#7 Diário de um regresso a Moçambique – Nascer e final do dia no Bairro dos Pescadores
Não podia deixar Maputo sem regressar ao Bairro dos Pescadores, ali no final da marginal, depois do restaurante Costa do Sol. Já tinha ido ao bairro onde grande parte da população vive daquilo que o mar dá para embarcar para a Xefina Grande, a ilha logo em frente que foi posto de defesa da costa durante a I Guerra Mundial e que serviu de prisão e lugar de desterro para revoltosos vários. Já ali tinha comprado camarões acabados de pescar e que haviam de ser cozinhados e comidos no Mercado do Peixe. Já ali tinha estado a ver e a fotografar o nascer do sol. Desta vez, também cheguei cedo, eram 5h44 quando dei o primeiro click, e voltei ainda ao final da tarde. E o programa foi tranquilo: por ali fiquei de madrugada e de manhã a ver a partida dos pescadores – carregados de motores, de jerricans, de caixas – e depois ao final da tarde a aguardar o regresso a terra, com alguns barcos cheios de peixe, sobretudo de magumba, que tem fama de ser assim uma espécie de sardinha.
Voltei ao Bairro dos Pescadores de novo na companhia do amigo Sérgio Veiga, que é pescador, mergulhador, caçador, escritor e pintor (já por aqui contei a sua história), e que entre a ida de madrugada e a da tarde ainda deu uns retoques na sua última obra: um retrato de um louco que costuma andar pela marginal, vestido sempre com uma bata e um avental cor de rosa e um pano que vai mudando de cor a fazer de capa. E desta vez conheci Zulmira, que passa de alguidar à cabeça e me pede um retrato. E também Ronaldo Carlos Mahte, que se apresenta como "conservador dos barcos" mas que também vai à pesca quando está mais calor, que quando chega o Inverno não aguenta o frio. Ronaldo, 26 anos, quase 27 e à espera do primeiro filho lá para Agosto, joga futebol, tal como o seu xará português e seu ídolo. Joga desde os 10 e actualmente integra, com gente do seu bairro, a equipa UDC Costa do Sol, tendo já algumas medalhas no currículo. Aos domingo, Ronaldo vai à igreja, à Assembleia de Deus. Acha que não conseguiria viver sem acreditar em Jesus.
P.S. – Inaugura hoje, pelas 17h30, no Camões – Centro Cultural Português, em Maputo, a exposição de artes plásticas Sérgio Somos Nós, com obras de Sérgio Veiga e também trabalhos de familiares, amigos e antigos alunos, como Luís Ofício e Matine. Pode ser vista até 7 de Junho, de segunda a sábado das 10h às 17h, no número 720 da Julius Nyerere.
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