História de uma fotografia nos 202 anos da Ilha de Moçambique
Há dois anos, nas vésperas do 200.º aniversário da Ilha de Moçambique como cidade, antecipei a enchente de visitantes e dei uma volta pela ilha ainda tranquila, primeiro pela contra-costa e depois pelo lado que dá para o continente. Mais ou menos a meio, na ponta com vista para o Fortim de São Lourenço, fiz alguns retratos de miúdos que vieram ter comigo e de uma ou outra moradora do bairro Unidade. E uma delas pediu-me, meio em macua, meio em português, se lhe podia dar a fotografia em papel, pelo que lhe prometi que lha levaria se um dia regressasse à Ilha.
Regressei um ano mais tarde, na festa dos 201 anos, e levei comigo a foto numa moldura que fez sucesso e que deu origem a uns quantos "kochucuro, kochucuro", que é como se diz obrigado na língua local. Levei também impressa uma fotografia de uma das crianças que tinha retratado, uma menina com a cabeça coberta por um lenço preto, com umas farripas com missangas a cair-lhe para a cara, e que na altura me surpreendeu quando me disse não saber a sua idade. Também não cheguei a saber o seu nome mas na segunda visita a vizinhança deu uma ajuda. Selma estava no mar, ali perto, a apanhar "marisco" e todos desataram a gritar por ela. Regressou a correr, diferente, cabeça destapada, uma blusinha de alças e com um piercing no nariz. Pareceu feliz com a visita inesperada.
A Ilha, Património Mundial da Humanidade, faz hoje 202 anos, sem grande festa por causa da Covid. Mas com direito a obras de repavimentação de algumas ruas ou a uma carta dos ilhéus publicada na página do Município no Facebook, onde invocam a milenar história da primeira capital de Moçambique e o orgulho de aí terem nascido.
Ilha de Moçambique, Setembro 2018 |
Ilha de Moçambique, Setembro 2019 |
Ilha de Moçambique, Setembro 2019 |
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