Malásia: uma incursão pela selva e pelas plantações de chá de Cameron Highlands

"My name is Mushroom", assim se apresentou o guia que nos havia de acompanhar ao longo de mais ou menos seis quilómetros de marcha por uma pequena parte do imenso Taman Negara. Criado em 1939 para preservar uma floresta mais antiga do que a da Amazónia, o Taman Negara  (ou parque nacional, em malaio) tem grutas e cascatas, árvores milenares e mais de dez mil espécies diferentes de plantas (algumas venenosas ou carnívoras), muitas aves e tigres selvagens, elefantes e leopardos, escorpiões e serpentes, sanguessugas e mosquitos - sendo estes últimos os mais fáceis de avistar.
Começou por volta das 9 da manhã o programa comprado na véspera na TN Nature Outdoor, uma das várias agências da calma Kuala Tahan, a localidade à beira rio que funciona como a porta principal do parque. Para os mais duros, vendem-se pacotes que incluem uma ou mais noites em regime de acampamento, mas só a ideia de caminhar durante dias com um calor intenso e uma humidade a rondar os 100 por cento (e ainda transportando roupa, saco cama, água e alimentos) nos deixa exaustos. Optamos por isso por um breve e didáctico passeio, durante o qual o nosso "Cogumelo" (um nickname dado pelos amigos, explica-nos) nos vai mostrando árvores que parecem ter os troncos vestidos de camuflado, plantas das quais os Orang Asli (o povo nómada que habita o parque) extraem uma seiva que serve de shampoo ou folhas um pouco ásperas que podem ser usadas para limar as unhas. Durante a caminhada, o guia tenta ainda incentivar um turista italiano que integra o nosso pequeno grupo dizendo-lhe  que há um Starbucks no alto da colina...
Não há um Starbucks mas há um ponto de observação que é preciso alcançar, o Bukit Terisek, e ao qual chegamos a escorrer suor por todos os poros. E depois há o Canopy Walkway, um conjunto de várias pontes suspensas entre as árvores que vale mesmo a pena percorrer. Com alguma emoção garantida.
Para a tarde - e depois de um almoço num dos restaurantes flutuantes de Kuala Tahan - estava reservado o resto do programa: uma relaxante viagem em piroga a motor pelo meio da vegetação e até ao ponto de partida a pé (dois quilómetros de marcha) para as quedas de água de Lata Berkoh, onde se pode tomar banho ou pescar. Eu, quase aniquilada pela caminhada matinal, fiquei por ali, junto às pirogas, esperando o regresso dos meus companheiros de viagem e tentando conversar nem sei bem em que língua com o condutor da nossa embarcação. Um malaio que parece surpreendido por tanta gente gostar da selva. Ele, diz-me, entre gestos e palavras soltas em inglês, que prefere as cidades com prédios altos.

Uma incursão pelo interior da Malásia tem ainda, para além de Taman Negara, outro ponto de paragem interessante, as frescas Cameron Highlands. Trata-se de uma antiga estação de altitude da época colonial (a cerca de 1600 metros) e uma zona de plantações de chá (começaram a ser desenvolvidas pelos ingleses nos anos 1930), que hoje tem também quintas de morangos, de rosas, de cactos ou de orquídeas, de produção de mel, jardins de borboletas e a maior concentração de velhos Land Rovers do mundo. O pior de  Cameron Highlands são as numerosas estufas que vão destruindo a paisagem e a construção desenfreada um pouco por todo o lado.
Ringlet (primeira localidade para quem vem do Sul), Tanah Rata (ponto de partida para várias caminhadas na zona) e Brinchang (cheia de comércio e restaurantes de rua) são as cidades que se encontram para quem ali chega vindo de Tapah. Diz o Le Guide du Routard que foram estas sacrificadas em nome do "deus cimento" e tem razão. Mesmo assim vale a pena dar uma espreitadela e dormir por aqui uma noite, nem que seja para dar uso ao agasalho ligeiro que se trouxe na bagagem. E que, claro, não voltará a ser preciso.
































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