Duas semanas pela Suécia: quase levados pelo vento em Gotemburgo

Não chegámos a Gotemburgo a tempo da celebração oficial do seu 400º aniversário, que aconteceu no dia 4 de Junho, embora as comemorações decorram ao longo de todo o ano de 2021 e o final tenha sido adiado para 2023, por causa da Covid, altura em que todos poderão participar nos festejos sem restrições. Era já final de Agosto quando percorremos os 272 quilómetros que separam Malmo da segunda maior cidade sueca. E foi esse percurso feito com uma paragem em Helsingborg, cidade portuária e industrial que tem uma espécie de gémea dinamarquesa tida como mais charmosa do lado de lá do estreito de Oresund, Helsingor. E também um centro dedicado à arte contemporânea construído à beira mar, o Dunkers Kulturhus, uma torre que sobreviveu às guerras entre suecos e dinamarqueses e que hoje domina a cidade velha, a Karnan, e uma câmara municipal instalada num edifício que não passa despercebido (ou "majestoso", considera o Le Guide du Routard). Nas proximidades, a cerca de cinco quilómetros, tem um castelo que já foi residência de Verão de reis suecos e que é agora acessível ao público, Sofiero.

Tinha lido no site dedicado ao palácio, que recebe exposições e concertos ao ar livre no tempo mais quente, que em caso de vento forte o parque pode ser encerrado. Não chegou a ser, apesar da chuva que nos fez fugir de Helsingborg mas que acabou por acalmar e do vento que a acompanhava, e ainda bem. Sofiero tem cerca de 17 hectares de jardim, onde crescem rododendros (de centenas de espécies), dálias e rosas. Tem dois labirintos (e num deles vemos uns pais aflitos à procura de um filho, que acabou por aparecer rápido), esculturas a pontuar a paisagem, uma ponte que herdou o nome da princesa Sofia de Nassau (foi o seu marido, Óscar, que viria a ser rei, o responsável pela construção de Sofiero, em 1865), um Jardim da Cozinha, que já teve como função a produção de vegetais e que hoje é mais ornamental, ou um Jardim do Jubileu, inaugurado em 2016 para comemorar os 150 anos de Sofiero. É um prazer andar por ali, ir deitando uma vista de olhos sobre o mar e Oresund e acabar o passeio com uma sandes de camarões, um dos pratos típicos do almoço sueco, no Sofiero Glass Veranda & Café.






























O vento não chegou a fechar Sofiero mas animou a estadia em Gotemburgo, desde a chegada, ao final do dia, com direito a um pôr do sol sobre a zona do Porto, que é o maior da Suécia e da Escandinávia, até à partida depois de um dia inteirinho  passado a percorrer a cidade. Quase voámos na zona portuária, onde decorrem algumas obras e onde nos cruzámos com dois portugueses vestidos com coletes reflectores (e um a perguntar ao outro: "Então o que vais fazer? Mudar a residência portuguesa?"). É por ali que fica o Maritimam, que é um museu marítimo flutuante onde podem ser visitados navios militares e civis ou o submarino Nordkaparen. Também quase fomos com o vento no belo Tradgardsforeningem Park, um dos jardins da cidade, que tem um roseiral e uma Casa das Palmeiras, ou no cimo da colina de Skansberget, que acolhe a Skansen Kronan, uma fortificação do século XVII que tem no topo uma coroa dourada.

Entre passeios à beira dos canais (nessa altura, sem os habituais barcos turísticos que o costumam percorrer), pela chique rua de Avenyn, por Haga, antigo bairro operário hoje ocupado por restaurantes, cafés, lojas e galerias, ou em busca do Kronhuset, o mais antigo edifício não religioso da cidade, construído  no século XVII para servir como armazém militar e que agora é um espaço cultural, fomos procurando refúgio no Konstmuseet (o museu de arte de Gotemburgo que tem obras do pintor norueguês Munch, dos franceses Renoir, Monet ou Gauguin, do espanhol Picasso, de artistas suecos) ou na Tyska Christinae Kyrka, a igreja alemã construída no 1648 e na qual os sinos tocam, todos os dias, às 16h21, até ao final do ano, a música feita para celebrar os 400 anos da cidade: "Queremos Viver, Queremos Morrer em Gotemburgo". 

Visitámos também – sempre a pé, com o carro estacionado num parque perto da ópera, um edifício inspirado em navios e na paisagem portuária – o mais que centenário mercado de Saluhallen e encontrámos encerrado o Feskekorka, o mercado de peixe que por fora faz lembrar uma igreja e onde um aviso na porta informa que só abrirá em 2023, após obras de remodelação. Não almoçámos em Saluhallen por ainda ser cedo (havíamos de o fazer no elegante Coco Orangerie, na Linnegatan, dando seguimento à descoberta dos sabores suecos, dessa vez escolhendo um prato de kottbullar, as famosas almondegas, acompanhadas de puré de batata e de uma compota de bagas de mirtilho). Mas encontrámos por lá uma banca de enchidos e afins, onde um presunto ibérico Pata Negra convivia com "coração de alce", se o tradutor do Google não me tiver enganado, salame de javali ou rena fumada e uma lojinha que vendia as três versões do azeite Ethos, produzido por um amigo com as azeitonas das qualidades galega, cordovil e cobrançosa que colhe na Aldeia Viçosa, no Vale do Mondego.

Por explorar em Gotemburgo ficaram as Gothia Towers, os edifícios mais altos da cidade e onde pode o visitante beber um copo, tomar o pequeno almoço, almoçar ou jantar, com boa vista garantida (ver as várias opções aqui), as praias nos arredores ou as ilhas do arquipélago, que se dividem entre as do Norte (Hono, Bjorko ou Halso) e as do Sul, livres de carros (Donso ou Vrango). A viagem prosseguiu entretanto para o Museu da Volvo (interessante para todos e imperdível para fãs de carros) e  pela costa de Bohuslan, a costa ao norte de Gotemburgo que liga a Suécia à fronteira com a Noruega, tida como uma das paisagens mais belas do país. Mas isso ficará para o próximo post.





































 





A estadia em Gotemburgo foi no Clarion Collection Hotel Mektagonen, a cinco quilómetros do centro mas uma opção a considerar para quem estiver de carro. Um quarto para três com pequeno almoço e jantar custou 2972 coroas suecas para as duas noites (cerca de 291 euros).

O castelo de Sofiero está aberto de Outubro a Abril das 10h às 16h, com entrada gratuita. No resto do ano custa 120 coroas suecas, pagas obrigatoriamente em cartão. Sofiero é um dos muitos locais na Suécia cash free (aliás, o país é considerado o mais cashless do mundo).

O Museu da Volvo, que conta a história da empresa que produziu o seu primeiro carro em 1926, fica a cerca de 13 quilómetros da cidade e está aberto de segunda a sexta das 10h às 17h e sábados e domingos das 11h às 16h. Bilhetes para adultos a 120 coroas suecas.

Mais sobre a viagem de duas semanas pela Suécia aqui (Kalmar e ilha de Oland), aqui (Karlskrona, Ales Stenar, Ystad e Falsterbo) e aqui (Malmo e Lund).


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