África on the road: sobrevoando as Victoria Falls

Durante um jantar no muito turístico The Boma, em Victoria Falls, não resisti e entrei na pequena tenda de um fortune teller, que por ali oferecia os seus serviços. E disse-me o adivinho (um moçambicano que em miúdo atravessou a fronteira para o Zimbabué), depois de ter lançado as suas sementes, pedras e ossinhos, que daqui a dois anos terei muito dinheiro. E também que não preciso de me preocupar com a saúde, que em matéria de amor sou tão forte como um homem (seja lá o que isso for) e que devia tentar ter outro filho. 
Se a parte do dinheiro se concretizar, fica aqui prometido que regresso às Victoria Falls (ou Vic Falls, para os mais íntimos) e que em vez de um voo de helicóptero de 15 minutos (que custou 150 dólares por pessoa, 10 dólares por minuto, mais 12 dólares para entrar no parque) compro o mais longo que estiver disponível. E também que reservo com antecedência uma ida à Livingstone Island e à Devil's Pool e que arranjo maneira de incluir as ruínas do Grande Zimbabué, que se situam no Leste do país, perto da fronteira com Moçambique, na rota da viagem (foram visitadas este Verão pelo Viajar Entre Viagens).
Chegámos às Victoria Falls (vistas primeiro do lado da Zâmbia e só nos dois dias seguintes do lado do Zimbabué) vindos de Kasane, no Botswana, e depois de atravessar provavelmente uma das fronteiras mais confusas do mundo. Já do lado da Zâmbia, onde atraca o Kazungula Ferry, perdemos umas duas horas, entre muito pó e calor, em formalidades e pagamentos vários (paga-se o visto, o seguro do carro, a taxa de carbono...). O que nos deu tempo para ficar por ali à conversa com um moçambicano que conduz camiões de Joanesburgo para a Zâmbia (e que já ia em quatro horas de espera) ou com um norte-americano a viajar de moto por África há nove meses (e que considera esta fronteira um verdadeiro nightmare). Havemos de o voltar a encontrar em Livingstone, no parque das cataratas (onde lhe damos algumas dicas sobre Moçambique, que pretende incluir no programa da viagem), e mais tarde na fronteira da Zâmbia com o Zimbabué, que atravessou a pé e provavelmente como visitante por um dia.




















E as Victoria Falls (assim baptizadas pelo missionário e explorador David Livingstone, oficialmente o primeiro ocidental a avistá-las, em 1855, em homenagem à rainha inglesa) são talvez um pouco menos espectaculares vistas do lado da Zâmbia - e nesta altura do ano com pouca água. O que não significa que não devam ser vistas dos dois lados. Acresce que do lado da Zâmbia existe uma atracção única, para gente corajosa e sem vertigens: a Devil's Pool, onde é possível tomar banho mesmo à beirinha das quedas de água (apenas durante a estação seca, quando o menor caudal de água do Zambeze torna a aventura mais segura). Eu acabei por não o fazer (por sermos três e só haver lugar para dois) mas quando visitei as cataratas do lado do Zimbabué fotografei uns aventureiros a banhos e não achei assim tão assustador.























Cataratas vistas, vale a pena dar uma volta por Livingstone antes de rumar ao Zimbabué (e atravessar a fronteira é ali bastante mais tranquilo). A cidade tem alguns edifícios interessantes dos tempos da colonização britânica (que sobreviveram à destruição de alguma arquitectura colonial no pós-independência), um animado mercado de rua (ou não estivéssemos em África) e um Museu Ferroviário bastante decadente onde se paga 15 dólares para entrar. Há carruagens cheias de morcegos, outras habitadas por milhares de mosquitos mas há também uma pequena exposição (didáctica e poeirenta) que explica o papel dos judeus nesta zona de África.
























Do lado do Zimbabué, onde chegámos ao décimo quarto dia desta viagem estrada fora, uma placa com o nome local dado às cataratas (mosi-oa-tunya ou "fumo que troveja"), dá as boas vindas aos visitantes. E a visita faz-se sempre de frente para as quedas de água, ao longo de mais de um quilómetro e parando em vários pontos de observação - e em alguns deles dá jeito ter um impermeável para vestir. No final, no Danger Point, há quem se aproxime mesma da beira, sem qualquer protecção, para tirar fotografias ou ser fotografado (e as cataratas têm uma altura máxima de 128 metros). Eu prefiro manter-me a uma distância mais razoável e ficar por ali a gozar a vista sem correr grandes perigos.


































E ao segundo dia no Zimbabué levantamos voo num helicóptero reservado no Victoria Falls Safari Lodge e na companhia de um rapaz que nos pergunta se somos portugueses. Ele é de Lisboa (com pais da Guiné) mas vive em Londres e tem uma namorada de Harare, que fica em terra por não gostar de voar (e que perde assim um verdadeiro espectáculo da natureza). O voo foi rápido (o preço do de 25 minutos sobe para 285 dólares por pessoa) mas é esta uma experiência incontornável numa visita às Vic Falls. Não é por acaso que lhe chamam, certamente inspirados nos escritos de Livingstone, o  voo dos anjos.




























O velhinho e glamoroso The Victoria Falls Hotel, inaugurado em 1904, é outro dos incontornáveis de Victoria Falls. Mesmo que não seja a opção de alojamento (não é barato e está muitas vezes lotado), vale a pena ir até lá para beber um chá (o da tarde custa 33 dólares para dois), almoçar (os preços são acessíveis e a comida é boa) ou apenas ver as vistas (e a bela Victoria Falls Bridge fica mesmo ali em frente).














Abundam as actividades à volta das cataratas, tanto em Livingstone, na Zâmbia, como em Victoria Falls, no Zimbabué, assim haja dólares (muitos) para as pagar. Há passeios no dorso de elefantes, passeios a cavalo, passeios em comboio a vapor, rafting no Zambeze, safaris de canoa, bungee jumping (com saltos de 111 metros a partir da Victoria Falls Bridge), voos de ultraleve (para além dos de helicóptero) e passeios de barco, muitos passeios de barco. Há cruzeiros safari, há cruzeiros para ver aves, há cruzeiros fotográficos, há outros com pequeno-almoço, almoço ou jantar, há alguns de luxo... Nós embarcámos num passeio tranquilo de três horas para ver o pôr-do-sol - e pelo caminho um ou outro elefante e vários hipopótamos. Por 45 dólares, com direito a bar aberto e a vários snacks - e já posso dizer que provei crocodilo.


























O restaurante The Boma, com capacidade para 300 pessoas na estação seca (de Abril a Outubro) ou 230 na estação das chuvas (de Novembro a Março), fica dentro do Victoria Falls Safari Lodge, no Zimbabué, e é uma experiência gastronómica e cultural interessante. Para os mais corajosos há carnes grelhadas de animais pouco comuns ou larvas de Mopani (com direito a certificado final para quem as comer), para os outros há uma oferta variada. Para todos, há tambores para acompanhar as actuações de músicos locais. Reserva prévia (45 dólares por pessoa).

As tarifas de entrada nos parques de acesso às cataratas são de 20 dólares do lado da Zâmbia, 30 do lado do Zimbabué (ou de 20 para os residentes em países da SADC, mediante comprovativo).

As idas de barco à Livingstone Island, com direito a tomar banho na Devil´s Pool, são organizadas pelo Tongabezi, eleito pela Condé Neste Travel como o safari lodge número 1 na Zâmbia e pelos Fodor's Hotel Awards como um dos 100 melhores hotéis do mundo. Realizam-se apenas na estação seca (em geral de meados de Agosto a meados de Janeiro). E como todas as actividades à volta das Vic Falls são caras: há três sessões de manhã por 98 dólares, uma com almoço incluído por 158 e uma sessão a meio da tarde com direito a um high tea por 133.

Os muito radicais saltos de bungee junping, que registaram um acidente com uma australiana de 22 anos em 2012, quando a corda que a agarrava se partiu, podem ser comprados aqui. São para maiores de 14 anos e para gente entre os 40 e os 140 quilos.


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