sessão de fotografias e vídeo - e noivos e convidados ficaram assim no retrato.
Após dois dias de banhos de sol e mar e já no regresso a Maputo (que aconteceu um pouco mais cedo do que o previsto por causa de um temporal à moda de África), marquei encontro em Xai-Xai com uma das convidadas dessa cerimónia, de quem fiquei amiga (ela prefere "comadre") e a quem queria entregar algumas fotografias em papel. "Vou estar na paragem junto à sede do Partido", diz-me, quando lhe telefono a combinar detalhes. E eu não lhe pergunto qual partido pois já sei que por ali Partido é sinónimo de Frelimo.
E ela lá estava, à hora combinada, tão feliz e bem vestida (e com um inevitável toque de capulana) como se fosse para outro casamento. Falamos e rimos um pouco e quando lhe pergunto pelos noivos, comentando que já não eram muito novos, sai-se com um "Eeeish! Esses dois já lobolaram há muito tempo". Que o mesmo é dizer que o noivo entregou o lobolo (o dote) aos pais da noiva muito antes do casamento de Novembro passado. E contou-me ainda que são pais de oito filhos e avós de muitos netos, mas que não se puderam casar antes (só lobolar) por a vida nem sempre ter sido fácil (o noivo é mineiro na África do Sul, tal como muitos dos homens de Gaza). E que esperaram até terem condições para fazer uma grande festa. Festa que durou três dias e que teve direito a um repasto com três bois, quatro cabritos e mais de 70 galinhas e a uma lista de prendas que incluiu mais de 40 panelas, duas cómodas, algumas camas e outras coisas mais. Talvez um dia ainda veja alguns destes presentes: ficou combinada para um próximo encontro uma possível passagem pela casa dos noivos.
Mas voltemos a Chizavane, onde escolhi de novo o lodge Nascer do Sol para ficar, desta vez ocupado por menos portugueses expatriados mas com muitos sul africanos em férias. E como éramos três calhou-nos o Sea Urchin (com dois quartos, uma sala e uma varanda ideal para as refeições), a poucos metros da praia. Que estava tranquila, apesar da época alta.
No lado esquerdo, a caminho do Zona Braza Beach Lodge, outra das opões de alojamento, os turistas do país vizinho montavam os seus gazebos (uns toldos grandes e quadrados) e ficavam por ali a gozar a baía tranquila que se forma na maré baixa. No lado direito, bastante mais deserto, sobrava espaço para estender as toalhas e abrir o nosso modesto chapéu de sol.
Os rapazes que vendem ostras a 10 meticais a unidade (com limão incluído) e mexilhões acabados de apanhar continuam a fazer negócio por ali ("Chamo-me Paulo e estou na praia", apresenta-se um deles logo na manhã do primeiro dia). E como mais vale prevenir do que improvisar (da primeira vez transformei uma salada de tomate comprada no restaurante do lodge em refogado) seguiram na bagagem cebolas, azeite e tomate suficientes para assegurar um jantar feliz. E capaz até de rivalizar com a receita de mexilhões da tasca do Sr. Domingos, no Meco.
No regresso a Maputo, aproveito mais uma vez a minha condição de co-piloto para observar a paisagem, feita de muitos talhos hallal (o da Célia, o da Tininha), de alguns take away (qual será a especialidade do Sombra da Paz?), de mercados (obrigatório parar no da Macia, sempre bem abastecido das frutas da época, de tomates e batatas doce), de igrejas (umas mais conhecidas como a Igreja Universal do Reino de Deus, outras mais exóticas como a Igreja Internacional Capela de Farol), de "chapas" com a imagem de Che, de camionetas carregadas de cerveja e uma cabra empinada no topo da carga, de gente que carrega tudo (e muitos levam nesse dia, em Xai-Xai, sacas de arroz Família Feliz, que coze sempre bem e tem apenas 5 por cento de arroz partido) ou de gente e mais gente que espera numa fila gigante, na Fipag, para pagar a água.
E pareceu-me haver uma novidade algures na Nacional (ou pelo menos novidade para mim), o Complexo Suor de Trabalho, que é uma espécie de quatro em um: tem restaurante, bar, acomodação e talho (hallal, pois claro). Vi-o só de passagem, mas acabei por fazer uma paragem na Manhiça e experimentar outra novidade, o restaurante que abriu onde já funcionou o Laurentino, famoso pelas sandes de leitão, e mais recentemente o Tamagosh Place. Ficou este aprovado para uma refeição à beira da estrada ou para matar eventuais saudades de Portugal (ver notas finais).























A praia de Chizavane fica a 255 quilómetros de Maputo (e a cerca de 4 horas de carro), 245 deles percorridos na Nacional 1 e os últimos dez em estrada de terra batida, que tornam obrigatório ter um 4x4 (e no regresso damos boleia a um rapaz, que caminha aparentemente do meio do nada para a estrada principal).

O novo restaurante da Manhiça (não me lembro exactamente do nome mas arrisco em Sabores à Mesa ou algo muito idêntico) pode ter feijoada à transmontana como um dos pratos do dia e tem na ementa pratos como caldo verde, bife à Portugália, francesinha ou carne de porco à portuguesa. Por encomenda há também leitão assado à moda da Bairrada, cozido ou cabrito assado no forno.

Nascer do Sol e o Zona Braza Beach Lodge são as principais opções de alojamento na praia de Chizavane (também há algumas casas particulares que é possível alugar). O primeiro tem um restaurante, uma pequena mercearia, 14 casas equipadas com cozinha e barbecue no exterior e preços para dois a partir de cerca de 50 euros por dia. E tem ainda 12 cabanas para acampar sem tenda mesmo junto à praia, por um orçamento mais reduzido (mais informações e reservas através do +258 282 64500 ou no site). O Zona Braza Beach Lodge, logo ali ao lado, tem um bar na praia, piscina e alojamentos para 2, 4, 6 ou 8 pessoas a partir de 2200 meticais (época baixa) ou 3250 (época alta) para dois (reservas através do +258824805388).



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