A Ilha de Moçambique e o mundo por José Eduardo Agualusa
O último livro do escritor angolano José Eduardo Agualusa (Huambo, 1960), Os Vivos e os Outros, que conta a história de 30 escritores que se reúnem para um congresso na Ilha de Moçambique e que aí acabam confinados durante sete dias por causa de uma ameaça de fim do mundo, foi o pretexto para o primeiro Era o Que Faltava de 2021, programa de entrevistas de Rui Maria Pêgo e Ana Martins, que passa a partir das 20h na Rádio Comercial.
Agualusa, que já viveu em Luanda, Lisboa (e onde volta e meia ainda vive), Rio de Janeiro, Berlim ou Goa (durante quatro meses, para escrever Um Estranho em Goa) e que há "três ou quatro anos" escolheu a primeira capital de Moçambique como lugar de residência mais permanente, conta nesta conversa que conheceu primeiro a "charmosa" Ilha através da poesia: de Camões, que pode ali ter terminado de escrever Os Lusíadas, de Bocage, que passou por lá. E que sempre se sentiu fascinado por ela, por ser um lugar de encontros, um lugar que foi recebendo pessoas de todos os lugares, um porto de ligação com o Oriente. Viver na Ilha, que tem uma unidade arquitectónica que é difícil encontrar numa cidade antiga, é um exercício de despojamento, que requer aprender a viver com o mínimo, acha Agualusa. E com a pandemia, que até agora não contabiliza casos na Ilha, ainda mais: os turistas de outros países praticamente desapareceram, muitos restaurantes e hotéis fecharam, há muita gente a sair.
A paixão antiga pela fotografia, que nasceu com a descoberta de uma velha máquina fotográfica de fole no sótão (em 2019 Agualusa editou um livro com fotografias da Ilha e poesia, este ano tem prevista uma exposição no Centro Cultural Português em Maputo), a amizade com o moçambicano Mia Couto, que para além de biólogo e escritor é agora "criador de corujas" ("Sem amigos é que não vale a pena"), as baleias que viu na praia do Tofo muito próximas da costa, durante o confinamento, o modo como escreve, sem saber o que vai acontecer, ou como em 2020, quando os aviões ficaram em terra, viajou através dos livros foram outros dos temas da conversa.
O podcast da entrevista, que decorreu a partir da Ilha de Moçambique, está disponível no site da Comercial. O primeiro capítulo de Os Vivos e os Outros, concluído em Novembro de 2019, pré-pandemia, e que marca o regresso de Daniel Benchimol dos romances A Sociedade dos Sonhadores Involuntários e Teoria Geral do Esquecimento como personagem, pode ser lido no Público.
P.S. - Dois dias depois da publicação deste post, entrevista de Agualusa no Público, feita em dois tempos, a primeira parte em Julho de 2020 na casa do escritor em Lisboa e agora em Janeiro a partir da Ilha de Moçambique, via e-mail. Pode ser lida aqui.
Camões na Ilha de Moçambique, Janeiro de 2016 |
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