Robben Island: visita à ilha-prisão mais famosa do mundo
"Enjoy your time in jail" diz-nos o guia depois de uma apresentação sobre a prisão de alta segurança que funcionou em Robben Island de 1963 a 1991 e antes de seguirmos caminho para o interior dos diversos espaços. A visita à ilha-prisão onde Nelson Mandela esteve preso quase 19 dos 27 anos que durou o seu encarceramento e agora Património Mundial da Humanidade (desde 1999) vale a pena pela História. Mas valeria mais ainda se os visitantes tivessem liberdade de movimentos e se a visita (que mesmo assim dura três horas, com o percurso de barco incluído) não nos deixasse com a sensação de ter sido feita a correr.
Uma vez desembarcados, após uma viagem de talvez mais de meia hora com partida do Victoria e Alfred Waterfront, perto da Torre do Relógio, seguem os visitantes num autocarro que tem a primeira paragem junto a uma mesquita e aos edifícios que nos anos 60 começaram a receber presos políticos e presos de delitos comuns (mais tarde foram separados, depois de os primeiros tentarem convencer, com sucesso, os segundos a aderir às suas causas). Aí, ouvimos as explicações do guia, ele próprio um ex-preso político, sobre as condições de vida dos reclusos (nos primeiros tempos dormiam no chão e só no fim dos anos 70 começaram a ter camas, os contactos com o exterior eram muito reduzidos, com direito a uma curta visita de seis em seis meses e a uma também curta carta no mesmo período) ou sobre a organização das diferentes secções (de A a G) e dos deveres e privilégios em cada uma delas. Percorremos na sua companhia o que foi então o hospital, os dormitórios comuns, as casas de banho, as celas de isolamento (sendo que a de Mandela, equipada com um balde vermelho, um banco azul, um tapete a servir de cama, um cobertor e um prato e uma tigela de latão é, claro, a mais procurada e a mais fotografada) e o pátio usado como recreio - onde Mandela é mais uma vez a figura em destaque, com o guia a contar como escondeu e passou para o exterior os manuscritos da sua biografia ou como cuidava ali de um pequeno jardim.
Mas para além de Mandela estiveram em Robben Island muitos outros presos políticos (no fim dos anos 70 andariam perto dos 4000). E numa zona de celas individuais podem ver-se alguns objectos dos antigos ocupantes (uns sapatos, um cinto ou um documento pessoal) ou lerem-se as histórias de alguns dos detidos. Billy Nair, preso entre 1964 e 1984, fala do frio que passavam nas celas ("We froze, froze, froze, all the time") ou no bloco de isolamento da secção B (onde afirma que muitos apanharam reumatismo ou artrites), Sindile Mngqibisa (1963-1978) recorda um incidente à volta de uma chave-mestra como a sua primeira tentativa para fugir da prisão e Junior Nkosi (1964-1976) conta como era negado aos presos políticos qualquer acesso aos jornais e às notícias. Como o tempo é pouco, muitos usam os telemóveis ou tablets para fotografar as histórias e talvez lê-las depois. E eu faço o mesmo, quando percebo que o guia nos diz para seguirmos viagem.
A visita a Robben Island inclui um passeio em autocarro pela ilha, na companhia de outro guia - no caso uma guia que falava a 100 à hora -, com passagem por um cemitério exclusivo para as vítimas da lepra (a ilha acolheu em tempos uma leprosaria), por uma pedreira que contava com a mão de obra dos reclusos (há várias na ilha e a mais antiga funcionou de 1652 a 1963), pela Garrison Church, com uma bandeira cor-de-rosa hasteada, sinal de que nasceu recentemente uma menina na ilha (e que foi construída em 1841 pelos presos de então), pela escola aberta em 1894 e entretanto desactivada (os estudantes residentes vão agora de barco para o continente, excepto quando o mau tempo os retém por ali), por alguns edifícios usados durante a Segunda Guerra ou o que resta deles (um foi convertido nos anos 50 numa prisão de média segurança) e pelas casas dos residentes, sobretudo funcionários do Museu em que toda a ilha está transformada. E se percebi bem a resposta da apressada guia à minha pergunta, são cerca de 160 os habitantes actuais.
Antes de rumar ao Murray's Bay Harbour para apanhar o barco de regresso ao continente (na volta calhou-nos o Dias), permitiram-nos uma paragem junto ao mar e ao edifício Alpha 1, agora um café e outrora a casa onde era bombeada a água que abastecia a ilha. E é ali que me lembro de ter pensado que apesar do modelo da visita não ser perfeito, esta vale bem a pena. Pela História (que remonta aos tempos mais antigos ao apartheid, uma vez que foi usada pelos primeiros colonizadores como prisão para rebeldes políticos e outros ou gente com problemas mentais) mas também pelas vistas sobre a Cidade do Cabo e a Table Mountain, lá ao fundo.
Uma vez desembarcados, após uma viagem de talvez mais de meia hora com partida do Victoria e Alfred Waterfront, perto da Torre do Relógio, seguem os visitantes num autocarro que tem a primeira paragem junto a uma mesquita e aos edifícios que nos anos 60 começaram a receber presos políticos e presos de delitos comuns (mais tarde foram separados, depois de os primeiros tentarem convencer, com sucesso, os segundos a aderir às suas causas). Aí, ouvimos as explicações do guia, ele próprio um ex-preso político, sobre as condições de vida dos reclusos (nos primeiros tempos dormiam no chão e só no fim dos anos 70 começaram a ter camas, os contactos com o exterior eram muito reduzidos, com direito a uma curta visita de seis em seis meses e a uma também curta carta no mesmo período) ou sobre a organização das diferentes secções (de A a G) e dos deveres e privilégios em cada uma delas. Percorremos na sua companhia o que foi então o hospital, os dormitórios comuns, as casas de banho, as celas de isolamento (sendo que a de Mandela, equipada com um balde vermelho, um banco azul, um tapete a servir de cama, um cobertor e um prato e uma tigela de latão é, claro, a mais procurada e a mais fotografada) e o pátio usado como recreio - onde Mandela é mais uma vez a figura em destaque, com o guia a contar como escondeu e passou para o exterior os manuscritos da sua biografia ou como cuidava ali de um pequeno jardim.
Mas para além de Mandela estiveram em Robben Island muitos outros presos políticos (no fim dos anos 70 andariam perto dos 4000). E numa zona de celas individuais podem ver-se alguns objectos dos antigos ocupantes (uns sapatos, um cinto ou um documento pessoal) ou lerem-se as histórias de alguns dos detidos. Billy Nair, preso entre 1964 e 1984, fala do frio que passavam nas celas ("We froze, froze, froze, all the time") ou no bloco de isolamento da secção B (onde afirma que muitos apanharam reumatismo ou artrites), Sindile Mngqibisa (1963-1978) recorda um incidente à volta de uma chave-mestra como a sua primeira tentativa para fugir da prisão e Junior Nkosi (1964-1976) conta como era negado aos presos políticos qualquer acesso aos jornais e às notícias. Como o tempo é pouco, muitos usam os telemóveis ou tablets para fotografar as histórias e talvez lê-las depois. E eu faço o mesmo, quando percebo que o guia nos diz para seguirmos viagem.
A visita a Robben Island inclui um passeio em autocarro pela ilha, na companhia de outro guia - no caso uma guia que falava a 100 à hora -, com passagem por um cemitério exclusivo para as vítimas da lepra (a ilha acolheu em tempos uma leprosaria), por uma pedreira que contava com a mão de obra dos reclusos (há várias na ilha e a mais antiga funcionou de 1652 a 1963), pela Garrison Church, com uma bandeira cor-de-rosa hasteada, sinal de que nasceu recentemente uma menina na ilha (e que foi construída em 1841 pelos presos de então), pela escola aberta em 1894 e entretanto desactivada (os estudantes residentes vão agora de barco para o continente, excepto quando o mau tempo os retém por ali), por alguns edifícios usados durante a Segunda Guerra ou o que resta deles (um foi convertido nos anos 50 numa prisão de média segurança) e pelas casas dos residentes, sobretudo funcionários do Museu em que toda a ilha está transformada. E se percebi bem a resposta da apressada guia à minha pergunta, são cerca de 160 os habitantes actuais.
Antes de rumar ao Murray's Bay Harbour para apanhar o barco de regresso ao continente (na volta calhou-nos o Dias), permitiram-nos uma paragem junto ao mar e ao edifício Alpha 1, agora um café e outrora a casa onde era bombeada a água que abastecia a ilha. E é ali que me lembro de ter pensado que apesar do modelo da visita não ser perfeito, esta vale bem a pena. Pela História (que remonta aos tempos mais antigos ao apartheid, uma vez que foi usada pelos primeiros colonizadores como prisão para rebeldes políticos e outros ou gente com problemas mentais) mas também pelas vistas sobre a Cidade do Cabo e a Table Mountain, lá ao fundo.
No site dedicado à ilha pode fazer-se uma visita virtual por todos os pontos mais importantes ou ouvir histórias de antigos presos políticos. Ou ainda comprar bilhetes (aqui), o que deve ser feito com alguns dias de antecedência se se quer mesmo garantir a viagem. O preço por pessoa é de 300 rands (cerca de 17 euros). Os barcos partem das docas da Cidade do Cabo às 9h, 11h, 13h e 15h (ou com mais frequência em época alta), excepto em caso de mau tempo.
Christo Brand, o guarda de Nelson Mandela de 1978 a 1990, é o gerente da loja de recordações de Robben Island, informa o Le Routard dedicado à África do Sul (ou era em 2013/2014, data da edição onde leio esta informação). Durante os anos de contacto com o então líder do ANC prestou-lhe vários serviços que lhe podiam ter custado o posto de trabalho (entrega de correio, de comida ou de objectos proibidos). Mandela retribuiu com a doação de uma bolsa de estudo para os seus filhos e com um convite para o jantar oficial do 20.º aniversário da sua libertação.
Mandela contou com a ajuda de um companheiro de prisão para passar para o exterior o manuscrito da sua biografia, escrita em Robben Island nos anos 70. Quando foi eleito Presidente da República nomeou-o para ministro dos Transportes.
Christo Brand, o guarda de Nelson Mandela de 1978 a 1990, é o gerente da loja de recordações de Robben Island, informa o Le Routard dedicado à África do Sul (ou era em 2013/2014, data da edição onde leio esta informação). Durante os anos de contacto com o então líder do ANC prestou-lhe vários serviços que lhe podiam ter custado o posto de trabalho (entrega de correio, de comida ou de objectos proibidos). Mandela retribuiu com a doação de uma bolsa de estudo para os seus filhos e com um convite para o jantar oficial do 20.º aniversário da sua libertação.
Mandela contou com a ajuda de um companheiro de prisão para passar para o exterior o manuscrito da sua biografia, escrita em Robben Island nos anos 70. Quando foi eleito Presidente da República nomeou-o para ministro dos Transportes.
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