Moçambique: vai uma manicure?

Hoje, primeiro dia do segundo desconfinamento das nossas vidas pós pandemia, em que abrem em Portugal os cabeleireiros e os espaços onde se faz manicure, lembrei-me da pergunta mais surpreendente que me foi feita durante as estadias em Moçambique. Uma pergunta que na realidade foram duas, feitas por dois homens, em dois momentos diferentes: se eu já tinha alguma vez cortado o cabelo e se já tinha "ido ao salão". E o meu cabelo, que nessa altura devia estar mais ou menos pela altura dos ombros, voltou a ser alvo de atenção quando uma vendedora de galinhas mo pediu durante uma ida ao mercado de Xipamanine ("Estou a pedir cabelo"). Mais tarde,  num estúdio dedicado às unhas, as raparigas de serviço sugeriram que eu o poderia vender por "bom dinheiro" precisamente em Xipamanine, o  maior e mais mal afamado mercado da capital, onde também se vendem cabeças de vaca inteiras para fazer petisco ou mãos de macaco embalsamadas e pele de cobra nas bancas dos curandeiros.

Lembrei-me também de Osvaldo, que encontrei na última temporada em Maputo, em Setembro de 2019, na zona da Estação do Caminho de Ferro, e que arranjava as unhas por poucos meticais (qualquer coisa como um euro). Ou por poucos meticais e mais alguns se o verniz fosse de melhor qualidade. Osvaldo é um dos muitos rapazes que percorrem as ruas da cidade em busca de clientes, com as suas tábuas de madeira cheias de frasquinhos coloridos. Ou percorriam, já que a pandemia complicou ainda mais a realidade do desemprego em Moçambique (com perda do poder de compra) e tem diminuído as oportunidades de trabalho no sector informal da economia.

Em 2018, leio na DW - Deutsche Welle, que em Maxixe, na província de Inhambane, era este o negócio de Nido, casado, pai de três filhos, que aprendeu a actividade na África do Sul, chegou a trabalhar em Maputo e na altura empegava temporariamente três jovens. E de Matias Pedro, um adolescente de 15 anos que deixou a família em Funhalouro em busca de melhores condições de vida, ou de Valdimiro, que conseguiu lobolar (pagar o dote à noiva num casamento tradicional), com os rendimentos da actividade de manicure.






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