Moçambique: os albinos não podem comer peixe
As comemorações dos 200 anos da Ilha de Moçambique como cidade não foram só festa (ver aqui). Houve também espaço para a abordagem de um assunto muito sério em Moçambique (e no Malawi, na Tanzânia, no Quénia ou na África do Sul). Na inauguração da Villa Sands Gallery, uma rapariga com albinismo, vestida com um longo vestido preto, estava sentada no chão e rodeada por telefones. Tratava-se de uma criação do estilista Taibo Bacar, simbolizando os telefones a importância de pedir ajuda e de ajudar quem pode ser perseguido, raptado e assassinado apenas por causa de ser portador de um distúrbio genético e dos mitos que a este estão associados.
Já sabia que as pessoas com albinismo são vistas por muitos como tendo poderes curativos (há mulheres violadas por se acreditar que curam o HIV) ou como amuletos de sorte, daí o negócio macabro da venda de órgãos ou de partes de um corpo desmembrado (e estas podem atingir em África os 3 000 euros ou os 60 000 para todo o corpo, segundo dados do ACNUR – Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados). Nesta visita à Ilha, fiquei também a saber que "Os albinos não podem comer peixe". Quem mo disse foi Elio, um companheiro de passeio, quando nos cruzámos com uma criança com albinismo à porta da sua casa. E lá tive de lhe explicar que as pessoas com albinismo podem fazer o mesmo de todas as outras (brincar, estudar, trabalhar, namorar, casar ou... comer peixe), apenas precisam de alguns cuidados de saúde especiais.
E é para garantir cuidados de saúde a esta população vulnerável, assim como tornar mais forte a consciência sobre os direitos humanos das pessoas atingidas por esta deficiência genética, que existem associações como a Kanimambo, que também esteve na Ilha com a exposição Por Uma Vida com Mais Luz. Uma mostra fotográfica sobre o trabalho que tem desenvolvido e que pôde ser vista na nova sala multiusos e Mediateca da nova agência do BCI – Banco Comercial e de Investimentos (também já tinha estado em Maputo para assinalar, a 13 de Junho, o Dia Mundial de Consciencialização do Albinismo).
A Kanimambo, que tem sede em Lisboa, foi criada formalmente em 2016 como ONGD – Organização Não Governamental para o Desenvolvimento mas nasceu em 2012 depois de Margarida Carneiro e Maria João Carneiro terem conhecido na Gorongosa duas crianças, Derton e Mila, que viviam praticamente escondidas por as suas famílias temerem que fossem vítimas de violência.
A Kanimambo, que tem sede em Lisboa, foi criada formalmente em 2016 como ONGD – Organização Não Governamental para o Desenvolvimento mas nasceu em 2012 depois de Margarida Carneiro e Maria João Carneiro terem conhecido na Gorongosa duas crianças, Derton e Mila, que viviam praticamente escondidas por as suas famílias temerem que fossem vítimas de violência.
A partir da visita à Gorongosa nasceu um movimento solidário de recolha de protectores solares e de chapéus, que foram sendo enviados para Moçambique (eu própria transportei há alguns anos anos um kit completo de protecção para a doce Flora, uma criança apoiada pelos Padrinhos de Portugal, que vive e estuda em Marracuene). E depois disso a Kanimambo foi crescendo, tendo agora centros em Inharrime, Maputo, Nampula e também no local onde a ideia germinou. E é através destes centros que faz a distribuição dos cabazes de protecção, que realiza acções de formação e presta assistência médica, sobretudo nas áreas de dermatologia e oftalmologia (tal como a pele, também os olhos de uma pessoa albina sofrem com a falta de melanina).
Na inauguração de Por Uma Vida com Mais Luz estive à conversa com Flora Dode, que me disse que "o medo [dos próprios e das famílias] ainda prevalece", mas que a aproximação à organização por parte de quem precisa de ajuda vai sendo cada vez maior. E como é que se pode ajudar a Kanimambo? Integrando o Grupo de Amigos Kanimambo, apoiando as missões da organização ou sendo voluntário, como o são todos os colaboradores (mais informações através do mail kanimambo@knmb.pt ou na página no Facebook).
A Albimoz – Associação de Apoio a Albinos em Moçambique (e na exposição da Kanimambo podia ser vista uma fotografia de um casamento colectivo entre pessoas com e sem albinismo promovido em 2016, em Maputo, pela Albimoz) e a Amor à Vida (que nasceu depois do rapto de Augusto César, de 21 anos, em 2014, em Nampula, e é composta maioritariamente por pessoas com albinismo) são mais duas organizações da sociedade civil que trabalham para mudar uma realidade com números ainda chocantes: o último relatório da Amnistia Internacional sobre Moçambique afirma que 30 000 é o número estimado de pessoas com albinismo que sofrem de discriminação e 13 pelo menos o número de albinos mortos em 2017.
A Albimoz – Associação de Apoio a Albinos em Moçambique (e na exposição da Kanimambo podia ser vista uma fotografia de um casamento colectivo entre pessoas com e sem albinismo promovido em 2016, em Maputo, pela Albimoz) e a Amor à Vida (que nasceu depois do rapto de Augusto César, de 21 anos, em 2014, em Nampula, e é composta maioritariamente por pessoas com albinismo) são mais duas organizações da sociedade civil que trabalham para mudar uma realidade com números ainda chocantes: o último relatório da Amnistia Internacional sobre Moçambique afirma que 30 000 é o número estimado de pessoas com albinismo que sofrem de discriminação e 13 pelo menos o número de albinos mortos em 2017.
Obrigada por mais uma lição, amiga. Isto é importante, merece ser partilhado, infelizmente, porque existe... Mas, felizmente, existem pessoas como tu, informadas e com vontade de informar. clap clap.
ResponderEliminarGostava mais que não fosse necessário partilhar. Espero que seja um problemas em vias de extinção.
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