Zanzibar: uma madrugada com as apanhadoras de algas

Quando cheguei a Jambiani, na costa leste de Zanzibar, já sabia que esta é uma aldeia de homens pescadores, de crianças que brincam na praia (algumas fazem corridas com  barcos de madeira em miniatura, a imitar os verdadeiros dhows) e de mulheres agricultoras e apanhadoras de algas. Tinha lido no Le Guide du Routard que as mulheres as cultivam no mar na maré baixa e que cada uma tem uma espécie de horta bem delimitada por cercas feitas de paus e que depois de as apanharem e secarem as vendem a um grossista que as exporta para o Japão. E leio agora numa reportagem do El País (Zanzibar: el paraíso perdido de las recolectoras de algas) que a exportação de algas marinhas - usadas na indústria alimentar, química ou  farmacêutica - teve início em Zanzibar nos anos 1930 (com a venda para França, Dinamarca e Estados Unidos de uma variedade que cresce ao largo da ilha de forma natural) mas que só na década de 1990 se tornou verdadeiramente importante, sendo que em 2014 representava a segunda fonte de entrada (a seguir ao turismo) de divisas.
Tinha-me cruzado com algumas destas mulheres trabalhadoras logo à chegada, pelo que ao segundo dia saltei da cama de madrugada (e o Mamamapambo Boutique Hotel, dos italianos Paolo e Cristina fica mesmo na praia) para as encontrar e as tentar fotografar. Ainda o sol não tinha nascido e já muitas desciam à praia com sacas na mão, que depois enchiam e transportavam para a aldeia, mesmo ali ao lado, onde deixavam as algas a secar. E de novo voltavam à praia e de novo transportavam as sacas cheias.
Fotografá-las é que foi uma missão difícil: a primeira, de vestido vermelho, a quem perguntei se o podia fazer, pediu-me dólares, as outras foram dizendo que não. Pelo que fui ficando por ali, a ver o dia amanhecer, a vê-las trabalhar, a ver alguns barcos a fazerem-se ao mar, os primeiros turistas a aproveitar o dia ou uma manada de vacas em passeio pela praia (e a beberam água salgada). Mas mesmo sem retratos (mais uns dias e talvez tivesse sido possível fazê-los) foi uma manhã perfeita.














Em 2012, investigadores de universidades de Estocolmo e de Dar es-Sallam publicaram um artigo (O cultivo de algas marinhas como projecto de desenvolvimento em Zanzibar: um preço demasiado alto a pagar?) que alertava para as condições de trabalho nesta actividade desenvolvida em Zanzibar. Pode ser lido aqui.

Um relatório da FAO - Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, de 2013, informa que a maioria dos cultivadores de algas em Zanzibar são mulheres. Pode ser lido aqui.

Mais sobre a viagem a Zanzibar, realizada em Fevereiro deste ano, aquiaquiaqui e aqui.


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