Dunes de Dovela: uma aventura no mato
"O menino foi à escola. Os meninos foram à escola. A rapariga casou. As raparigas casaram". Era dia 9 de Abril e estávamos numa das salas da Escola Primária do 1º e 2º Graus de Dovela, frequentada por 488 alunos, e as quatro frases escritas no quatro de uma aula de português dedicada aos artigos definidos e indefinidos e aos pronomes demonstrativos invariáveis não me deixaram indiferente. Comentei com o professor, de 24 anos e a dar aulas desde os 19, se estes seriam bons exemplos, tendo em conta que Moçambique se encontra entre os países com maior prevalência de casamentos prematuros no mundo (e logo com altas taxas de abandono escolar precoce). Disse-me que estavam a interpretar um texto, pelo que fiquei sem saber se as frases teriam ou não um enquadramento feliz.
Feliz foi a estadia de três dias no bungalow três do eco lodge Dunes de Dovela, localizado entre Inharrime e Inhambane, e que terminou com a visita à escola local. À qual já regressaremos, mas antes disso que fique registado que valeu muito a pena fazer o desvio de 12,5 quilómetros a partir da Estrada Nacional 1, mato adentro e em estrada de terra batida e no final de areia solta, rumo a um alojamento onde a tranquilidade é garantida. O Dunes de Dovela, gerido pelos franceses Thomas Bruneau (de Tours) e Alexandra Polleau (natural de uma pequena cidade perto de Angers mas parisiense desde os dez anos e em Moçambique há nove), disponibiliza três casinhas com boa vista sobre o nascer do sol, as dunas, a floresta costeira e o mar, quatro tendas construídas sobre plataformas de madeira e com WC e duche partilhados e uma cozinha francesa "tropicalizada", feita de produtos locais e onde abundam as lagostas, as beringelas e os maracujás. Ao largo fica a praia de Manhame, onde se forma na maré baixa uma piscina natural, protegida por recifes e habitada por peixes que mal precisam de uma máscara de snorkeling para serem vistos.
Este lodge, perfeitamente enquadrado na paisagem e ao qual a luz eléctrica só chega através de gerador e durante algumas horas por dia, nasceu depois de Thomas, que na altura trabalhava na África do Sul, ter visitado Moçambique em 2003 como turista e nessa altura ter encontrado um país com “muito espaço vazio”. Pelo que regressou em 2007 já com a “ideia louca” de descobrir um terreno para avançar com a construção de um alojamento que respeitasse as pessoas e a natureza à volta. Depois de três anos de construção, que arrancou com o furo de água que hoje abastece o local, e com a mão de obra a ser assegurada por algumas dezenas de trabalhadores da comunidade, a inauguração aconteceu em Junho de 2011, com direito a cerimónia tradicional e a presença da população.
E conhecer a zona e a comunidade à volta, pertencente ao povo chope, que vive sobretudo nos distritos de Zavala e Inharrime e que tem uma língua própria, é uma das actividades propostas a quem ali se hospeda. É possivel partilhar uma refeição, talvez de xima ou matapa, com uma família, visitar as áreas cultivadas à volta da lagoa Dongane, fazer caminhadas em percursos sinalizados num terreno de 100 hectares, com ou sem guia, partir à descoberta das espécies de aves ou assistir à migração de baleias, que ocorre mais ou menos de Junho a Outubro.
Nós fizemos, na companhia de Thomas e do cão caju, uma caminhada para ver o pôr-do-sol e suámos durante uma hora e meia para acompanhar a sua marcha. E com Alexandra fomos à escola, onde, para além da aula de português, se aprendiam, nesse dia, os números de 1 a 10. A EPC – Escola Primária Completa de Dovela tem como director Absalão Madusse Bernardo (que me escreve o nome num papel com uma caligrafia irrepeensível), alunos até à 7ª classe (a partir da 8ª é preciso andar vários quilómetros até Inhacongo), 12 turmas e seis salas, uma de tijolo e de construção antiga, igual às de muitas escolas primárias de outros pontos do país, três de caniço e duas de tijolo construídas como contrapartida do terreno do Dunes de Dovela.
É numa das salas de caniço que encontro Olívia, uma rapariga da aldeia contratada para compensar o absentismo dos professores e para dinamizar algumas actividades com as crianças. Foi a ela que entreguei alguns jogos, um puzzle de 500 peças, entretanto feito por um dos docentes e a prova disso a ser-me enviada em fotografia por e-mail, e alguns livros da colecção Uma Aventura, de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada para a biblioteca em formação. Quando me despeço de Alexandra e lhe desejo boa sorte para o Dunes de Dovela e para os projectos com a comunidade diz-me que as "duas senhoras" bem podiam escrever uma aventura sobre a sua história em Moçambique. E deixou até uma sugestão de título: "Uma Aventura no Mato."
Feliz foi a estadia de três dias no bungalow três do eco lodge Dunes de Dovela, localizado entre Inharrime e Inhambane, e que terminou com a visita à escola local. À qual já regressaremos, mas antes disso que fique registado que valeu muito a pena fazer o desvio de 12,5 quilómetros a partir da Estrada Nacional 1, mato adentro e em estrada de terra batida e no final de areia solta, rumo a um alojamento onde a tranquilidade é garantida. O Dunes de Dovela, gerido pelos franceses Thomas Bruneau (de Tours) e Alexandra Polleau (natural de uma pequena cidade perto de Angers mas parisiense desde os dez anos e em Moçambique há nove), disponibiliza três casinhas com boa vista sobre o nascer do sol, as dunas, a floresta costeira e o mar, quatro tendas construídas sobre plataformas de madeira e com WC e duche partilhados e uma cozinha francesa "tropicalizada", feita de produtos locais e onde abundam as lagostas, as beringelas e os maracujás. Ao largo fica a praia de Manhame, onde se forma na maré baixa uma piscina natural, protegida por recifes e habitada por peixes que mal precisam de uma máscara de snorkeling para serem vistos.
Este lodge, perfeitamente enquadrado na paisagem e ao qual a luz eléctrica só chega através de gerador e durante algumas horas por dia, nasceu depois de Thomas, que na altura trabalhava na África do Sul, ter visitado Moçambique em 2003 como turista e nessa altura ter encontrado um país com “muito espaço vazio”. Pelo que regressou em 2007 já com a “ideia louca” de descobrir um terreno para avançar com a construção de um alojamento que respeitasse as pessoas e a natureza à volta. Depois de três anos de construção, que arrancou com o furo de água que hoje abastece o local, e com a mão de obra a ser assegurada por algumas dezenas de trabalhadores da comunidade, a inauguração aconteceu em Junho de 2011, com direito a cerimónia tradicional e a presença da população.
E conhecer a zona e a comunidade à volta, pertencente ao povo chope, que vive sobretudo nos distritos de Zavala e Inharrime e que tem uma língua própria, é uma das actividades propostas a quem ali se hospeda. É possivel partilhar uma refeição, talvez de xima ou matapa, com uma família, visitar as áreas cultivadas à volta da lagoa Dongane, fazer caminhadas em percursos sinalizados num terreno de 100 hectares, com ou sem guia, partir à descoberta das espécies de aves ou assistir à migração de baleias, que ocorre mais ou menos de Junho a Outubro.
Nós fizemos, na companhia de Thomas e do cão caju, uma caminhada para ver o pôr-do-sol e suámos durante uma hora e meia para acompanhar a sua marcha. E com Alexandra fomos à escola, onde, para além da aula de português, se aprendiam, nesse dia, os números de 1 a 10. A EPC – Escola Primária Completa de Dovela tem como director Absalão Madusse Bernardo (que me escreve o nome num papel com uma caligrafia irrepeensível), alunos até à 7ª classe (a partir da 8ª é preciso andar vários quilómetros até Inhacongo), 12 turmas e seis salas, uma de tijolo e de construção antiga, igual às de muitas escolas primárias de outros pontos do país, três de caniço e duas de tijolo construídas como contrapartida do terreno do Dunes de Dovela.
É numa das salas de caniço que encontro Olívia, uma rapariga da aldeia contratada para compensar o absentismo dos professores e para dinamizar algumas actividades com as crianças. Foi a ela que entreguei alguns jogos, um puzzle de 500 peças, entretanto feito por um dos docentes e a prova disso a ser-me enviada em fotografia por e-mail, e alguns livros da colecção Uma Aventura, de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada para a biblioteca em formação. Quando me despeço de Alexandra e lhe desejo boa sorte para o Dunes de Dovela e para os projectos com a comunidade diz-me que as "duas senhoras" bem podiam escrever uma aventura sobre a sua história em Moçambique. E deixou até uma sugestão de título: "Uma Aventura no Mato."
O Dunes de Dovela, localizado a norte de Inharrime e de Zavora, fica a 420 quilómetros de Maputo e a cerca de seis horas de viagem e requer um 4x4 para percorrer os 12,5 quilómetros finais, sobretudo os últimos quatro, de areia solta (a alternativa é deixar o carro antes disso e apanhar uma boleia com Thomas). Funciona em regime de alojamento e pensão completa e tem preços por pessoa e noite de 8900 meticais (mais ou menos 124 euros) para os bungalows e 4950 (68 euros) para as tendas, com refeições e actividades. Mais informações no site, através do e-mail contact@dunesdedovela.com ou do telefone 00 258 872629164.
Um relatório da UNICEF sobre casamento prematuro no mundo estima que cerca de 650 milhões de mulheres casaram em criança e que o número de raparigas casadas na infância seja agora de cerca de 12 milhões por ano. Pode ser lido aqui.
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