Praga: na zdraví!

Estive em Praga (e também em Berlim, Budapeste e Viena) com três amigas no quente mês de Agosto de 1992. Tão quente que zmrzlina - ou gelado em português - foi a única palavra em checo que me ficou até hoje. Regresso agora com um grupo de 12, entre amigos e amigos de amigos que festejam os 50 anos de um dos viajantes ("O que se passa com os 50?", pergunta uma argentina  de férias em Praga estranhando o motivo da viagem), e com as temperaturas a rondar os três graus de mínima e os dez de máxima. E desta vez, apesar do frio, acrescento pivo - cerveja - ao meu vocabulário em checo (em alternativa, há também chocolate e vinho quentes à venda por toda a parte).
A capital da outrora Checoslováquia e desde 1993 da República Checa continua tão apaixonante como antes (já o escritor francês André Breton a considerava "A capital mágica da Europa"). Apenas com mais turistas (muito mais turistas), mais comércio (pergunto-me o que haveria nas agora Zaras, Batas ou New Yorkers e nas várias lojas que oferecem massagens tailandesas a partir de 9.99 euros um pouco por toda a cidade velha) e com os checos (ou pelo menos alguns checos) mais simpáticos do que há 23 anos.
A estadia foi curta mas deu para regressar a alguns dos incontornáveis de Praga. E o primeiro incontornável da lista, que funciona como uma espécie de ímã para quem chega à cidade, é o Vltava (ou Moldava) e as suas pontes - sendo as mais centrais a most Legii e a belíssima ponte Charles, ou Karluv most, sempre tão cheia de turistas, de músicos, de pintores ou de vendedores de pinturas. Prosseguiu o passeio pelo bairro Malá Strana acima, rumo ao Castelo, onde percorremos a pequena Rua do Ouro (o muito fotografado número 22 foi morada temporária de Franz Kafka) e onde havíamos de voltar com mais tempo para visitar a gótica e imensa Catedral de São Vito e o antigo Palácio Real, outrora residência dos reis da Boémia.
Também a visita à Praça da Cidade Velha (ou Staromestske namesti) teve de ficar para mais tarde, por ser quase impossível na primeira noite - um sábado em que decorria a terceira edição do festival de luzes Signal - furar entre a multidão. Regressámos na manhã seguinte e, em frente ao mais que famoso relógio astronómico, a portuguesa Mafalda, de Viana do Castelo, mete conversa connosco. Diz-nos que trabalha para uma empresa que faz tours em espanhol para turistas e que não pensa voltar tão cedo a Portugal (para além de estar encantada com Praga, os seus amigos estão espalhados pelo mundo, em Paris, em Londres ou no Dubai). E dá-nos algumas dicas sobre a cidade, sendo que aproveitamos a de um bom sítio para comer (apesar de Mafalda achar que comer bem se come em Portugal), o U Provaznice. Este revela-se um restaurante com bom ambiente, boa cerveja, que oferece na ementa algumas especialidades locais como o joelho de porco, o goulash ou o entrecosto. E onde ninguém parece importar-se muito com os brindes (e o barulho) de um grupo de 12: na zdraví!
Deixamos o coração de Staré Mésto e rumámos para Josefov, o bairro judeu, para um interessante e didáctico périplo por várias sinagogas (na Sinagoga Espanhola conta-se a história dos  judeus nesta parte da Europa central, na Sinagoga Pinkas há um emocionante mural com os nomes das vítimas checas do holocausto e desenhos feitos pelas crianças do campo de concentração de Terezín, entre 1942  e 1944) e para uma visita ao velho cemitério judeu. Este esteve em funcionamento entre o início do século XV e o ano de 1787 e continua hoje a impressionar, talvez pela melancolia do local (apesar dos turistas), talvez pelas caóticas lápides - vários milhares - que marcam a paisagem (pormenor prático: todos os acessos são pagos e há várias modalidades de bilhetes, que incluem mais ou menos "atracções" do périplo pelo bairro).
Neste retorno a Praga, houve tempo ainda para algumas descobertas: de novos recantos (como a rua mais estreia de Praga, com direito a semáforo para peões, ou o mural dedicado a John Lennon), de bares de jazz (o antigo Reduta Jazz Club, no número 116 da Národni, onde Bill Clinton tocou em 1994, foi a escolha para uma noite ao som da Jakub Zomer Band), de sabores (gostei do queijo frito disponível em todas as ementas), de vistas (valeu a pena a subida à pequena torre Petrin, inspirada na famosa torre de Paris e localizada no cimo da colina do lado de lá do rio), de igrejas (na que acolhe a imagem do Menino Jesus de Praga, no número 9 da Karmelitska, fomos recebidos pelo padre Anastasio, que nos mostrou fotos e nos falou um pouco do seu trabalho de missionário na República Centro Africana).  Ou ainda de verdadeiras pérolas da arquitectura, como a Casa Municipal (Obecni Dum), que funciona como sala de espectáculos. Ali, vale a pena fazer uma pausa no elegante café construído em 1912, para um chá ou para provar uma fatia de bolo de chocolate a que não falta uma cereja no topo.
E a cereja no topo desta visita seria ter havido tempo para um concerto de música clássica (há-os em quase todas as igrejas) e para um salto à antiga estação termal de Karlovy Vary, a cerca de 120 quilómetros da cidade e um dos destinos mais visitados do país. Ou ainda ter eu tido a coragem de me levantar cedo (talvez muito cedo) para percorrer a ponte Carlos vazia de gente e apenas na companhia das esculturas de santos, mártires e heróis nacionais que ali foram sendo colocadas ao longo dos tempos (as primeiras estátuas datam de finais do século XVII mas muitas das actuais são reproduções das antigas). Mas isto fica para uma eventual terceira viagem a Praga.

































































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