Diário do regresso a Moçambique, dias 29 a 33 - Do Limpopo à Vila da Praia do Bilene
Nunca tinha ido até tão a norte no Kruger National Park, mas o plano de reentrar em Moçambique pelo posto de Giriyondo, que faz fronteira com o Parque Nacional do Limpopo, fez com que o percorrêssemos desta vez para lá de Olifants. E o plano correu bem e cumpriu-se, mas na falta de um 4X4 foi preciso ainda mais tempo, sorte e um condutor com coragem. Do lado do Limpopo, área rica em ecossistemas (a ANAC – Administração Nacional das Áreas de Conservação diz no seu site que existem 10 distintos) e que juntamente com o Kruger e o Gonarezhou National Park, no Zimbabué, forma o Parque Transfronteiriço do Grande Limpopo, as estradas são de areia e de terra batida. Ou de lama na época das chuvas.
Habitam as suas planícies arenosas ou aluviais e as suas savanas arborizadas praticamente todas as espécies de animais selvagens que existem no Kruger (entre hienas, impalas, hipopótamos ou todos os big five – leão, búfalo, rinoceronte, elefante e leopardo –, assim chamados por serem os mais difíceis de caçar). Mas habitam-no também pessoas, sobretudo na comunidade de Mavodze, que em 2018 acusou a administração do parque de ter introduzido leões com a intenção de obrigar as famílias a abandonar o local onde já residiam antes de 2001, altura da criação da área protegida. Em matéria de animais, ficámo-nos por algumas zebras e girafas. No que respeita à presença humana, vimos algumas casas, palhotas e terrenos cultivados no interior do parque e algures num sítio bem remoto três miúdos de uns 10 ou 11 anos que montaram um business à beira da estrada. Com gestos e gritos (não pareciam falar português) indicam a quem passa um desvio de modo a evitar um troço de estrada alagado. Em troca esperam receber alguns meticais. Ou talvez rands, se os turistas forem sul africanos.
Do Parque Nacional do Limpopo, antiga Coutada 16, seguiu a viagem para Massingir (e a sua barragem bem cheia e a jorrar água), Chokwé (cidade que antes da independência se chamou Vila Trigo de Morais, em homenagem ao engenheiro responsável pelo desenvolvimento do regadio de toda a área, que é de grande potencial agrícola) e Macia (e as mamãs que vendem frutas e legumes à beira da Nacional 1 lá estavam, já noite, umas 10 ou 11 horas depois de termos deixado o Kruger). E finalmente chegada à estância balnear e turística Vila Praia do Bilene, que fica a uns 184 quilómetros da capital. Soube bem o descanso na Casa dos Arcos no bairro de Mahungo, onde nos instalámos, e o dolce far niente à beira da lagoa Uembje, que fica separada do Índico por uma estreita faixa de dunas e que na altura tinha a água mais agitada do que o habitual por causa do ciclone tropical Freddy. E este, entre Madagáscar, Moçambique e Malawi havia de causar pelo menos 605 mortes, o isolamento de populações e a destruição de terrenos cultivados.
E foi a anunciada aproximação do Freddy, que se arrisca a ganhar o título de ciclone de maior duração e trajectória, tendo viajado mais de 10 mil quilómetros desde que se formou ao largo do norte da Austrália e que bateu duas vezes em Madagáscar e outras duas em Moçambique (uma a 24 de Fevereiro), que nos fez prolongar a estadia no Bilene e cancelar os planos de viajar a partir dali para Inhambane e Vilanculos, ponto de partida para o imperdível Arquipélago de Bazaruto. Também ganhou mais dias a estadia em Maputo, que foi uma boa forma de nos despedirmos de Moçambique. Mas isso ficará para a última publicação deste Diário.
O posto fronteiriço de Giriyondo, pouco movimentado mas nem por isso com atendimento rápido se o sistema informático estiver em baixo, está aberto das 8h às 15h de Abril a Setembro e das 8h às 16h de Outubro a Março.
O Parque Nacional do Limpopo tem um custo de acesso de 400 meticais para visitantes moçambicanos ou residentes e de 900 para estrangeiros e de 1000 meticais por viatura. Mais informações sobre o Parque no site da ANAC - Administração Nacional das Áreas de Conservação.
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