#2 Diário de um regresso a Moçambique – Uma pedicure no Bilene
Ao segundo dia deste regresso a Moçambique rumámos à Vila da Praia do Bilene, estância turística e balnear na província de Gaza, a 184 quilómetros de Maputo e a cerca de três horas de carro. Pelo caminho, encontrámos as portagens da Costa do Sol e de Zintava de cancelas abertas e sem ninguém a cobrar; a N1 a precisar de manutenção, com mais buracos; chapas que se passaram a chamar VM7, Povo no Poder ou Anamalala (palavra macua para acabou ou vai acabar); as mamãs que vendem fruta na vila da Macia, paragem obrigatória, à espera de clientes; a portagem da estrada de acesso ao Bilene vandalizada, com os vidros partidos e uma parte da vedação deitada abaixo. Fomos mandados parar no posto de controle de Incoluane, onde uma mulher polícia, de um grupo de uns dez, foi directa ao assunto: "Estou a pedir refresco". Mas que mandou seguir depois de ouvir um não. E, entretanto, leio a notícia de que a Revimo – Rede Viária de Moçambique suspendeu no início de Março os contratos de 1380 trabalhadores ligados aos serviços de portagens.
O Bilene estava tranquilo, demasiado para aqueles que vivem do turismo. Fomos os únicos clientes na esplanada do remoto Highlander Fishing Lodge, um alojamento, restaurante e local de venda de peixe aberto desde 1996 pela mão do sul africano Piet Fraser, especialista de pesca em alto mar, tal como o filho Peter. Diz-me um dos empregados que ali se realiza todos os anos, em Outubro, um campeonato de pesca, mas que não sabe se este ano o mesmo se fará. Fomos os únicos visitantes na praia do São Martinho Beach Club. E talvez tenhamos sido também os únicos a alugar um barco para ir até ao Índico e à faixa estreita de dunas que separa o mar agitado da tranquila lagoa de Uembje, no caso o Ariana, comandado por Arnaldo e Faustino. Ir até à entrada do mar na lagoa, e por ali ficar horas dentro de água, devia ser programa obrigatório para quem vai ao Bilene.
Na vila, na rua principal, abundam os vendedores de tudo: de recargas para telemóveis, de fruta e de coco para o caril, de roupa e de sapatos, de peças de artesanato em madeira ou de trabalhos de beleza. Ali, contratei os serviços de Mazuze, natural da Macia e residente no Bilene, 31 anos e que há dez arranja as unhas de pés e mãos, com o seu mostruário ambulante, depois de ter aprendido o ofício no Zimpeto, em Maputo. Está descontente com a situação actual e com a falta de dinheiro que esta provoca: "Aqui dependemos das visitas, com essa bagunça não temos como". Entretanto, vai sonhando em "casar uma branca". "Mostra lá a minha fotografia em Portugal" pede-me, enquanto me pinta os pés de um verniz vermelho que havia de durar um mês.
A "bagunça" dos últimos cinco meses em Moçambique, que na região de Maputo teve o pico de destruição no bairro que herdou o nome do congolês Patrice Lumumba ou na cidade da Matola, ficou-se no Bilene por uma "passeata" pacífica de algumas dezenas de jovens que gritaram o nome de Venâncio Mondlane e que pediram a redução dos preços dos produtos de primeira necessidade. E por uma invasão do Tinga Birds View Resort por alguns populares, que nesse dia terão usado a piscina e feito brai. Talvez tenham sido atraídos pela "Estadia inesquecível" que um dos cartazes não vandalizados continua a prometer a quem ali passa.
O barco Ariana, que custou para três e para uma manhã 3000 meticais (cerca de 46 euros), pode ser alugado através do telefone 00258 863283189. Mazuze, que faz manicure e pedicure por 300 meticais (cerca de 4,50 euros), pode ser contactado pelo 00258 842704403.
🙌🙌🙌 que bom ler-te!
ResponderEliminarObrigado! Mas quem gosta de me ler? Não sei porquê, mas passaram a ser anónimos a maior parte dos últimos comentários aqui no Blogue
EliminarExcelente, obrigado
ResponderEliminarObrigado Domingos. Vai acompanhando que este Diário está agora a começar.
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