Desconfinando por aí: às compras em tempo de Covid

Gosto de mercados. Até do imenso e mal afamado Xipamanine, em Maputo, onde em tempos podia ter comprado umas mãos de macaco embalsamadas para usar como amuleto ou uma cabeça de vaca peluda e inteira para fazer "petisco" (post aqui) e que agora, em tempos de pandemia, foi alvo de um processo de requalificação por parte do Conselho Municipal que não agradou a todos (reportagem da Miramar aqui). Por cá, as últimas compras foram feitas no Mercado Municipal de Paço de Arcos, localizado no centro da vila e aberto ao público desde 1951. O mercado já teve todas as bancas ocupadas por vendedores – e mais bancas houvesse. Antes do Covid-19 tinha seis em funcionamento, agora tem quatro, duas de frutas e legumes e duas de peixe, e mais umas lojas à volta, onde se vende carne e queijos, flores e jornais. Todos os vendedores actuais – fotografados para um trabalho de um curso de Fotojornalismo realizado pelo Cenjor e a decorrer via Zoom – são antigos no mercado.




António e Céu, donos de uma das banca de frutas e legumes, foram os melhores amigos na infância e estão casados há 33 anos. Conheceram-se quando ele, com nove, chegou de Alvalade para passar os dias na mercearia que nessa altura existia no mercado. António tem duas paixões, o Benfica e comer bem, sendo que a segunda é maior do que a primeira – a banca está cheia de referências ao clube mas acolhe também, de forma mais discreta, dois dossiers com cartões de todos os restaurantes que António já visitou. O que mais lhe custou durante a pandemia foi não poder comer fora de casa, problema que já começou a resolver: num dos últimos fins de semana foi à Adega do Albertino, na localidade de Imaginário, perto das Caldas da Rainha.
A mulher de António, Céu, que se divide entre as frutas e os legumes e a florista com o seu nome, ali ao lado, e que se sente cansada por ter de usar máscara, quase nasceu no mercado. A sua mãe, que foi mãe aos 40, depois de 11 anos de casamento, foi uma das vendedoras originais. E Céu, que dormia num berço colocado numa arrecadação no primeiro andar e aí era amamentada, começou a trabalhar aos 14. Vende no mercado há 41 anos.












Uma das bancas de peixe está a cargo de Fátima, 57 anos, e David, 31, mãe e filho. Fátima vende no mercado há 25 anos, mas recentemente diversificou os seus investimentos e passou a criar caracoletas numa quinta em Coimbra. O seu marido chegou a ter um barco de pesca em Cascais que um dia levou Miguel Esteves Cardoso em reportagem. Agora, é ele o responsável pelas idas à lota.














Maria Jesus, 74 anos e que não se vê a ficar em casa sem fazer nada, vende no mercado há 43. Trabalha muitas vezes das cinco da manhã às seis da tarde, mas acha que só o facto de abastecer os quatro netos com boa fruta compensa o esforço. Um deles, formado numa das engenharias do Instituto Superior Técnico, ajudava a avó aos sábados antes de emigrar para o Reino Unido.












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