Moçambique: o "horror absoluto" em Cabo Delgado
Telefonaram-me à hora do almoço para me perguntar se estava a ver a reportagem sobre a crise humanitária em Moçambique na RTP. Entretanto, numa mensagem recebida, diziam-me ser horrível ver as notícias e questionavam o que anda o estado islâmico a fazer por lá. E eu para aqui a pensar que o povo moçambicano já merecia viver em paz. "Vimos a guerra da Renamo, da Frelimo, a guerra do colono. Mas não era assim", disse um moçambicano ao Jornal da Tarde, que hoje acompanhou a viagem de um navio com cerca de 1200 pessoas a caminho de Pemba, uma cidade já a rebentar pelas costuras mesmo antes dos últimos acontecimentos. Quase todos passaram alguns dias no mato antes de serem resgatados, dois, três, cinco, todos sem acesso a comida.
Desde 2017 que grupos armados aterrorizam a província de Cabo Delgado, a mais a Norte de Moçambique, e no dia 24 de Março um ataque à vila de Palma, entretanto reivindicado pelo autoproclamado Estado Islâmico, provocou a morte de pelo menos sete estrangeiros e de dezenas de moçambicanos, alguns decapitados. E está a levar à fuga de milhares de civis, uns para Afunfi, onde a petrolífera francesa Total se instalou para desenvolver o projecto de exploração de gás natural (cada vez mais em risco), outros para Mueda, onde chegaram depois de caminhar 180 quilómetros, outros para a Tanzânia, cuja fronteira não fica longe.
A ONU, através de Jens Laerke, porta voz do Gabinete de Coordenação Humanitária, descreveu como "um horror absoluto" o que aconteceu em Palma, referindo que os grupos armados "fizeram coisas horríveis e continuam a fazer". A UNICEF calcula que haja mais de 350 000 crianças deslocadas e que depois do ataque a Palma mais de 17 000 tenham ficado sem casa e sem acesso a comida e água. A Save The Childreen alerta para a necessidade de proteger os menores cujos pais estão desaparecidos. Ao todo, os ataques dos últimos três anos em Cabo Delgado já provocaram pelo menos 700 000 deslocados e mais de 2 000 mortes.
Pemba fotografada em Agosto de 2014 |
O mundo virado do avesso. O pior é quando damos conta que o avesso com toda a sua preversidade é o lado mais banalizado da vida e tão facilmente desculpabilizado, apesar das palavras dos responsáveis políticos.
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