Duas semanas pela Suécia: de ilha em ilha pela costa de Bohuslan

Há guias de viagem que consideram a costa e o arquipélago de Bohuslan, que se localiza entre Gotemburgo e a fronteira com a Noruega, na costa Oeste da Suécia, uma das regiões mais originais e belas do país. Fomos confirmar e encontrámos uma paisagem acidentada feita de blocos de granito e ilhas e ilhotas rochosas, algumas delas privadas, de portos de pesca e de recreio, de povoações feitas de casas de madeira, muitas pintadas de vermelho, outras de amarelo ou de branco, de pontes e de ferries que permitem seguir viagem. Da cidade de Gotemburgo, a etapa anterior destas duas semanas pela Suécia, percorremos de carro menos de 50 quilómetros pela autoestrada E6 até Kungalv e a partir daí pela 168 até alcançar Marstrand, a primeira paragem de um roteiro que nos havia de levar ainda a Fiskebackskil, Lysekil, Smogen, Stromstad e às pinturas rupestres de Tanumshede.

Marstrand, que foi fundada no século XIII por um rei norueguês e é sueca desde 1658, já foi a "capital europeia do arenque" e é agora a "capital da vela" da Suécia – ainda encontramos por lá um cartaz da Dragon Gold Cup Marstrand 2021, que se realizou em Agosto passado. Leio no site oficial de turismo sobre a cidade que os candeeiros de Paris queimaram óleo de arenque que dali era importado e que as oportunidades de emprego criadas pela pesca atraíram pessoas de perto e de longe, tornando a ilha um local de "imoralidade", onde terão chegado a existir mais de 100 tabernas, mas também um local de liberdade religiosa, tendo ali sido construída a primeira sinagoga da Escandinávia. Mais tarde foi local de veraneio da realeza e tornou-se numa estação balnear afamada.

A cidade está dividida em duas e é para a parte das ruas sem carros e dominada pela fortaleza de Carlsten que interessa ir, numa viagem de barco que demora dois ou três minutos (os bilhetes custam 40 coroas suecas por passageiro, menos de quatro euros). A partir do porto pode o visitante dar uma volta a pé pela ilha, passar pela fortaleza que também foi uma prisão onde muitos prisioneiros não resistiam ao Inverno (nós não chegámos a entrar mas a vista do alto da torre promete valer a pena) e terminar com um almoço num dos restaurantes locais. O Marstrand Wardshus, que tem no menu as típicas sandes de camarão, que em sueco se chamam rakmacka, foi a nossa escolha.












Na primeira noite passada na costa de Bohuslan dormimos numa ilha ao largo de Stenungsunds e juntámos mais uma palavra ao nosso vocabulário em sueco: stuga, ou no caso mini stuga, que significa cabana. E das nossas duas casinha em madeira em forma de tenda, de 9 metros quadrados cada e localizadas num parque de campismo com muitas instalações em comum, incluindo uma igreja também em madeira, partimos para Fiskebackskil, uma povoação tranquila na ilha de Skafto (e ali, destaque para uma casa equilibrada no alto de uns penedos e que foi o estúdio do artista sueco Carl Wilhelmson, que pintou as gentes desta região, e para um moinho de vento construído no século XIX e entretanto recuperado), e para Lysekil, acessível através do ferry Neptuno (gratuito, o que na Suécia é uma boa notícia). Pelo caminho, alguns sinais de perigo indicavam a presença de cavalos – e encontrámos alguns, vestidos com umas capas, talvez o equivalente aos blusões de penas que vestíamos, indispensáveis apesar de o Verão ainda não ter terminado.

Se em Fiskebackskil tivemos as ruas só para nós, em Lysekil fomos recebidos por dois velhotes sentados nuns banquinhos à beira da estrada, com coletes refletores vestidos e equipados com o que parecia ser um radar (era 30 o limite de velocidade) e por um grupo de mulheres que participavam numa aula de ginástica ao ar livre enfeitadas com umas fitas cor de rosa com as palavras Girl Party. Em Lysekil, vale a pena visitar a igreja, que se destaca na paisagem com o seu pináculo de 95 metros acima do nível do mar e com um tamanho que permite acolher 1300 pessoas. No seu interior, há uma bateria ao lado do altar e também um piano, uma livraria, um canto para leitura com duas estantes e uma poltrona, uma arca de Noé com os bichos em peluche, o habitual espaço infantil das igrejas suecas, dois barcos feitos em madeira pendurados no tecto e uma zona de convívio com mesinhas redondas e uma máquina para fazer chá e café. Com a indicação de que só paga quem o puder fazer.











De Lysekil seguiu a viagem via kustvagen (ou estrada costeira, que no total tem 75 quilómetros) para Smogen, localidade de pescadores, mergulhadores e turistas e onde a densidade populacional, pelo menos num sábado de manhã com sol, será das maiores de toda a Suécia. E foi esta uma paragem feliz, com direito à habitual paisagem feita de penedos e de casinhas de madeira ainda mais fotogénicas do que o habitual (é preciso ir mesmo até ao fim do boardwalk, considerada num cartaz informativo como a maior atração turística de Bohuslan). E também a um almoço de mexilhões no Smogenbryggan, onde nos abastecemos ainda de lagostins e de camarões para o jantar. Foi só juntar umas cervejas compradas numa loja do System Bolaget em Kalmar, logo no primeiro dia na Suécia.














E depois da mini stuga em Stenungsunds, foi a segunda noite passada numa stuga vermelha perto de Stromstad, uma casinha maior do que a anterior (sala e cozinha com salamandra em baixo, quarto no sótão) e onde fomos recebidos pelo proprietário e não por chaves deixadas em cima da mesa (e respectiva porta aberta) ou por um código enviado por WhatsApp. Mas quando eu pensava ter à frente um sueco simpático, fiquei a saber que tinha afinal um norueguês que atravessou a fronteira e se instalou do lado de cá, no meio do campo, só com floresta à volta. E foi para lá que nos sugeriu ir, já depois de terem tocado os sinos que aos sábados à tarde se fazem ouvir nas igrejas para lembrar que é hora de descansar, de recolher as máquinas agrícolas. Não encontrámos trolls, fadas ou gnomos mas vimos cogumelos em abundância, de várias formas e cores, e subimos a uma colina de onde se podia ver a Noruega a uns dez quilómetros dali. Oslo fica a 150.

Não houve tempo em Stromstad para partir à descoberta das ilhas Koster, interditas a carros mas que podem ser percorridas de bicicleta, ou não adorassem os suecos este meio de transporte. Mas não podíamos deixar a  costa de Bohuslan sem uma espreitadela às pinturas rupestres de Tanumshede, Património Mundial da Humanidade. A classificação da UNESCO abrange uma área de 45 quilómetros quadrados e mais de 500 sítios com pinturas, sendo que quatro das mais importantes se localizam nas proximidades do Museu de Vitlycke: Vitlycke a 300 metros, Asperget um pouco mais adiante, Litsleby e Fossum a dois e a cinco quilómetros. Foi um prazer passear entre as pinturas de figuras humanas, com destaque para "o grande Deus da lança" com 2,25 metros de altura, de animais ou de embarcações que por ali permanecem desde a Idade do Bronze. Estávamos prontos para seguir viagem: a cidade medieval de Vadstena, à beira lago e com um castelo rodeado de água, Uppsala, que tem a universidade mais antiga do país, e finalmente Estocolmo esperavam por nós.









O alojamento em Stenungsund, no parque de campismo de Stenungsogarden, custou 922 coroas suecas para três (cerca de 88 euros) em duas cabanas de madeira de 9 metros quadrados cada. Com casa de banho partilhada, roupa de cama e toalhas com um custo adicional e a limpeza final a cargo do utilizador. 

Em Stromstad, ou nos arredores de Stromstad, foi a noite passada na Stuga Vid Viltaker Nara Norska Gransen, uma casinha em madeira de dois andares e 35 metros quadrados que custou 760 coroas suecas (mais ou menos 75 euros), mais 30 euros (em notas, talvez a única vez que utilizámos dinheiro neste país praticamente cash free) para a roupa de cama.

Mais sobre a viagem pela Suécia aqui (Kalmar e ilha de Oland), aqui (Karlskrona, Ales Stenar, Ystad e Falsterbo), aqui (Malmo e Lund) e aqui (Gotemburgo).


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