Maputo: em Xipamanine vendem-se cabeças de vaca, mãos de macaco e muito mais

Se me tivesse assustado com o que ouvi dizer sobre o mercado de Xipamanine, considerado por alguns como o pior mercado de Maputo, não estaria agora a escrever este post. E muito menos teria fotografias para mostrar (sim, não só fui ao maior e mais mal afamado mercado da capital como fui e levei máquina fotográfica). No guia Moçambique, de Teresa Cotrim e Pedro Ramada Curto, tinha lido que não convém ir a este mercado sozinho, que Xipamanine é um mundo de ruelas, onde há carteiristas, e que depois de entrar é muito complicado encontrar a saída. E ainda que convém levar pouco dinheiro e nada mais e passar o mais despercebido possível.
Tive mais ou menos em conta estas recomendações, pelo que fui acompanhada de amigos portugueses de visita a Moçambique e de um amigo local que nos guiou em tão labiríntico espaço (e que no final, foi o único a quem ia sendo roubado o telemóvel) e levei pouco dinheiro e um telefone antigo em dois bolsos com botões. Já quanto ao passar despercebido, é tarefa impossível.
Mal tínhamos entrado e já uma vendedora de aves me estava a pedir para lhe dar o cabelo ("Estou a pedir cabelo"), outra ao lado a pedir para lhe dar o aparelho para endireitar os dentes ("Estou a pedir essa coisa aí"), outra ainda a pedir para ser fotografada com o meu filho e com uma galinha viva e a espernear ("É teu filho? Tem 20 anos? E tu tens quantos? 32?"). E as atenções continuaram mercado fora, com alguns vendedores a pedirem para lhes tirar fotografias (e alguns a dizer que não tinham dinheiro para me pagar, o que é inédito), outros a pedir autógrafos à adolescente do grupo (o que já tinha acontecido antes), outros a mandar piropos em changana ("Mulungas bonitas", que o mesmo é dizer "brancas bonitas" em português), e um vendedor de ferragens e tatuado com um FC Porto no braço, o Silvestre, a pedir que lhe leve uma camisola com o número 10 se um dia regressar a Xipamanine.
E talvez regresse, até porque Xipamanine fica perto do centro da cidade (o aceso faz-se pela Rua dos Irmãos Roby, junto à rotunda do Alto Maé) e porque é difícil não ficar fascinado com um mercado onde cerca de 7000 vendedores vendem de tudo. Há produtos para garantir sorte na vida (e o vendedor de uma das bancas explica com detalhe a finalidade das coisas expostas), produtos para fazer feitiços, mezinhas para doenças várias, pele de cobra, mãos de macaco embalsamadas, cabras vivas, cabras mortas, cabeças de vaca inteiras e com pelo (que se cozinham assim, depois de raspadas um pouco), peixe, materiais de construção, carvão, produtos de higiene, coisas de mercearia, cestos, peças em madeira e especiarias. E muita roupa, sapatos ou cintos em segunda mão, fruto de doações nos EUA ou na Europa e depois revendidos, em vez de oferecidos, no continente africano. Aprendi nesse dia que se chamam "calamidades".
Mas foram as capulanas, até agora compradas quase sempre na quase centenária Casa Elefante, na Baixa da cidade, que me fizeram gastar parte dos meticais que levava bem guardados. À volta do mercado abundam as lojas cheias de tecidos coloridos (há a Casa Leão, a Casa Dattani) e à porta delas alguns costureiros que as transformam nas peças de roupa pretendidas. Ou que cobram apenas 30 meticais (cerca de 40 cêntimos de euro) para fazer as bainhas dos dois lados de cada tecido. 
Visita ao mercado terminada, passeámos um pouco no bairro em volta (com poucas infraestruturas e algumas casas de chapa com muitas décadas) e demos um salto à Mafalala, o mítico bairro onde nasceu o poeta José Craveirinha ou o futebolista Eusébio. Mais lá à frente, no Bairro do Aeroporto, encerrámos da melhor maneira o programa da manhã, com uma paragem na casa do mestre Malangatana, onde até as grades que protegem as janelas são obras de arte.












































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