Quirimbas: pedaços de paraíso

Gosto da ideia de coleccionar ilhas. E na minha estreia em Moçambique, durante o último Inverno Austral (e também a minha estreia em ver um pôr-do-sol às cinco em ponto em pleno mês de Agosto), juntei à que será sempre uma incompleta colecção alguns cromos raros: alguns pedaços das Quirimbas. Localizado no oceano Índico e ao largo da província moçambicana de Cabo Delgado, o arquipélago faz fronteira a norte com a foz do rio Rovuma (do outro lado fica a Tanzânia) e a sul com a baía de Quissanga, a cerca de 20 quilómetros a norte da cidade de Pemba.
E Pemba, que se chamou Porto Amélia nos tempos coloniais (e um amigo, pouco antes de eu partir, a recordar o flat onde viveu durante o serviço militar, com vista para a casa e para os olhos verdes de Íris Maria, que viria a ser miss Cabo Delgado, miss Moçambique e miss Portugal), foi o ponto de partida para um voo inesquecível. Até ao Ibo, a ilha com mais História e com mais população, são 20 minutos. Até à pequenine e privada Medjumbe (onde funciona um caro hotel com 13 bungalows e onde não há população local) são mais 20. E eu a desejar que a viagem não acabe.
Depois de uns dias de puro descanso em Medjumbe, onde os moçambicanos ou residentes em Moçambique têm um bom desconto nos preços da estadia e onde me podia ter transformado em apanhadora de conchas ou ficado eternamente dentro de água, era preciso visitar o Ibo. É lá que nos deixa a pequena avioneta, depois de aterrar numa pista de gravilha e à beira de uma velha estrutura onde se lê Aeroporto do Ibo.
Na ilha principal, que tem ruas com nomes como Maria Pia, António José de Almeida ou Almirante Reis (e numa delas anuncia-se uma casa de chá que há muito deve ter deixado de existir), é preciso visitar o Forte de São João Baptista, que foi prisão da polícia política dos tempos coloniais e tem agora no seu interior artesãos que fazem trabalhos em prata (muitas vezes a partir de moedas encontradas no mar, de navios naufragados) e um arquivo histórico ao abandono. E também a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e o Forte de Santo António, que tem um escudo português na entrada. 
O contador de histórias João Baptista, que se apresenta como historiador do Ibo (“Ilha Bem Organizada” e outrora um importante entreposto comercial) e ex-funcionário público da administração portuguesa, é um morador ilustre da ilha (foi lá que nasceu também a Íris Maria dos olhos verdes). Visitá-lo e ficar no seu alpendre a ouvir o que tem para contar e a ver os livros que tem para mostrar é a melhor maneira de nos despedirmos das Quirimbas. 
O regresso ao continente fez-se de barco, devagarinho, até Tandanhangue, onde o assédio à chegada foi grande, para nos ajudarem a transportar as malas. E pelo caminho, encontro com um dhow cheio de pescadores, que navega em sentido contrário levado pelo vento. Diz-me o condutor da nossa embarcação que seguem até Mocimboa da Praia e que demorarão umas três noites a chegar lá. 


























De Maputo para Pemba, porta de acesso às Quirimbas, há vários voos da LAM por semana, a partir de cerca de 23 mil meticais ida e volta (cerca de 326 euros) e daí voos em pequenas avionetas para algumas das ilhas (informações na CR Aviation, na Alameda do Aeroporto ou através do +258844909734) e outros organizados pelos hotéis dos resorts. Para o Ibo, é possível apanhar um barco em Tandanhangue (sujeito às marés e tempo necessário para fazer a viagem um pouco incerto), uns quilómetros a norte de Pemba.

Toda a faixa costeira situada entre Macomia e Quissanga, a norte de Pemba, faz parte do Parque Nacional das Quirimbas, criado em 2002. E 11 das ilhas (cujo número total é uma coisa incerta: 50 segundo a Wikipédia, 29 ou 30 e tal segundo outras fontes) fazem parte do Parque Natural.

A Miti Miwiri Guest House, que significa duas árvores em suaíli, foi o local escolhido para a estadia no Ibo. É propriedade de um alemão, Jorg, que foi ali parar por causa de “uma longa história” (que não me chega a contar), e tem duas mangueiras em frente, volta e meia cheias de macacos. Tem quartos com mobiliário antigo (a cerca de 70 euros para dois), um jardim regado com água reciclada (os hóspedes são avisados à chegada que durante a noite pode haver algum mau cheiro), um restaurante e piscina.

O Cinco Portas (um bom sítio, com esplanada sobre o mar, para fazer as refeições) e o Ibo Island Lodge (bom para beber um copo e matar saudades da Internet) são outras opções de alojamento na ilha principal. A primeira mais econónima (preços no Booking a menos de 50 euros para dois), a segunda mais luxuosa (mais de 600 euros para dois).

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