Maputo: a bater bolas ou a ver quem passa no Clube de Golfe da Polana

Handicap, green fee ou drive, termos utilizados no golfe, não rimam com machambas cultivadas com milho, cabras a pastar ou galinhas vivas transportadas debaixo do braço. Mas em Maputo cruzam-se todos no Clube de Golfe da Polana, um campo que terá sido fundado em 1885 noutra zona da então Lourenço Marques e cuja construção na localização actual (no número 3867 da Rua do Rio Inhamira, à qual se chega seguindo sempre em frente a partir da Escola Portuguesa e do Hospital Particular) ficou concluída em 1956.

Há já algum tempo que queria conhecer o Clube de Golfe, para alguns um bom escape sobretudo de fim-de-semana, para outros uma verdadeira experiência sociológica. Mas como não pratico a modalidade nem tenho planos para nela me iniciar (embora o professor Jaime, que exerce esta actividade há mais de 30 anos, ache que é mais fácil ensinar mulheres que homens a jogar) inscrevo o meu companheiro de viagens mais jovem numa aula para bater bolas e aproveito o tempo para ficar por ali a ver a paisagem, a fotografar (pena a luz não ter ajudado) ou a meter conversa com quem passa. 

E passa muita gente. O Clube de Golfe da Polana, que originalmente tinha 18 buracos mas que perdeu três por causa de chuvadas intensas, fica rodeado pelo bairro Polana Caniço e é uma espécie de espaço público para quem nele habita. Ou de campo de futebol usado por miúdos ainda em uniforme escolar. Sem que isso atrapalhe, aparentemente, a vida dos jogadores ou dos aspirantes a jogadores. 

Durante a hora e tal em que por ali estive conheci Wilson, 16 anos, estudante na décima classe e guardador de cabras (que são do pai, embora um bode seja seu). Tem em casa bolas perdidas que encontra e que tenta vender aos sábados e domingos para fazer algum "taco" (que por aqui é sinónimo de dinheiro). Conheci ainda uma rapariga que transportava à cabeça uma grade de garrafas vazias de Coca Cola e que me perguntou o que tinha na boca (referia-se ao aparelho de endireitar os dentes, bastante cobiçado o ano passado, por esta altura, no mercado de Xipamanine), uma mulher cheia de sacos e que apanhou um pedaço de um lápis do chão (mas depressa conclui que já não servia para nada, pois já nem carvão tinha) ou um rapaz que passou, casaco vestido e gorro na cabeça, lançando palavras de incentivo ao golfista principiante: "Seja firme, seja homem, agarra com força". Ainda lhe perguntei se também era professor mas disse-me que nunca tinha jogado. 

Os preços para utilizar o Clube de Golfe da Polana, que constam de uma tabela afixada à entrada (onde também está ainda a pintura original do nome, ao lado de um escudo português), variam entre os 50 meticais para os "veteranos nacionais" e os 600 para os não sócios e para os 18 buracos (que afinal não são bem 18). Ser sócio diamante custa por ano 40 mil meticais. A aula de ontem ficou por 850 meticais: 500 para o professor, 200 para o rapaz-apanha-bolas e 150 que é a taxa para os não sócios baterem bolas. Mais informações através do telefone (00258) 828222050, reserva de aulas com o professor Jaime através do 829497910.