Moçambique: um retiro no Nuarro Lodge

Lá no Norte de Moçambique, na baía de Nanatha, distrito de Memba, a menos de duas horas de carro a partir de Nacala-a-Velha, há um alojamento à beira Índico, rodeado de embondeiros e de mata selvagem, ideal para um retiro de puro descanso. Ou para uma estadia dedicada às actividades principais que por ali se praticam, o mergulho ou snorkelling. Trata-se do Nuarro Lodge, um eco-lodge que trabalha desde o início do projecto, em 2005, em conjunto com a população local.
E no Nuarro, que retirou o nome do sítio onde se encontra, podem os hóspedes contar com dias passados entre banhos de mar, momentos de relaxe à sombra de uma casuarina ou passeios pelos dois quilómetros de areal, com noites embaladas pelo barulho das ondas e pela brisa que entra pelas janelas dos chalés (todos baptizados em macua, como o Ezizi, que na língua local significa coruja, ou o Nthondo, que significa estrela), com despertares ao som das aves residentes (numa parede junto à recepção há uma lista que contabiliza em 156 espécies as espécies de Nuarro, entre rolieiros de peito lilás ou calaus de bico amarelo), com uma cozinha onde abunda o peixe fresco, com um bar de praia ideal para beber uma cerveja Manica ou um licor de Amarula ao final da tarde e uma equipa que sabe receber bem. Ou costurar bem, no caso do alfaiate residente, que faz peças em capulana, à medida e ao gosto de cada um, com uma qualidade e um preço imbatíveis.
Tibea Hammann, sul africana a viver em Moçambique há 20 anos (muitos no Tofo, na província de Inhambane), é a actual gerente, juntamente com Evan Landmann, cozinheiro e instrutor de kite-surf. É com ela – também instrutora de mergulho e apaixonada pela natureza, o mar e o mato, que prefere à vida citadina  que fico à conversa sobre o Nuarro e sobre como é trabalhar ali. Conta-me que a propriedade do sítio onde nos encontramos pertence a três sócios holandeses, com destaque para Annelies van der Vorm, empresária que se desloca a Moçambique umas três ou quatro vezes por ano e que tem outros projectos que misturam investimento e ajuda às populações na África do Sul e no Quénia.
Em Moçambique, decidiram os sócios fazer um projecto de turismo responsável, que estabeleceu uma área marinha protegida e também uma área para uso sustentável das terras e da floresta, uma vez que os recursos naturais se encontravam a caminho do esgotamento. Um projecto que criou emprego para a comunidade (o lodge conta agora com 66 trabalhadores mas no pico da construção chegaram a ser 250) e que assegura cuidados médicos, através da Anan Clínica, e educação, com a construção em 2016 da primeira escola na zona, para a população de cerca de 1400 pessoas da aldeia de Nanatha, logo ali ao lado.
Visitar a comunidade local, constituída por muitos pescadores e por centenas de miúdos, é uma das  propostas do Centro de Actividades coordenado pelo sul africano  e muito zen  Ray. A estas visitas e ao obrigatório snorkelling ou mergulho (há cursos do nível descoberta até ao primeiro nível do curso profissional e a possibilidade de fazer mergulho nocturno, numa versão "fluorescente") juntam-se ainda a observação de aves e de baleias (na época), passeios de BTT (até ao farol do Baixo do Pinda são cerca de 45 minutos), piqueniques em praias sem ninguém, canoagem, safaris nocturnos pelos arbustos do Nuarro (habitat de macacos, gatos selvagens ou morcegos) e massagens na praia ou nos quartos. Eu experimentei as mãos de Sara numa marquesa colocada no areal e ainda hoje podia estar por ali. Não fora a viagem ao Norte ter como destino seguinte a Ilha de Moçambique.


O Nuarro Lodge, que encerra todos os anos de 15 de Janeiro a 15 de Março, tem 12 chalés duplos, triplos e familiares (os mais pequenos a partir de 175 dólares por pessoa com as refeições incluídas, os maiores a partir de 275) e três quartos globetrotter, mais económicos, com casa de banho individual mas no exterior (45 dólares por pessoa, com pequeno almoço e jantar, em ocupação dupla, 65 em ocupação individual). Todos são equipados com originais sanitas ecológicas (funcionam com cinza), água potável, energia eléctrica ao longo de todo o dia e chuveiros cheios de pressão, que podiam ganhar o prémio de melhores de África. Mais informações sobre preços (há descontos através de reservas directas) ou outras pelo telefone 00258 860686193 ou no site.









































































P.S. – As últimas fotografias são do caminho para chegar ao Nuarro, que é um prazer percorrer. Passa este por inúmeros embondeiros, por uma igreja que tive dificuldade em fotografar por um bando de miúdos também querer ficar no retrato ou pela plantação de sisal e pela fábrica da Companhia Agrícola JFS – João Ferreira dos Santos. Leio no site da empresa que o Grupo JFS  foi o maior produtor de sisal em Moçambique desde a década de 40 até meados dos anos 2000 e que relançou nos últimos anos esta cultura numa das plantações na província de Nampula.


Comentários

  1. Pura realidade retratada! Estas imagens me fazem recuar o tempo e recordar-se dos gritos da Mãe a chamar-me para fazer banho logo ao pôr do sol.

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