Exposição Escola do Caminho Longo está em Carcavelos

O caminho para a educação em Moçambique é geralmente longo e acidentado, cheio de obstáculos: é a distância a que ficam as escolas (e mais ainda a partir do secundário), são as escolas ao relento, com as "salas" debaixo de árvores e com alunos e professores à chuva e ao sol (só na província de Maputo haverá cerca de 900 turmas nestas condições), são os casamentos e as gravidezes precoces que levam ao abandono escolar, são as mãos dos mais novos que são precisas para trabalhar nas machambas, é o dinheiro que falta para comprar cadernos ou o uniforme. E nos últimos anos tem sido a guerra na província de Cabo Delgado, que provocou até agora mais de um milhão de deslocados, sendo que mais de metade serão menores. E a Organização Não Governamental HELPO foi à procura de algumas das crianças que abandonaram as suas aldeias e que caminharam centenas de quilómetros em busca de segurança. O que deu origem à exposição Escola do Caminho Longo, que pode ser vista até ao final de Junho no Parque da Quinta da Alagoa, em Carcavelos.

Escola do Caminho Longo, que resulta da viagem que Maria João Venâncio (textos) e Luís Godinho (fotografias) realizaram ao Norte de Moçambique em Julho de 2021, conta 20 histórias e mostra 19 fotografias de crianças e jovens em tamanho real. Um deles, Tomás, então com 19 anos, não sobreviveu para ser fotografado nem para realizar o sonho de um dia ser piloto de aviões. Foi o pai, Fernando Sipitali, que contou o que lhe aconteceu: depois de ter fugido com a família da aldeia de Chinda, foi atingido com três balas em Mungué, quando se deslocava ao mercado para vender tomate, tentando "fazer crescer o pouco dinheiro que tinham". O pai, que ouviu os disparos, ouviu também as últimas palavras do filho: "Papá, eu já estou a morrer.".

Horácio, na altura com 22 anos e na 11ª classe (gostava de ser Técnico Agrícola, mas teme não ter dinheiro para seguir em frente), Ana, 16 anos, que gosta de jogar à bola e que na altura não estava a estudar ("Quando fugi não levei nada. Nem roupa, nem comida, nem o quê. Só Família."), Tony, 17 anos,  10ª classe (que adora maçanicas, um fruto pequenino que sabe a maça), Audácio, 8 anos, 2ª classe (que é "a primeira sorte" dos seus pais, um casal de professores, ou seja, o seu filho mais velho), ou Zaida, 14 anos, 5ª classe (que quando fugiu só levou consigo o livro que resultou do projecto Futuros Presidentes, onde aparece a sua história), são algumas das crianças retratadas. E ainda Joanina, Maria, Julião, Calton, Zena, Lura ou Ausse, que acha que "Sem estudar você não é ninguém."

Depois de ter inaugurado no Museu Nacional dos Coches, em Lisboa, em Novembro de 2021, e de ter estado no Jardim dos Professores, em Maputo, em Fevereiro deste ano (são daí as fotos desta publicação), Escola do Caminho Longo, uma exposição tão bela quanto comovente, pode ser vista agora em Carcavelos todos os dias até às 23h. Mais informações sobre a Helpo, que desde 2008 desenvolve a sua actividade em Portugal, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Guiné Bissau, e sobre a exposição aqui.











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