Moçambique: a Ponta do Ouro está cada vez mais perto

"Apreciar é mahala", diz-me, na praia da Ponta do Ouro, que também tem o petit nom de Ponta, o vendedor do bilingue O Pequeno Livro da Ponta/The Little Book of Ponta. E o rapaz que vende o Pequeno Livro, que se pode apreciar sem pagar, é o que aparece na capa do volume três, com uma foto de quando era mais pequeno mas já tinha na cara a cicatriz que ainda mantém. Explica-me que isso lhe aconteceu aos cinco anos, com uma bala perdida, quando vivia na África do Sul e onde agora só vai para visitar o pai.
O pequeno guia acaba por me custar 250 meticais e tradução para português à parte (qualquer coisa como dilatar as pupilas para ver o céu nocturno está traduzido para "dilatar os seus alunos") revela-se um bom investimento: fico a saber que se encontrar uma cobra por ali posso sempre chamar Shaun Holtzhauzen, também conhecido por Ponta's snake man, que a visita do Presidente "Gaboza" em 2012 deu origem à criação de uma rádio e televisão comunitária ou que o outrora guarda do farol Antonio Sozinho Burasse perdeu uma perna por causa de uma mina terrestre em Janeiro de 1996.
A Ponta do Ouro, a praia mais a sul de Moçambique, onde a electricidade chegou em 2006 e que é desde 2009 reserva marinha, é refúgio de fim de semana e de férias para moçambicanos e sul africanos, ou não estivesse a fronteira ali tão perto, a menos de uma dezena de quilómetros. Chegar lá a partir de Maputo já foi uma aventura dura e demorada, capaz de fazer chocalhar todos os ossos do corpo de quem se fazia à "estrada" (ou à pior estrada do mundo, como lhe chamei na primeira visita, em Abril de 2013), e será em breve coisa para uma hora e meia de viagem, assim seja inaugurada a ponte que liga a capital à Catembe, do outro lado da baía. Até lá, haja tempo e paciência para passar o carro no ferry ou faça-se a viagem por Boane.
Nos regressos recentes à Ponta, que já são três desde que a estrada construída pela China Road & Bridge Corporation ganhou forma (e a China sempre presente em tudo o que é construção em África), utilizei o sempre cheio e animado batelão nas duas primeiras vezes (onde assisti a uma insólita exibição e distribuição de dólares aos passageiros por parte de moçambicanos talvez emigrados na África do Sul) e a opção de Boane na última. A partir da Catembe é preciso mais ou menos uma hora e meia de viagem para fazer os 115 quilómetros até à Ponta. Via Boane, são quase 180 (98 até ao desvio para a Ponta) e pelo menos duas horas e meia de percurso. Mais para as três numa sexta feira à tarde, com a beira da estrada cheia de estudantes em uniforme cor de vinho.
Por um lado ou por outro, goze-se a viagem, que há-de passar sobre as águas escuras do rio Maputo (onde há sempre gente a abastecer-se e volta e meia um hipopótamo a espreitar ali perto), por Salamanga, com o seu velho templo hindu e outro novo a ser construído, e pela Reserva Especial de Maputo, também conhecida por Reserva dos Elefantes. Aí, zona de grandes lombas na estrada e de velocidade reduzida, a probabilidade de ver animais parece ser cada vez maior. Numa das viagens tivemos direito a uma manada de elefantes e a algumas girafas e zebras à beira da estrada, da última vez andavam por ali três facoceros e uma impala.
Uma vez chegados (e a parte final ainda é feita em trilho de areia, para não faltar um pouco de emoção) é desfrutar o dolce fare niente a que a Ponta convida. Os mais activos podem sempre fazer caminhadas pela praia (e se se andar alguns quilómetros para sul chega-se ao marco da fronteira com a África do Sul), fazer mergulho, snorkeling ou kitesurf, nadar com golfinhos ou tubarões ou pescar em alto mar. Os mais gulosos e apreciadores de shopping têm  uma pastelaria e padaria que vende pastéis de nata e outros bolos (mas que não tinha pão num dos dias da estadia, por ter faltado a energia), um mercado ao ar livre (há sempre um mercado por perto em Moçambique) e algumas lojinhas  (na Magenta Moon, que tem roupas ou sabonetes artesanais, os sapatos ficam à porta). 
Entre banhos de sol e mar (que é geralmente mais calmo na parte da praia que tem mais gente e é mais batido na parte mais deserta) e refeições de peixe e marisco (o Love Café é uma boa opção para jantar), faça-se, para o relaxe ser total, uma massagem na tenda montada no areal. A mim calharam-me em sorte as mãos de Wilma, que aprendeu a fazer massagens no Paraíso do Ouro Resort. E foi uma hora bem passada, sem a habitual banda sonora de passarinhos e afins mas com o barulho das ondas por companhia e a música do Beach Bar que ia chegando até ali.














































A Casa Blanca, localizada sobre o Índico e com uma varanda de onde não apetece sair, foi o local escolhido para duas das estadias na Ponta. Tem três quartos, com capacidade para seis pessoas, uma sala e uma cozinha equipada e pode ser alugada por 150 dólares por dia (ou 200 nas férias escolares e em altura de feriados). Mais informações e reservas através do telefone +258 843026660 ou do e-mail breda.sandra@gmail.com.

Casa no Monte (que tem como anfitrião Frans Stapelberg ou o seu pai e capacidade para nove pessoas), o Gala Gala Eco Resort (com locais para acampar com cerca de 12 metros por 20 e com casa de banho própria e cabanas com mais ou menos luxo para duas ou quatro pessoas) e o Ponta View Hotel (com várias tipologias de alojamento divididas por três andares) são outras das opções de alojamento na Ponta.

O remoto e recente Anvil Bay Chemucane Lodge, localizado entre uma lagoa e o mar (e onde nunca estive), é por agora o único alojamento existente na Reserva Especial de Maputo e um sítio possível para pernoitar numa ida ou regresso da Ponta. Tem nove casinhas em madeira para dois a 415 dólares por pessoa e noite em pensão completa e 515 em regime de tudo incluído, preços que subirão para 470 e 565 para o período de 16 de Dezembro 2018 e 5 de Janeiro de 2019 (leio algures que 95 por cento dos seus trabalhadores são provenientes das comunidades locais, que detêm 40 por cento do capital social do empreendimento). Na ponta Milibangalala, um pouco mais abaixo, está prevista para breve a abertura dos primeiros seis bungalows (de um total de 36) construídos pela empresa Visabeira. Mais informações para o eco-lodge Anvil Bay: +258 842476322 ou no site.

A mais ou menos 20 quilómetros da Ponta, na quase intocada ponta Mamoli, fica o cinco estrelas White Pearl, que visitei em Novembro de 2014 (ver aqui). Reservas e informações: +27110262674 e +258 846058112.

Gozo Azul, o Dolphin Centre e a Back to Basics Adventures são algumas das empresas que realizam actividades na Ponta. A primeira tem pacotes de mergulho e também passeios de barco até à fronteira com a África do Sul, ao farol e à Ponta Malongane e outros para partir à descoberta de mantas, baleias (que passam pela Ponta mais ou menos entre Junho e Setembro), tartarugas e aves (os dois a 1200 meticais ou 400 rands por pessoa). A Back to Basics realiza cursos de mergulho, passeios para ver baleias e de Setembro a Abril mergulho com tubarões. Com a Dolphin Centre é possível nadar com golfinhos.

As massagens na Ponta custam 1000, 1250 e 1500 meticais para meia hora, 45 minutos e uma hora (com possibilidade de negociar pequenos descontos). Sendo que há quem faça massagens na praia e também faça manicure e pedicure ao domicílio. Contacto: +258 846299915 (Linda).

Muito perto da Ponta e do lado de lá da fronteira com a África do Sul ficam os lagos de Kosi Bay, visitados em Abril de 2014 (ver aqui). Valem bem um salto até lá.


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