Santa Carolina, Moçambique: o paraíso existe e fica em frente a Inhassoro

Das cinco ilhas do arquipélago de Bazaruto faltava-me conhecer a de Santa Carolina (e ainda me falta a pequena Bangue, uma ilhota a que os locais chamam "banco") e as opiniões que sobre ela tinha ouvido ("É a mais bonita de todas", disseram-me em Maputo) e lido (Teresa Cotrim, no guia Moçambique, escreve que "Os seus 3 Km de comprimento por 500 metros de largura devem ser dos mais belos do mundo") fizeram-me viajar até Inhassoro, o melhor ponto de partida para a visitar. E Santa Carolina, um destino popular antes da guerra e conhecida desde os anos 1970 como Ilha Paraíso, não desiludiu.
Depois de uma viagem de quase 800 quilómetros, dividida em duas etapas, Estrada Nacional 1 acima (com os últimos 60, entre Vilanculos e Inhassoro, a serem percorridos, ao entardecer, numa estrada completamente crivada de buracos) e de uma noite de descanso no Estrela do Mar, embarcámos logo de manhã no Amor do Mar II. Tínhamos negociado na véspera com Joaquim, que toma conta do barco do irmão, o melhor preço para a travessia (e ele diz-nos durante a viagem que os brancos não negoceiam com brancos mas que não resistem a fazê-lo com os locais) e é na sua companhia que rumamos ao Paraíso. Na sua e de mais três tripulantes (um marinheiro-cozinheiro e dois ajudantes) e de Ibraimo, um dos empregados do hotel que decidiu aproveitar da melhor maneira o dia de folga (e a quem mais tarde hei-de enviar algumas fotos por WhatsApp).
Aproveitou ele e aproveitámos nós, uma trupe de sete. Pouco depois da atracagem, e deixando para mais tarde uns momentos de dolce fare niente e um obrigatório snorkeling, não resistimos a percorrer parte da ilha. Começámos pela pista de aterragem há muito desactivada e invadida agora por vegetação, visitámos o que resta do belo hotel construído em 1952 por Joaquim Alves, empreendedor também do renovado Hotel Dona Ana, em Vilanculos, que herdou o nome da moçambicana por quem o português se apaixonou (percorremos quartos, salões, varandas e mais quartos e mais salões), meditámos um pouco na pequena igreja tão bem localizada sobre o mar, apaixonámo-nos irremediavelmente pela praia de areia branca que tem vista sobre as dunas da ponta norte de Bazaruto e pelo meio fizemos planos para comprar a ilha se um dia nos tornarmos ricos. Mas entretanto alguém nos diz que a concessão de Santa Carolina foi entregue ao grupo do Indigo Bay, que tem um resort de luxo na ilha de Bazaruto e que deverá por ali construir um novo hotel. O velho, em mau estado, atingido pelo salitre e pela ferrugem, será demolido.
Regressamos, um pouco nostálgicos, pela alameda larga em terra batida, conhecida como boulevard e que data do tempo da construção do hotel, à parte sul da ilha e para junto da nossa embarcação. É tempo de almoçar e calha-nos na ementa frango grelhado por não haver peixe ou marisco disponíveis (um temporal impediu os pescadores de se fazerem ao mar durante alguns dias). E ali por perto, um ou dois pequenos ratos do campo, a quem o nosso marinheiro-cozinheiro deu uns pedaços de pão, almoçam também.
Por volta das três, subimos, felizes, a bordo do Amor do Mar, dando boleia à irmã de um dos guardas da ilha (e os guardas e familiares são os únicos habitantes de Santa Carolina). E a tentar concluir se será realmente esta a mais bela das ilhas de Bazaruto. Pelo meu lado, acho que fica ex-aequo com todas as outras: com a ilha principal, que tem dunas enormes e irresistíveis, com Benguerra, que tem lagoas e praias de areia super branca, ou até com Magaruque, muito tranquila e habitada por bandos de flamingos. E é para o resto do arquipélago que prossegue a viagem.






























































O arquipélago de Bazaruro, localizado ao longo de cerca de 45 quilómetros no oceano Índico, em frente a Vilanculos e Inhassoro, é constituído pelas ilhas de Bazaruto (a maior, com 37 quilómetros de comprimento e com oito lagoas no seu interior), Benguerra (a segunda maior e conhecida como ilha de Santo António no tempo colonial), Magaruque (ou Santa Isabel), Santa Carolina (ou Ilha Paraíso, sendo que o nome Carolina terá origem no nome de uma enfermeira encarregue, nos anos 1850, de cuidar dos presos de uma colónia penal ali instalada) e a pequena Bangue. Está classificado desde 1971 como parque natural.

São várias as empresas a realizar passeios às ilhas, pelo que o melhor é comparar condições e preços e tentar negociar um pouco. Vilanculos é um bom ponto de partida para visitar Magaruque (a mais próxima do continente), Benguerra e a parte sul de Bazaruto (Ponta Dundo). Inhassoro é um bom ponto de partida para visitar Santa Carolina e a parte norte de Bazaruto. Algumas empresas de Vilanculos são a Dolphin Dhow Safaris (+258 824624700), a Odyssea Dive, que pertence aos donos da Casa Babi (+258 82781730) e a Sunset Dhow Safari (+258 829120658). Para Santa Carolina usámos um contacto que nos foi dado no hotel e a viagem para os sete, com almoço incluído, ficou por 20 mil meticais (cerca de 277 euros). Mais informações: +258 847257727.

O hotel Estrela do Mar, que se apresenta como um projecto de turismo responsável, foi a escolha para dois dias de estadia em Inhassoro. É gerido por uma organização religiosa e ajuda a financiar a Escola Comercial e Industrial Estrela do Mar (sendo que os alunos dos cursos de hotelaria estagiam no hotel). Dois quartos, um para cinco (com mezzanine) e um para dois, custaram para duas noites 280 euros, com pequeno almoço à parte. No Booking, há quartos para dois por 61 euros por noite. Mais informações: +258 840609609.

Mais sobre viagens anteriores a Vilanculos, Bazaruto e Benguerra aquiaqui e aqui. Ida a Magaruque, em Agosto de 2014, aqui.

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