Notas soltas e álbum fotográfico de um regresso ao Porto

A Livraria Lello, criada em 1906 pelos irmãos José e António Lello e que se apresenta como a Livraria Mais Bonita do Mundo, ficou ainda mais famosa por supostamente ter influenciado J.K. Rowling na escrita da saga Harry Potter, o que a escritora confirmou não ter acontecido, numa publicação de Maio de 2020 na sua conta do Twitter (ver a história aqui e aqui). Na manhã de domingo da nossa estadia no Porto mais de uma centena de pessoas, Rua das Carmelitas abaixo, esperava para entrar. E na tarde de terça de Carnaval eram umas dezenas. "É sempre assim", confirma o motorista da Uber que nos salvou da chuva que caía. Para a próxima fico na fila. Os ticket-voucher para a visita estão disponíveis no site (por 5 euros, que podem ser descontados na compra de um livro) ou na livraria (6 euros).


O Porto tem uma Casa Escondida, encravada desde 1768 entre a Igreja das Carmelitas e a Igreja do Carmo, que será a casa mais estreita da cidade. Tão estreita e escondida que parece ser desconhecida de grande parte dos habitantes do Porto (reportagem da RTP aqui). Foi lugar de residência de alguns capelães da igreja e de artistas de restauro ou de médicos contratados pela Ordem do Carmo e pelo seu hospital (que só deixou de funcionar em 2012), foi local de encontros secretos durante as invasões francesas ou na altura do Cerco do Porto e desde 2018 está aberta ao público. A visita, que pode ser feita às segundas das 12h às 18h e de terça a domingo das 10h às 18h, inclui ainda a Igreja do Carmo, as antigas catacumbas, as salas de paramentos e hábitos e a sacristia.


No edifício da antiga Cadeia e Tribunal da Relação, onde Camilo Castelo Branco esteve detido durante um ano indiciado por crime de adultério com Ana Plácido e onde escreveu Amor de Perdição, há agora fotografias, muitas, ao longo de três pisos, e um núcleo museológico composto por uma rara colecção de câmaras, incluindo algumas escondidas em maços de tabaco ou em latas da Coca Cola e Pepsi e que terão sido usadas em trabalhos de espionagem. Ali se encontra em funcionamento o Centro Português de Fotografia, responsável pela gestão do acervo da Colecção Nacional de Fotografia e pela organização de exposições temporárias, que neste momento são quatro (toda a programação aqui). Pode ser visitado de terça a sexta das 10h às 18h, aos fins de semana e feriados das 15h às 19h e tem entrada gratuita.


Continuam a decorrer as obras de recuperação e restauro do mercado mais famoso do Porto, o Mercado do Bolhão, que tiveram início no dia 15 de Maio de 2018, 100 anos após a sua inauguração. Por agora, está aberto ao público no mercado temporário instalado no Centro Comercial La Vie e é aí que se encontram as frutas de Rui Silva, os vegetais da Tininha ou os produtos da Manteigaria do Bolhão de Ernestina Barros. Na Padaria Alzira do Bolhão, dizem-nos que até ao final do segundo trimestre deste ano "deve acontecer alguma coisa" em matéria de mudança para a casa nova. Mercado temporário aberto das 8h às 20h de segunda a sexta e sábados das 8h às 18h.


Talvez uma das melhores vistas do Porto se tenha a partir do tabuleiro superior da Ponte D. Luís I, que liga o Porto a Vila Nova de Gaia (o tabuleiro inferior, que continua a ser possível atravessar a pé, está por agora fechado ao trânsito devido a obras de reabilitação). É uma boa maneira de alcançar a Serra do Pilar e o seu secular Mosteiro, que acolhe desde 2012 um espaço de divulgação do património existente no Norte de Portugal e que se destaca na paisagem com a sua igreja em planta circular (infelizmente fechada, a não ser aos domingos, às 11h, no horário da missa). Nós fizemos a travessia do Douro pela Ponte Infante D. Henrique, passando pelo Miradouro das Fontainhas e regressamos pela D. Luís.


Da Estação de São Bento, com o seu átrio revestido de azulejos da autoria de Jorge Colaço e que representam cenas da História de Portugal e também a evolução dos meios de transportes no país, partem comboios para a Linha do Douro. O das 9h20 permite chegar ao Pinhão a tempo de um passeio de barco (há-os de uma ou de duas horas, a 10 ou a 20 euros) e ainda seguir para o Pocinho depois do almoço, por volta das 15h30, passando por estações com nomes como Alegria ou Vesúvio. A paisagem, sobretudo entre o Pinhão e o fim da linha, valem todas as horas da viagem. Regresso ao Porto pelas 20h30.


O Porto tem, desde Agosto de 2021, na Rua de Frei Heitor Pinto, quase à beirinha da Campanhã e da estação de Metro do Heroísmo, um novo hotel, o M-Ou-Co, nome que se traduz por Música e Outras Coisas e é um projecto de três amigos, Mickael Petit, Ramón Rodriguez Castro e Sofia Miró, que decidiram criar um alojamento onde a música também tivesse lugar. Conheci-o primeiro através de uma Time Out recente dedicada a Grandes Fins-de-Semana e no final de Fevereiro, início de Março, foi a escolha para quatro dias de estadia. Tem um bar, um restaurante, uma piscina exterior, uma sala de espectáculos, DJ Sets e uma musicoteca com vinis e livros para utilização dos hóspedes. E ainda 62 quartos, alguns em duplex, outros com varanda, com jardim ou com kitchenett e todos com um móvel com amplificador embutido onde é possível ligar um gira discos, uma guitarra ou um teclado. Nós ligámos um gira discos (é só pedir na recepção) e ouvimos Sérgio Godinho, Elis Regina e Carlos do Carmo no final de um dia de Carnaval com chuva. Um quarto para dois custou 266 para quatro noites, sem pequeno almoço (custo adicional de 9 euros por pessoa). Mais informações: 227667790 ou 910294352.


No Palácio das Artes, localizado no número 18 do Largo de São Domingos, no centro histórico do Porto, fica o DOP, um dos três restaurantes de Rui Paula, que tem ainda o DOC (na Folgosa, à beira Douro) e o Casa de Chá da Boa Nova (em Leça da Palmeira, sobre o mar, com duas estrelas Michelin). E no DOP, aberto desde 2010, oferece o chef os menus Memória e Mar, a 100 euros cada, mais 75 com "harmonização de vinhos", e à hora do almoço, de terça a sexta feira, um menu executivo a 27 euros, sem bebidas. Passámos por lá numa quarta ao almoço, quase a dizer adeus ao Porto, e fiquei feliz com o meu bacalhau com puré de grão de bico. Mais informações e reservas: 222014313, 910014141 ou no site.


Orlanda Barbosa, mais conhecida por Tia Orlanda, nasceu em Moçambique, mas é portuense há 42 anos, desde os 14. Serve, no novo restaurante da Rua Pinto Bessa, mesmo junto à Estação de Campanhã, e numa sala decorada com máscaras, fotografias de mulheres com mussiro na cara e um mapa de Moçambique com as suas províncias (Orlanda tem família na Zambézia), um caril de caranguejo capaz de me fazer regressar ao Porto (e a fazer-me lembrar do da Saquina, que me fará um dia voltar à Ilha de Moçambique). Acompanhado com xima de farinha de mandioca e uma cerveja 2M resulta numa combinação perfeita. O Tia Orlanda abriu há três meses, depois da pandemia ter levado ao encerramento do restaurante que Orlanda teve durante alguns anos na Rua das Taipas. Reservas: 222085710 ou 914622823.
















































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