Diário do regresso a Moçambique, dia 15 - Ilha de Moçambique

Era segunda feira e a calma tinha regressado à Ilha, nessa altura vazia dos carros e dos turistas de fim de semana. E nós regressámos aos banhos no Pontão, onde apenas chegavam as vozes dos miúdos da Escola Secundária da Ilha, a única secundária da parte insular, que nesse dia dava início ao ano lectivo. Do Pontão via-se o telhado da escola parcialmente destelhado pelos ventos do ciclone Gombe, que passou por ali a 9 de Março de 2022. Nesse dia caiu também o Coreto, que há-de ser reabilitado em breve, juntamente como a Capela Nossa Senhora do Baluarte, parte integrante da Fortaleza de São Sebastião, dando seguimento a um memorando de entendimento assinado há dias entre os governos de Moçambique e de Portugal e a empresa Mota Engil.

Depois de uma volta em busca da Casa de Camões, que terá sido a residência do poeta entre 1569 e 1570 e  uma feitoria com portões feitos em Goa no século XVIII, foi o final da tarde passado na mini esplanada do bar e restaurante Âncora d’ Ouro, que já foi um stand de venda de automóveis da empresa João Ferreira dos Santos, mais tarde uma discoteca e depois o restaurante e pizzaria da sueca Eva Sandberg, que nos últimos anos deixou a Ilha e regressou ao seu país. É agora um espaço elegante gerido pela moçambicana Nina, dona também da loja Missanga, na Rua dos Arcos, que vende barcos em madeira ou artigos em capulana. É bom ficar por ali a ver quem passa.

E passa muita gente: as raparigas do Lar das Irmãs a caminho da missa das 18h na Igreja da Misericórdia, os rapazes do Lar São Francisco Xavier com o mesmo destino ou o ilhéu Assane “Mwarussi” (menina, em macua), que me pediu 5 ou 10 meticais (cerca de 7 ou 15 cêntimos). Suspeito que seja ele a inspiração de José Eduardo Agualusa, escritor angolano a quem a mulher, Yara, ofereceu a Ilha, para a criação de Baltazar, de Os Vivos e os Outros. Baltazar, “o vagabundo da Ilha que gosta de passear de noite, vestido como uma mulher macua” e o rosto pintado por mussiro, que é uma pasta branca feita de uma raiz, é uma das personagens de um livro que tem como cenário “o da beleza única da Ilha de Moçambique”.


















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