Diário do regresso a Moçambique, dias 19 a 25 e 34 a 38 - Maputo

Quando em Outubro de 2020 aceitei o convite do Ler Por Aí para mostrar, em Lisboa, fotografias de Moçambique chamei à exposição A 21ª Viagem. Mas a verdadeira 21.ª viagem a Moçambique, que já tardava, foi feita em Janeiro e Fevereiro deste ano, ao longo de 38 dias e com passagem pelo Parque Nacional de Maputo e Milibangalala, pela Ponta do Ouro, por Nampula e Ilha de Moçambique, pelo Limpopo e Bilene e, claro, por Maputo. E neste regresso, em pleno verão austral, que por lá é época de chuvas, encontrei uma cidade com algumas ruas e bairros alagados, uma cidade aparentemente com mais trânsito, seguramente com mais gruas e com prédios a nascer, a maior parte fruto de investimentos de empresas turcas: um já avançado no local do antigo Mercado do Peixe, outro ao lado do Polana Shopping, mais um em frente ao Parque dos Continuadores, que continua a acolher a FEIMA – Feira de Artesanato, Flores  e Gastronomia de Maputo. 

Encontrei ainda uma cidade onde os polícias já não são "cinzentinhos" e se vestem agora de camisa azul, mudança de visual anunciada em final de 2018 pelo Presidente Nyusi, que afirmou na altura que não quer ver a nova indumentária ser usada para a extorsão ou ameaça do cidadão. E uma cidade com todos os vendedores do costume, de mangas e lichias (e a época quase a terminar), de amendoim e castanha de caju e, para assinalar o dia dos namorados, de  balões amarelos e vermelhos em forma de coração, de flores, carradas de flores, de ursos de peluches em tamanho XL ou de cachorros de verdade. Fevereiro estava quase a terminar e um funcionário da portagem da Costa do Sol ainda nos desejou um "Aproveitem o mês romântico".

Já sabia, antes de chegar à capital moçambicana, que encontraria a Marginal, habitualmente zona de farra e de convívio, mais clean. No início da pandemia, o Conselho Municipal decidiu retirar os vendedores e as barracas que ali existiam, no âmbito de um projecto para mudar a imagem da zona. Na altura li que seria constituída a AFRAMA – Associação de Vendedoras de Frango e Magumba da Praia da Costa do Sol e que seria feito de raiz um mercado para vender o peixe que é uma espécie de sardinha e os frangos assados pelas titias. E numa das manhãs da estadia passei pelo novo mercado, instalado à beira mar, num espaço limpo e organizado. As barraquinhas funcionam agora em contentores decorados com pinturas.

Maputo continua a ter restaurantes, mais antigos ou mais recentes, que animam qualquer estadia. No Botânica, que tem umas chamuças de queijo e mel num menu que mistura influências africanas, mediterrânicas e gregas, houve jantar à luz das velas, logo à chegada, por causa de um corte de energia. E ainda outro com amigos, num dia em que não faltou a luz. No Zambi, tinham acabado os rabinhos de lagostim mas chegou nova entrega antes da refeição terminar. No Campo di Mare, no Clube Marítimo de Desportos, matei saudades, por duas vezes, do frito misto de peixe. No Lugar e Meio, partilhei petiscos. No Dhow, bebi um copo e vi o entardecer. E no que diz respeito a restaurantes novos todas as atenções parecem ir para o elegante Lumma, embora também  nos tenham recomendado o Desfrute, que é de um dos antigos donos de A Nossa Tasca. O Lumma, que tem novo chef e nova gestão, fica mesmo em frente do Comité Olímpico e muito próximo do Museu de História Natural e mereceu duas visitas.

Não podia deixar Maputo sem regressar ao Mercado Municipal, à Aldeia dos Pescadores e à praia da Macaneta, que fica a uns 30 quilómetros. No Mercado, também conhecido como Bazar, já lá não está a banca pequenina de Dona Carlota, que talvez fosse a vendedora mais velha do mercado (uma vendedora de fruta confirma que faleceu), mas continuam por lá as bancas de especiarias ou as lojinhas que vendem cabelo para todos os gostos. À Macaneta, onde chegar já foi uma aventura que envolvia atravessar o Incomati num batelão com muitas décadas (ou em caso de avaria deste, em barcos que só levavam pessoas e não carros), chega-se desde 2016 atravessando a ponte construída pela China e muito recentemente também em estrada de pavimento em betão e não de terra batida. Por lá estava fechado o Praia de Peixe (o Google informa que temporariamente) mas o Lugar do Mar está maior e o restaurante continua bom. E na Aldeia dos Pescadores, onde um dia fui ver e fotografar o amanhecer, conheci desta vez Constância, que fez pose para a câmara e me deu o seu telefone para o caso de eu voltar a Maputo e querer comprar caranguejos. É provável que a volte a ver. 
























































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