Num só dia do início de Fevereiro de 2021, Maria João Sigalho, que nasceu em Moçambique em 1973 e que há quase dez anos regressou a um país que sentia como seu, apesar de lá ter vivido apenas em criança, recebeu, via WhatsApp, quase 40 fotografias de obras de sete artistas moçambicanos, à procura de um possível comprador. Entre eles estavam alguns dos primeiros amigos que fez quando decidiu deixar Portugal, onde estudou advocacia, e que conheceu nas ruas, durante os passeios que dava a pé por Maputo. E foi nessa altura, com a pandemia a fazer estragos enormes no país, com museus, galerias, restaurantes e espaço aéreo fechados e com os estrangeiros a partir, que teve a ideia de fazer alguma coisa. O não fazer nada representaria "muita gente em dificuldade".
E o que Maria João fez, pondo em prática a ideia de que "não se pode passar pela vida sem fazer a nossa parte", foi criar um grupo no WhatsApp, um grupo que agora se divide em dois, cada um com o mesmo conteúdo, por causa do limite máximo de 256 participantes imposto pela rede. Aí vai partilhando, semanalmente, geralmente aos domingos à tarde, as obras que lhe são enviadas com o grupo de amigos e amigos de amigos que se foram juntando a esta "movida solidária", uma iniciativa que permitiu aproximar pessoas, artistas e compradores. Uma "movida solidária" que Maria João gostava que se transformasse numa "movida cultural", que pudesse servir como uma mostra de arte moçambicana que permitisse aos artistas criar em liberdade. Pois "com pão no bolso, uma pessoa pensa melhor", como lhe disse um dia Ídasse, pintor e escultor.
O grupo Amigos dos Artistas, que na primeira semana contabilizou 50 amigos, sete artistas, 33 obras publicadas e seis vendidas, conta agora, 12 meses ou 53 semanas depois, com um balanço feliz: a presença de 48 artistas no activo e outros que se preparam para mostrar o seu trabalho, um total de 1101 obras partilhadas e 320 vendidas (sem intermediários nem comissões) e um conjunto de 600 amigos que por ali foram passando ou que por ali permanecem. E a que mais interessados podem aderir.
Também os artistas – e do grupo fazem parte nomes como Reinata Sadimba, os irmãos Santos e Rodrigo Mabunda, Fanhana, Ziggy ou Jamal – fazem um balanço positivo do projecto. Nino Trindade (Maputo, 1982), que durante 15 anos fez esculturas em madeira e que agora se dedica igualmente à pintura, soldadura ou pirogravura, acha que a iniciativa da Maria – "muito valiosa" – apareceu no momento certo, no pico da Covid, quando os fazedores de arte não tinham espaço para expor. E que "está no bom caminho".
Walter Zand (ou Zandamela), que me diz que já é madala, que em changana significa qualquer coisa como homem com mais de 40, quando lhe pergunto o ano em que nasceu (Maputo, 1978), acha que ter-se conseguido juntar vários tipos de artistas numa mesma plataforma, graças à iniciativa e ao "coração grandioso" da Maria João, tem sido um sucesso para quase todos, com bons resultados. Para si tem sido. Walter, que concorreu a um concurso da Swatch e viu o seu relógio Maningue Hope ser apresentado na Expo Dubai 2020, pensa ainda que a plataforma Amigos dos Artistas funciona como uma "montra". No "armazém", no seu caso no atelier em Boane, os artistas têm mais "calçado" à disposição dos interessados.
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O Baile da Paz, Djive |
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Mulher Divorciada, Fanhana |
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Pós Quarentena, Jamal |
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Superando, Ziggy |
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Maturidade, Neto |
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O Abraço II, João Timane |
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Magumba e Um Pouco Mais, Walter Zand |
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Leitura Que Me Encanta, Arlindo |
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Casal da Idade, Nino Trindade |
Informações sobre como aderir ao grupo ou sobre os contactos dos artistas através do formulário de contacto do blogue ou da caixa de comentários
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