#4 Quarenta dias pelos EUA: Los Angeles

Los Angeles, também conhecida como Cidade dos Anjos ou apenas LA, foi a segunda cidade grande – ou no caso, enorme  no roteiro desta viagem pelos Estados Unidos. Depois de quatro dias em São Francisco (aqui) e de outros tantos a descer a Costa do Pacífico (aqui), as duas noites que tínhamos para passar na cidade, num quarto anexo a uma casa em West Los Angeles, a umas cinco milhas do pier de Santa Monica, tinham de ser bem aproveitadas. LA, composta por cerca de 88 bairros, onde mais de 20 por cento dos seus habitantes vivem abaixo do limiar da pobreza, é a segunda cidade com mais população dos EUA, a seguir a Nova Iorque, e uma das maiores em área, com cerca de 1300 quilómetros quadrados. E a fama de não ser fácil de visitar, de amar à primeira vista ou de ser capaz de provocar desilusões parece ser proporcional ao seu tamanho.

E o que fazer então quando há apenas 48 horas certinhas para passar em LA? Depois de algumas leituras sobre a cidade, num Condé Nast Traveler  antigo, de 2007, onde se escreve que quem visita LA o faz em busca de lugares míticos e de um bairro ainda mais famoso do que a própria cidade, Hollywood, num Le Guide du Routard sobre a Califórnia comprado em 2012 e ainda bastante actual (e a prova de que era antigo o plano de ir a este lado dos EUA) ou em textos mais recentes de alguns blogues, sabia onde não podia deixar de ir  e que muito ia ficar por ver. Do Alma de Viajante retive as sugestões de uma portuguesa que vive na cidade e que completou a frase "Não podem sair de Los Angeles sem..." com ir a Malibu, comer num In–NOut, ir ao Griffith Observatory ver as vistas sobre a cidade e assistir a um concerto no Hollywood Bowl, que é um anfiteatro ao ar livre com 101 anos, localizado no bairro de Hollywood Hills e com capacidade para cerca de 17 500 pessoas. Destas sugestões, só a última ficou por fazer.

A chegada a Los Angeles, numa sexta feira à tarde, foi feita por Malibu, via Pacific Coast Highway, um dos sítios preferidos das estrelas e dos milionários em geral. E em Malibu Colony ficámos a ver o vai e vem dos surfistas, em La Costa Beach molhámos os pés numa água do Pacífico a 13 graus celsius (57 fahrenheit) e admirámo-nos com as casas milionárias construídas sobre pilotis numa minúscula faixa de areia, entre a movimentada estrada e o mar. Ali ao lado, em Carbon Beach, também conhecida como Billionaire's Beach, bateu-se em 2018 um recorde em LA: Peter Morton, empresário e cofundador do Hard Rock Cafe, vendeu a sua propriedade a um magnata do gás natural, Michael S. Smith, por 110 milhões de dólares, noticiou na altura o  Los Angeles Time. De Malibu, seguiu a viagem para Westwood Village, um dos bairros mais antigos da cidade, zona de cinemas, teatros e restaurantes e onde provámos ao jantar os hambúrguers da In-N-Out, uma empresa familiar que nasceu há 75 anos nos arredores da cidade, em Baldwin Park, e que hoje é gerida por Lynsi, uma das neta dos fundadores Harry e Esther Snyder. Terá tido em tempos "um menu secreto" mas tem hoje um not so secret menu, que pode ser consultado localmente ou no site.

Museus em abundância são outro dos atractivos de LA: há-os dedicados ao cinema (caso do Hollywood Museum, onde podem ser vistas roupas usadas por Bette Davis ou Marylin Monroe, ou do Hollywood Heritage Museum, consagrado ao cinema mudo), à tolerância (o Museum of Tolerance, sobretudo sobre o holocausto) ou à história natural (caso do La Brea Tar Pits, que tem uma curiosa colecção de fósseis). Ficámo-nos pelos dedicados à Arte e mesmo assim, dos grandes, faltou o LACMA, o Los Angeles County Museum of Art, que tem um fundo de cerca de 150 mil obras. No primeiro dia riscámos da lista o Getty Center, onde vimos quadros de Monet ou Cézanne e partilhámos os Lírios de Van Gogh com uma multidão, e a Getty Villa, construída como uma réplica da antiga Villa dei Papiri, sendo que os dois resultam do legado de Jean Paul Getty (1829 – 1976), um industrial do petróleo e colecionador de arte e antiguidades que desde novo viajou por Itália e pela Grécia. No último dia, impossível não passar pelo The Broad, um museu de arte contemporânea e do pós guerra aberto em 2015 para mostrar a colecção reunida ao longo de cinco décadas por Eli e Edythe Broad, empresários e filantropos que antes do The Broad emprestavam obras de arte a instituições em todo o mundo. Por ali, há obras de Roy Lichtenstein, Andy Warhol ou Jeff Koons, com o Balloon Dog (Blue) em destaque.

O The Broad, localizado em Downtown, bairro de arranha-céus modernos e frequentado durante o dia por executivos (e casa de muitos dos sem abrigo de LA à noite), é vizinho do MOCA – Museu de Arte Contemporânea, que alberga obras de artistas americanos e europeus. E também do Walt Disney Concert Hall, a sede da Orquestra Filarmónica de LA desenhada pelo arquiecto Frank Gehry, que  projectou também o Guggenheim, em Bilbau. O Concert Hall, que custou 274 milhões de dólares, é uma homenagem a Walt Disney feita graças a uma doação da sua viúva, Lillian. Pode ser visitado, se houver tempo, em modo self-guided audio tour (gratuito, mais informações aqui). Se não houver, veja-se pelo menos por fora.

Dos "bairros" de LA, sendo que alguns têm estatuto de cidade, era obrigatório passar por Santa Monica, por Venice, por Los Feliz, onde fica o Griffith Park, por Hollywood – e também por Beverly Hills, com a sua Rodeo Drive, a rua mais cara ou das mais caras do mundo, que entretanto ficou por ver. Santa Monica, à beira do Pacífico, com a praia em final de Abril envolta em neblina mas cheia de vendedores como se estivéssemos numa praia mexicana (ou não fosse a população da cidade constituída em cerca de metade por hispânicos), é a etapa final da famosa Route 66, que tem uma placa a apelar às selfies no pier, junto ao parque de diversões Pacific Park. E como era domingo, era dia do Main Street Farmers Market, com bancas de morangos ou de girassóis, tudo cem por cento california grown, e a actuação de uma banda de gente jovem que comemorava o Dia Internacional do Jazz. 

Um pouco abaixo de Santa Monica, a umas duas ou três milhas, fica Venice, que nasceu da ideia louca de um empresário da indústria de tabaco, Abbot Kinney, que no início do século XX quis fazer ali uma Venice of America, uma espécie de cidade resort à beira mar. Chegou a ter 16 milhas de canais, passeios em gondolas, um comboio em miniatura e uma grande piscina coberta, com água do mar. Hoje, depois de um incêndio a ter destruído parcialmente em 1920 e de uns anos mais tarde por ali ter sido descoberto petróleo (cuja exploração terminou no fim dos anos 60), Venice tem pinturas murais, uma pista ciclável ao longo da praia, um parque de skate ou um ginásio ao ar livre, o Muscle Beach. E tem ainda uma meia dúzia de canais, o grande canal e outros mais pequenos, todos atravessados pela Dell Avenue. À beira destes, há casas onde apetece morar e não longe delas tendas de quem não tem casa, uma com uma faixa onde se lê This is My Town. 

Los Angeles tem um parque gigante, proporcional à cidade, sendo que o Le Guide du Routard escreve que é mesmo o maior parque municipal do mundo. E nós lá fomos no nosso carro alugado, sábado ao final do dia, com a parte final de ascensão ao observatório Griffith a ser feita a pé, mais ou menos uma milha e meia sempre a subir. O Griffith Observatory, uma das atracções do parque, que tem também museus, o zoo de LA, trilhos de caminhada ou para andar a cavalo, foi construído graças ao financiamento do emigrante francês Griffith J. Griffith, que doou dinheiro à cidade. Por ali, assistimos ao final de uma Public Star Party, evento que acontece uma vez por mês com voluntários de várias associações ligadas à astronomia a partilhar os seus telescópios e conhecimento com os visitantes, e a um pedido de casamento, com o rapaz de joelhos e um anel na mão e turistas a aplaudir. Só não fomos até ao monte Hollywood, onde estão as célebres letras, que para isso era preciso caminhar uns dez quilómetros ida e volta. Mas acabámos a noite em Hollywood.

Tínhamos de dedicar algum tempo ao bairro cuja história ligada ao cinema começou num dia de Dezembro de 1913, quando Cecil B. De Mille, da Famous Players Lasky (que havia de ser a Paramount), ali chegou para filmar The Squaw Man, a primeira longa metragem (muda). E onde ao longo dos anos se foram instalando as grandes empresas cinematográficas americanas. Vimos Hollywood à noite, com o glamour das luzes, onde jantámos num asiático que não ficou para a história, por se encontrar esgotado o The Musso and Frank Grill, o mais antigo restaurante de Hollywood, que festejou 100 anos em 2019 e foi frequentado por Hemingway ou William Faulkner. Vimos as primeiras das 2765 estrelas do Walk of Fame, que se estendem por quase três quilómetros ao longo do Hollywood Boulevard, e vimos uma coroa de flores junto à estrela de Harry Belafonte, actor e músico falecido uns dias antes, a 25 de Abril, aos 96 anos. 

Voltámos a Hollywood de dia, para espreitar o Grauman's Chinese Theater, onde acontece a maior parte das estreias mundiais e que tem à frente marcas de mãos e pés de celebridades, como Marilyn ou Schwarzenegger, cravadas em cimento, para ver a fachada do Doolby Theater, que recebe anualmente a cerimónia dos Óscares e que fica dentro de um centro comercial, e descobrir mais algumas estrelas do passeio da fama: de Anthony Hopkins, de Kevin Costner ou de Susan Sarandon, a Louise de Thelma & Louise. Tinha sido uma boa maneira de dizer adeus a LA, se não tivéssemos dado ainda um salto ao El Pueblo de Los Angeles e à rua onde a cidade nasceu, em  1781, a Olvera Street. E num domingo à tarde era grande a festa mexicana por ali.











































Esta viagem de 4859 milhas (ou 7820 quilómetros) pelos Estados Unidos foi feita num carro alugado na Sixt para 36 dias, um BMW 330E, que custou o equivalente a 2200 euros (56,41 euros por dia). 

O Getty Center encerra às segundas e na maior parte dos feriados e está aberto de terça a sexta e aos domingos das 10h às 17h30 e aos sábados das 10h às 20h. A Getty Villa encerra às terças e nos feriados e está aberta nos restantes dias das 10h às 17h. A entrada é gratuita para os dois museus, mas é necessário fazer uma reserva prévia no site (aqui). O estacionamento é pago e custa 20, 15 (depois das 15h) ou 10 dólares (ao sábado depois das 18h ou para eventos nocturnos). A mesma tarifa dá para estacionar nos dois se a visita for feita no mesmo dia, basta pedir um voucher no serviço de informações do que se visitar primeiro. Do Getty Center, localizado no bairro de Brantwood, para a Getty Villa, que fica junto à Pacific Coast Highway, perto de Malibou, são 20 a 45 minutos de carro, dependendo do trânsito.

The Broad está aberto às terças, quartas e sextas das 11h às 17h, quintas das 11h às 20h e sábados e domingos das 10h às 18h. A entrada é gratuita, sujeita a um registo prévio no site, mas há exposições e eventos que são pagos. O MOCA - Museum of Contemporary Art, mesmo em frente ao The Broad, também tem entrada gratuita mas um custo para as special exhibitions de 18 dólares. Está aberto às terças, quartas e sextas das 11h às 17h, quintas das 11h às 20h e sábados e domingos das 11h às 18h.

O Griffith Observatory abre as portas aos visitantes de terça a sexta das 12h às 22h e aos sábados e domingos das 10h às 22h. A entrada no edifício e para as exposições é gratuita, os shows no Samuel Oschin Planetarium têm um custo de 6 a 10 euros. Mais informações no site.

O Walk of Fame, gerido pela Câmara de Comércio de Hollywood e que presta homenagem às estrelas do cinema, teatro, televisão, rádio e música, cresce todos os anos. O último a ter direito a uma estrela, na categoria cinema, foi o actor Macaulay Culkin, numa cerimónia que se realizou no dia 1 de Dezembro. As datas das cerimónias futuras podem ser consultadas aqui.

Na Califórnia, há mercados de agricultores por todo o lado. E só em Santa Monica há quatro: às quartas na Arizona & 2nd Street, aos sábados na Arizona & 3nd Street e na Virginia Avenue e aos domingos na Main Street. Sempre das 8h às 13h ou das 8.30 às 13h30. Mas o The Original Farmers Market de Los Angeles, criado em 1934 por uma dúzia de agricultores e alguns comerciantes, é na W 3rd Street e está aberto todos os dias (mais informações aqui).

Mais informações sobre LA no site Discover Los Angeles

Mais sobre a viagem aqui (40 dias pelos EUA), aqui (São Francisco), aqui (de São Francisco a Los Angeles) e aqui (São Diego). Seguir no Facebook ou no Instagram para acompanhar publicações futuras.


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