Zanzibar: retrato de um cesteiro
"Dollar" ou "money" podem ser as respostas que se seguem, em Zanzibar, a um pedido para fotografar alguém. Ou então, apenas um não ou um movimento feito com a cabeça. Um senhor, vizinho do hotel que nos acolheu na praia de Jambiani, disse-me que sim. Pelo que vale a pena contar a história.
Estive três noites no Mamamapambo Boutique Hotel, propriedade dos italianos Paolo e Cristina, e sempre que saía para explorar os arredores (e que regressava satisfeita depois de um dia a olhar para o rochedo mais fotogénico do mundo ou de outro passado na tranquila praia de Bwejuu) lá estava ele com as suas vergas, sentado à porta de casa. Trocámos durante esses dias alguns sorrisos, sobretudo quando ele tinha de acalmar uma menina muito pequena que desatava a chorar sempre que me via.
No dia da partida, decidi oferecer-lhe umas caixas de smarties para a criança, que naquela altura não estava em casa. Primeiro pensou que eram caixas de fósforos mas depois de alguns gestos (e de eu própria ter comido um smartie) acho que percebeu a intenção. E ficámos por ali a conversar um pouco, eu em inglês, ele em suaíli, os dois com gestos a acompanhar. Confirmou o que eu já tinha percebido, que faz cestos para transportar frutos ("mangos, mangos") e o que mais seja preciso (há cestos do mesmo género em quase todas as motos e bicicletas que circulam pela ilha). E, no fim, pôs-se em posse quando lhe perguntei se o podia fotografar.
Disparei duas vezes, sorri, agradeci e já dentro do carro ainda consegui perceber a palavra "photocopy". Faço que sim com a cabeça e começo logo a pensar na melhor maneira de cumprir o prometido, consciente de que não sei nada sobre o funcionamento dos correios em Zanzibar ou na Tanzânia e com a certeza quase absoluta de que a casa não terá número de porta.
Mas depois de uma troca de e-mail's com a dona do Mamamapambo está assegurado o envio da fotografia impressa: irá esta seguir viagem para a sua morada em Milão e daí transportada em mão para o seu vizinho em Zanzibar. Por correio, acha ela, cerca de 90 por cento das coisas não chega ao seu destino. Também me diz que o meu fotografado ficará feliz ao receber a foto. Eu tenho a certeza que ficará surpreendido.
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