Um retrato de Janina, "cartão postal" da Ilha de Moçambique nos anos 80
Fotografei Janina, vestida com um fato de capulana laranja, mussiro na cara e pronta para mais uma actuação do seu grupo de tufo, o Estrela Vermelha, na esplanada do Feitoria em Dezembro de 2017. Na altura não sabia nada sobre ela, nem sequer o seu nome (ou alcunha, que o nome verdadeiro, Sunducia, foi-lhe dado pela avó mãe do seu pai). Só quando li as histórias sobre os mais velhos da Ilha de Moçambique recolhidas e publicadas por Moira Forjaz no livro Ilhéus fiquei a saber que tinha feito um retrato de uma "mãe, avó, bailarina, cantora" e também "personagem de filme e símbolo da beleza e sensualidade da mulher macua, da Ilha para o mundo". Uma espécie de "cartão postal da Ilha" nos anos 80.
Sunducia Momade, que na última visita à Ilha voltei a encontrar, ao vivo e num grande ecrã instalado no campo do antigo paiol, é a personagem principal do filme Alima, de Sol de Carvalho (1997), apresentado nos 201 anos da Ilha no ciclo de cinema organizado pela Amocine – Associação dos Cineastas Moçambicanos. Nele se conta a história de uma mulher analfabeta que entra em confronto com o marido por causa do seu desejo de estudar.
Na vida real (e roubo mais um pouco da história de Janina ao livro de Moira Forjaz), Janina teve de enfrentar a proibição de frequentar a escola por parte da avó com quem ficou a viver depois da morte do seu pai – tinha ela nove meses quando este caiu de uma embarcação de passageiros que fazia a ligação entre o Lumbo, no continente, e a Ilha. Só mais tarde, com a ajuda do seu tio Abdul, conseguiu começar a estudar. E ainda andava na escola quando conheceu o seu marido Issufo, ciumento, que não a deixava sair para cantar, dançar ou gingar e de quem teve um casal de filhos.
Janina, que herdou o nome pelo qual ficou conhecida de um "navio muito bonito", casou uma segunda vez com um homem de quem teve cinco filhos. E continuou sempre a dançar tufo, dança típica da Ilha e do norte de Moçambique, executada por mulheres. Actuou em Maputo para o Presidente Samora Machel, dançou para o Presidente da Tanzânia Julius Nyerere, viajou até Angola, Suazilândia, Japão e China. Pelo seu "trabalho de demonstração da cultura e costumes macuas" gostava de ser mais considerada. Tem a certeza que se fosse em outro país "seria mais valorizada".
Mais sobre a história de Janina e de outros habitantes da Ilha no livro Islanders / Ilhéus, de Moira Forjaz. Está à venda na Amazon por 39,67 euros e os portes são por estes dias gratuitos.
Mais sobre a quarta viagem à Ilha aqui (sobre como se come bem por ali) e aqui (sobre o futuro Centro de Conhecimento, um projecto de Moira Forjaz em construção).
Janina, que herdou o nome pelo qual ficou conhecida de um "navio muito bonito", casou uma segunda vez com um homem de quem teve cinco filhos. E continuou sempre a dançar tufo, dança típica da Ilha e do norte de Moçambique, executada por mulheres. Actuou em Maputo para o Presidente Samora Machel, dançou para o Presidente da Tanzânia Julius Nyerere, viajou até Angola, Suazilândia, Japão e China. Pelo seu "trabalho de demonstração da cultura e costumes macuas" gostava de ser mais considerada. Tem a certeza que se fosse em outro país "seria mais valorizada".
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PS - Janina faleceu em 2020. Que descanse em paz a estrela do Estrela Vermelha.
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