Lisboa: últimos dias de Eduardo Gageiro na Cordoaria
"De Gageiro se diz que descobre todos os dias Portugal, descrevendo o olhar mais íntimo de cada um de nós, portugueses. Rostos e paisagens – o muro, a ruga da pele – têm uma geometria dramática, aparecem sempre carregados de solidão e de passado. E há também a luz, uma certa luz que nenhum outro fotógrafo conseguiu aprender porque ninguém, como Gageiro, soube mostrar os nossos silêncios."
José Cardoso Pires, Lisboa, 1984
Factum, de Eduardo Gageiro, uma selecção de 167 fotografias tiradas em Portugal entre os anos 50 e o dia 25 de Abril de 2023, está por estes dias no Torreão Nascente da Cordoaria Nacional, em Lisboa. Realizada por ocasião dos 50 anos da Revolução de Abril, a exposição mostra algumas das imagens mais importantes do dia em que Portugal conheceu a liberdade, mas também fotografias de emigrantes, de manifestações religiosas, dos bastidores da política, do trabalho nos campos, nas fábricas, no mar ou na construção civil. E ainda um conjunto alargado de retratos de personalidade, entre políticos (Jorge Sampaio, que gostava de ter sido maestro, foi fotografado com uma batuta, Mário Soares rodeado de livros), actores (Mário Viegas foi fotografado com os seus primeiros bonecos, oferecidos pelo pai) ou escritores (Sophia de Mello Breyner Andersen foi fotografada com os filhos na sua casa em Lisboa).
Gageiro, de 89 anos, nascido em Sacavém, onde ainda mora e onde trabalhou como empregado de escritório na Fábrica de Loiça entre 1947 e 1957, tem andado pela Cordoaria a assinar o seu livro Caminhos de Esperança – Portugal 1950 – 2023, a conversar e a ser fotografado pelos visitantes ("Faça um plano americano. O chão não interessa nada.") ou a dizer que não fecha a loja, mostrando a máquina fotográfica que trás no bolso do casaco.
A exposição, gratuita, pode ser vista até 5 de Maio, das 10h às 13h e das 16h às 18h.
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