Recordando a Cuba de Fidel
A já histórica e muito mediática visita de Barack Obama a Cuba (há 88 anos que um presidente norte-americano não pisava o solo desta ilha das Caraíbas) é pretexto para recordar uma das viagens que mais me emocionou. Nem a música sempre presente, os mojitos muito frescos e os banhos num mar quente me salvaram de regressar com uma espécie de aperto no peito.
Foi quase há 15 anos que percorri de carro grande parte da ilha, de Santiago de Cuba a Havana e com paragens na bela Baracoa, em Santa Clara, Camaguey, Trinidad (justamente Património Mundial da Humanidade), Holguín (onde achei que tinha ido parar a um campo de trabalhos forçados), Cienfuegos e na muito turística Varadero. Dessa viagem (que deu origem a uma reportagem publicada no Fugas, suplemento do jornal Público) retive a frase delirante de um jovem turista francês ("C'est superbe le socialisme!") e algumas das perguntas que os desesperados cubanos (desesperados mas também afáveis, generosos, cultos) me fizeram: como são tratadas na Europa as pessoas com sida, como se vive no resto do mundo, a que sabe o vinho ou como funciona a Internet. Retive também as suas confissões sobre como era necessário cometer pequenos delitos para sobreviver a um duro dia a dia numa Cuba onde tudo lhes faltava (e onde tudo nos pediam, de boleias a pentes, de sabonetes a máquinas de calcular) e alguns nomes impossíveis de esquecer. Como o de Alvarito, um miúdo que tinha no saco de brinquedos alguns paus, um tubo de pasta de dentes cortado na extremidade e super espremido e uma embalagem de comprimidos vazia. Ou o de Raul, a quem ofereci, quando me despedi dele e depois de termos conversado durante alguns dias, uns chinelos, uma bóia e mais uma ou outra coisa para o filho. E a quem deixei a minha morada e o meu telefone - que acabou por usar, embora indirectamente, duas vezes.
Na primeira, tinha regressado a Portugal há já algum tempo quando recebo um telefonema de Coimbra, de alguém a quem o meu amigo cubano tinha conseguido fazer chegar uma carta (era a madrinha portuguesa do seu filho) e a quem tinha pedido para me transmitir que estava bem e que agradecia mais uma vez as coisas que lhe tinha deixado em Cuba. Na segunda, uns quantos anos depois, novo telefonema, dessa vez para me informarem que o nosso amigo comum tinha conseguido mudar-se para Miami. Oxalá esteja bem.
muito fixe, Helena! faltava acrescentar ao comentário do francês "C'est superbe le socialisme!" - pour les autres...
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