Gorongosa: à espera que Sena encontre o leopardo macho

A Gorongosa conta desde 25 de Novembro de 2020 com um novo membro na fauna bravia do parque. Trata-se de Sena, ou "Graça da Terra", assim baptizada pelo administrador Pedro Muagura, uma fêmea de leopardo que voou 800 quilómetros entre a África do Sul e a província de Sofala, em Moçambique, acordada e dentro de uma caixa de madeira,  pois os grandes felinos não se dão bem com a sedação. Um dia destes foi apresentada ao mundo pelo The New York Times.

A fêmea de leopardo (e os leopardos viram recentemente o seu estatuto passar de "não ameaçados" para "vulneráveis", o primeiro grau de "em perigo", pela União Internacional para a Conservação da Natureza) chegou tranquila à Gorongosa, depois de três anos de formulários, de avanços e de recuos, graças a uma parceria com a Mpunulanga Parks and Tourism Authority e a WildlifeVets. A ideia é que Sena encontre em breve o único leopardo residente no parque, avistado pela primeira vez em 2018, depois de se ter mudado para a Gorongosa vindo da área circundante. Mais recentemente, foi apanhado por câmaras remotas e pegadas suas foram vistas pelos guias em algumas picadas perto de Chitengo.

Greg Carr, o empresário e filantropo norte americano responsável pela recuperação de uma Gorongosa devastada por anos de guerra civil e de caça furtiva, pensava que teria sorte se visse Sena por dois segundos quando esta fosse colocada em liberdade. Mas não foi isso que aconteceu, contou ao jornal norte americano. A fêmea de leopardo "saiu elegante e imponente", tendo permanecido à vista por alguns minutos. E para Paola Bouley, directora adjunta do grande projecto Conservação de Carnívoros, a chegada de Sena foi, depois de um ano difícil, "uma imensa sensação de alívio". 

A ida de Sena para a Gorongosa é mais uma etapa nos esforços feitos no sentido de restaurar a vida selvagem no parque. Os elefantes serão agora cerca de 800, os ameaçados mabecos, também conhecidos como cães de caça do Cabo ou cães selvagens africanos e reintroduzidos em 2018 (14 animais nesse ano e mais 15 no ano seguinte), contabilizam-se em 85 (no mundo existirão entre 6 000 a 7 000), os pangolins continuam a ser resgatados pela equipa da Gorongosa e devolvidos à natureza (foram 40 em 2020). Já os babuínos, na ausência de leopardos, os seus predadores primários, aumentaram para mais de 10 000.

Para o projecto da Gorongosa a restauração da vida selvagem e a conservação ambiental só fazem sentido se se investir no desenvolvimento socioeconómico das comunidades locais, se se trabalhar para retirar as populações da pobreza. Pelo que o balanco do último ano nesta matéria é também positivo. Mais de 100 000 das 200 000 pessoas que vivem na zona tampão tiveram acesso a cuidados de saúde. Os agricultores foram ajudados a iniciar o seu negócio de plantação de cajueiros e os produtores de café locais (mais de 500 famílias) plantaram mais de 300 000 árvores e colheram 6 000 quilos de grãos (o café da Gorongosa pode ser comprado no site ourgorongosa.com). Em 50 escolas primárias das 110 existentes em redor do parque e nas seis secundárias foram dinamizados Clubes de Raparigas (que visam melhorar as estatísticas que dizem que apenas uma em cada dez meninas concluem o secundário nas zonas rurais), Clubes de Professores ou Clubes de Jovens e mais 12 alunos começaram em Abril os seus estudos em Biologia da Conservação, na segunda edição do único mestrado do mundo que decorre dentro de um parque nacional.

Também em 2020 o parque, fechado por agora para actividades turísticas por causa da pandemia,  adicionou 270 000 mil hectares à paisagem que administra, estendendo os seus limites até ao rio Zambeze. O acordo foi assinado no final do ano entre o governo moçambicano e Greg Car. Se o parque vier a ter algumas centenas de leopardos, "eles vão precisar de um lugar para morar", disse ao The New York Times a propósito desta expansão.




© Piotr Naskrecki

© Piotr Naskrecki

© Piotr Naskrecki

© Piotr Naskrecki


Comentários

Mensagens populares