Está a nascer na Ilha de Moçambique um Centro de Conhecimento
Cruzei-me com as fotografias de Moira Forjaz no edifício da Alfândega, na Ilha de Moçambique, durante as comemorações dos 200 anos da Ilha como cidade (ver aqui). E dois meses depois, na Fundação Fernando Leite Couto, em Maputo, assisti ao lançamento do seu livro Ilhéus (vejo agora que o meu exemplar está assinado com um "Para Helena. With best wishes"). No mês passado, regressei à Ilha para o 201º aniversário e encontrei Moira num sítio com Net, a transferir algumas coisas para mais tarde ver na Netflix. E decidi meter conversa com ela.
Moira Forjaz, fotógrafa (entre outras coisas) e desde 2012 habitante da Ilha, está neste momento empenhada em pôr de pé, no bairro Unidade Santo António da cidade de macuti (assim chamada por oposição à cidade de pedra e cal), um Centro de Conhecimento. Será este um sítio onde se ensinarão coisas básicas para a população ("Até lógica") e onde haverá aulas de português e inglês, actividades de música e pintura ou ensinamentos sobre como secar fruta para que esta possa ser consumida fora da época de produção.
Moira Forjaz, fotógrafa (entre outras coisas) e desde 2012 habitante da Ilha, está neste momento empenhada em pôr de pé, no bairro Unidade Santo António da cidade de macuti (assim chamada por oposição à cidade de pedra e cal), um Centro de Conhecimento. Será este um sítio onde se ensinarão coisas básicas para a população ("Até lógica") e onde haverá aulas de português e inglês, actividades de música e pintura ou ensinamentos sobre como secar fruta para que esta possa ser consumida fora da época de produção.
O futuro Wixutta, que significa conhecimento em língua macua, está já em estado avançado de construção e o que falta fazer não assusta Moira, que acha que é com trabalho "que se pára o vento" (e aqui recorda um pensamento do antigo Presidente Samora Machel). E o Wixutta vai ter, para além da sala de actividades, um anfiteatro para tertúlias e espectáculos, uma machamba para cultivo de frutas e legumes, um forno e uma casa de artistas com capacidade para seis pessoas e que servirá também para receber os voluntários que se queiram juntar ao projecto.
Enquanto decorre a construção, decorre também pelo bairro um inquérito para fazer um levantamento do número de filhos por casa (número que pode mudar rápido, tem consciência Moira) e para avaliar as necessidades e interesses de cada um. Todo o projecto será gerido por uma fundação familiar: Moira tem um filho e três netos (e ainda "três noras").
Enquanto decorre a construção, decorre também pelo bairro um inquérito para fazer um levantamento do número de filhos por casa (número que pode mudar rápido, tem consciência Moira) e para avaliar as necessidades e interesses de cada um. Todo o projecto será gerido por uma fundação familiar: Moira tem um filho e três netos (e ainda "três noras").
Moira Forjaz, a quem alguns amigos chamam "bife e bacalhau", brincando com a mistura de culturas que a caracteriza, nasceu em 1942 em Bulawayo, no Zimbabué, e formou-se em Artes Gráficas na Escola de Artes e Desenho de Joanesburgo. Esteve pela primeira vez em Moçambique, então na cidade de Lourenço Marques, em 1960, onde visitou o artista e arquitecto Pancho Guedes, de quem ficou amiga. Em 1964 conheceu José Forjaz, arquitecto, que viria a ser seu marido. Moira viveu em Lisboa (onde fundou e dirigiu a Galeria Moira, de 1989 a 2001), Nova Iorque, Mbabane, na Suazilândia, e Maputo (onde co-fundou o Festival Internacional de Música Clássica e a Associação Kulunguana). Pela Ilha de Moçambique (e pela sua calma) apaixonou-se quando a visitou pela primeira vez, pouco depois da independência. Trabalhou como realizadora de documentários e fotojornalista e é autora dos livros Muipiti, de 1983, Moçambique 1975 - 1985 e Ilhéus, este um retrato de alguns dos habitantes mais velhos da Ilha, feito ao longo de quase dois anos (seis dos retratados já não estão vivos). Moira participa por estes dias na Bienal de Veneza, com uma exposição retrospectiva.
Vi hoje uma pequena reportagem na RPP1 sobre a cidade da Ilha e também sobre a Moira e o Agualusa e foi assim que a pude conhecer. Fiquei muito sensibilizada com a sua vida, o seu percurso, o seu trajeto, o que fez, o que viveu e o continua a ser e a fazer, nomeadamente a Casa do Conhecimento. Obrigada e muitos parabéns. Mais uma Mulher que merece não ser esquecida.
ResponderEliminarSe tiver oportunidade conheça também o trabalho fotográfico da Moira. O livro Ilhéus vale muito a pena.
ResponderEliminarUma iniciativa sem par. Um grande abraço.
ResponderEliminarObrigado. Abraço também.
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