Moçambique: à descoberta das praias de Inhambane

Aterro no aeroporto de Maputo, pela oitava vez se as contas não me falham, e pouco antes de o avião se fazer à pista vejo lá do cimo o serpentear do rio Incomáti, a construção já avançada da ponte que ligará Marracuene à península da Macaneta e ainda as fumarolas da imensa lixeira de Hulene, que teima em continuar por ali apesar do descontentamento dos habitantes e das promessas para o seu encerramento.
Mas desta vez servirá a capital – que por ser Janeiro tem muitos dos seus habitantes em férias grandes de Verão – sobretudo como ponto de partida para uma viagem de dez dias de carro, Estrada Nacional 1 acima, em busca das praias da província de Inhambane e com dias de dolce fare niente programadas para o Tofo e Pomene (duas estreias) e também para Vilanculos e Bazaruto (um regresso).
Parto cedo no dia seguinte (ou não tão cedo assim, se tivermos em conta que o dia nasce pouco depois das cinco da manhã) e passo pelos destroços do velho mercado do peixe para sair da cidade, via Costa do Sol. Quinhentos quilómetros, oito horas, centenas de placas de redução de velocidade (primeiro para 80 e logo a seguir para 60) e dezenas de patrulhas policiais depois (com direito a duas paragens e a zero multas, o que é uma proeza), chegamos ao primeiro destino, a cidade de Inhambane, para um final de tarde e uma noite de descanso no bem localizado hotel Casa do Capitão (Avenida Maguiguana, telefone +258 29 321 413).
Inhambane, a que Vasco da Gama chamou "Terra da Boa Gente" quando ali aportou em 1498 (consta que em busca de água para a sua tripulação), é uma cidade limpa (tem a fama se de ser a mais limpa do país) e tranquila (talvez mais tranquila do que no tempo em que a venda de escravos era por ali o principal negócio). Tem algumas construções do tempo colonial reabilitadas, uma bonita estação de comboios desactivada, um animado pontão com embarcações que a ligam a Maxixe (do outro lado da baía), um jardim com uma estátua de Samora Machel (sempre presente), uma mesquita que data de 1840, uma igreja dedicada a Nossa Senhora da Conceição e construída pelos portugueses e um mercado central.
E é ao mercado que na manhã seguinte dedico algum tempo antes de partir rumo à vizinha praia do Tofo. Mal entro, oiço um habitual "Pode apreciar mãe", tratamento que agora já não me espanta (enquanto não me chamarem avó). Depois de alguma negociação acabo por comprar um paliteiro em pau-preto e uma timbila (um instrumento musical da família dos xilofones), o que leva o vendedor a contar-me que há homens que tocam timbilas tão grandes que precisam de fumar umas ervas locais, evocar espíritos ou fazer exercícios com pedras nos ombros antes de começar. Pelo sim, pelo não, compro uma de pequenas dimensões e sigo viagem. Até ao Tofo são 23 quilómetros e é um prazer percorrer a estrada que liga a cidade a esta zona do litoral – pelo verde que a rodeia, pelas casinhas de palha que marcam a paisagem, pela expectativa de uns bons banhos de mar e sol.
A afamada e acessível praia do Tofo (tem a vantagem de não ser preciso um 4x4 para lá chegar) foi uma importante estação balnear nos tempos coloniais, serviu de cenário para uma novela da TVI (a Jóia de África) e é agora um destino popular para moçambicanos, expatriados e sul-africanos em férias. Pelo que temos de partilhar o imenso areal com veraneantes, miúdos em férias escolares, pescadores e vendedores de comida e bugigangas várias (um vende água de lanho, nome alternativo para a água de coco, e promete voltar mais tarde, outros vendem bolinhos de sura, feitos a partir da seiva de palmeira fermentada). O que não afecta muito a tranquilidade do local.
Mas ao terceiro dia, e depois de termos dado um salto ao Tofinho (ao lado do Tofo e geralmente com boas ondas para quem gosta de surfar) e uma espreitadela ao monumento dedicado aos guerrilheiros da Frelimo que morreram na guerra, aceitámos a sugestão de um português residente em Maputo e de férias por ali: não podíamos perder a Praia da Barra ("Mais sossegada do que a do Tofo") e não podíamos deixar de jantar (acabámos por almoçar) no The Green Turtle ("É top!"). E em boa hora o fizemos.
A Praia da Barra, a dez quilómetros a norte do Tofo, revelou-se uma verdadeira maravilha do litoral da província de Inhambane, com uma areia muito branca e fina e quase deserta. E o restaurante gerido por um casal francês (e que pertence ao alojamento Bay View Lodge) uma bela experiência gastronómica. Está aberto há quatro anos, depois dos donos terem passado seis n' O Escondidinho, na Ilha de Moçambique, e serve pratos como carpaccio de peixe-serra, cabeças de lula com gengibre ou caril de camarão com arroz de coco. Dias mais tarde, em Vilanculos, a também francesa Sabrina e dona da Casa Babi, que já conhecíamos de outras viagens, haveria de nos dizer que esta é a "melhor cozinha de Moçambique" – embora tenha acrescentado que não conhece bem os restaurantes de Maputo. Pelo menos de Inhambane e arredores será certamente.
Regressamos satisfeitos para a última noite no Tofo e para a despedida do Tofo Mar, a opção de alojamento para os primeiros dias desta viagem on the road. Abundam no Tofo os investimentos sul-africanos em matéria de sítios para dormir, mas a nossa escolha recaiu sobre o branquinho Tofo Mar, que abriu renovado em 2013 (nasceu em 1969 com o nome actual mas também já se chamou Marinhos). Com 13 quartos de tamanhos, luxos e preços vários (de 4400 a 11200 meticais, ou cerca de 89 a 228 euros por noite e para dois ao cambio actual) e a "melhor esplanada do Índico" (como se apresenta aos hóspedes), é um investimento do ex-ministro português Nuno Morais Sarmento e sócios, que têm também uma empresa – a Diversity Scuba – que funciona como escola de mergulho e organiza safaris oceânicos para fazer snorkeling. Ou não fosse a possibilidade de ver tubarões baleia, mantas, golfinhos e baleias (de Junho a Novembro) a maior atracção destas águas.









































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