Madeira: Melo's on trip

Depois de Zanzibar, a ilha onde nasceu Freddie Mercury (ver aqui e aqui), regresso a Portugal e rumo à ilha de Cristiano Ronaldo, provavelmente o português mais conhecido no mundo (e em Zanzibar não foi excepção, com um polícia, numa paragem stop, a perguntar-nos por ele, quando viu que a carta de condução era portuguesa). E esta viagem à Madeira, também a ilha de relevo acidentado, da floresta de Laurissilva, das levadas, dos túneis rodoviários sem fim, das lapas grelhadas, das ponchas, das espetadas de carne de vaca tradicionalmente em pau de louro ou do peixe espada feito com banana, maracujá ou molho de manga, foi curta mas especial.
Foi uma viagem em família, com o mais velho dos viajantes a fazer o baptismo de voo (um pouco ao jeito do projecto Antes de Morrer Quero..., do Centro Comunitário da Gafanha do Carmo, que em 2015 invadiu as redes sociais com fotografias dos seus utentes que seguravam cartazes com desejos vários: Andar de avião, Voar, Pintar o cabelo de azul ou Dar um grande beijo na boca) e com os mais novos a publicarem a volta à ilha no Instagram, com a hashtag Melo's on trip.
Não tivemos muito tempo para partir à descoberta do melhor que a Madeira tem, sendo que para três dos cinco viajantes tudo era novo por ser esta a primeira viagem por ali. Mesmo assim, num final de tarde e em dois dias inteirinhos fizemos boas descobertas gastronómicas, passeamos um pouco pela zona velha do Funchal (e subimos de teleférico até ao Monte) e demos quase a volta à ilha. No primeiro dia viajámos para Leste, com paragens em Machico, na bela Ponta de São Lourenço (faltou fazer o percurso a pé, a partir do estacionamento), em Porto da Cruz, em Santana (onde fomos tentados a visitar o Parque Temático da Madeira, um lugar tranquilo e talvez interessante para famílias com crianças pequenas) e São Jorge (obrigatório parar no miradouro antes do Arco de São Jorge) e  com regresso por São Vicente, Serra de Água (para uma obrigatória poncha, de maracujá, ao final da tarde) e Ribeira Brava. No dia seguinte, viajámos para Oeste, num percurso que incluiu um demorado almoço num sítio imperdível, a descoberta (mais exterior do que interior) de um museu instalado num premiado edifício, um pôr-do-sol acompanhado de nova poncha (desta vez de tangerina) e um jantar num original restaurante em Campanário, perto da Ribeira Brava. 


Um lugar imperdível

A Fajã dos Padres, que fica na Quinta Grande, entre Câmara de Lobos e a Ribeira Brava, e que me escapou na primeira e longínqua viagem à Madeira, tinha desta vez que ser incluída no roteiro dos sítios a visitar. E ainda bem que o foi. A descida a pique no novo teleférico (foi inaugurado em Abril de 2016, substituindo o velho elevador que ainda se mantém ali ao lado) não é barata mas vale todos os euros (10 por pessoa) investidos. Pela paisagem, pela tranquilidade, pela História (apesar do seu isolamento, a Fajã é um local habitado e cultivado desde o início do povoamento da Madeira, tendo pertencido aos padres da Companhia de Jesus durante mais de 150 anos), pela praia (de calhaus rolados) e pelo restaurante (ficaram aprovadas as lapas grelhadas e também o peixe espada com molho de manga e tudo o que o acompanhava; milho frito, legumes da horta grelhados e batata doce).
Também acessível por barco (o Malvasia) a partir do Funchal ou das localidades mais próximas ou através de um percurso mais radical, para praticantes de canyoning, a Fajã tem algumas das antigas casas transformadas em alojamento (oito à beira mar e com nomes como Casa do Barco, da Júlia ou da Tia Maria e um bungalow instalado no antigo palheiro), uma adega que é possível visitar (com reserva prévia e para mais de 5 pessoas), espaços cultivados onde nascem frutos tropicais e legumes vários e um funcionário simpático (Nélio, a trabalhar há 14 anos na Fajã) com quem fico um pouco à conversa no final. E que nos diz que nos dias de maior afluência a Fajã pode receber umas 400 pessoas ou que há turistas que lamentam o fecho do antigo elevador, que implica descer e depois subir quase 400 degraus e que agora só é usado quando o novo teleférico está em manutenção.
Mais informações e reservas de alojamento ou para o restaurante (aberto das 10h às 17h no Inverno e até às 18h no Verão e ao jantar para grupos de 20 ou mais) através do info@fajadospadres.com ou pelo telefone 291944538.






















Uma vista

Na Madeira abundam as boas vistas, sendo que as proporcionadas pela subida no teleférico do Funchal até ao Monte são únicas, com o mar ao fundo, as casas encavalitadas encosta acima e alguns carros estacionados em sítios improváveis. O teleférico, que percorre 3200 metros em cerca de 15 minutos, está aberto todos os dias (menos a 25 de Dezembro) e o preço é de 10 (um percurso) ou 15 euros (ida e volta) para adultos e 5 ou 7,50 para crianças dos 7 aos 14 anos (grátis até aos 6). Há ainda bilhetes combinados, que incluem uma visita ao Jardim Tropical  Monte Palace (26.50 euros) ou um city tour (23.50). Mais informações no site.








Uma igreja

Estava a missa das 10h de domingo ainda a decorrer quando chegámos à igreja de Nossa Senhora do Monte, igreja reconstruída após o terramoto de 1748 e lugar de festa religiosa anual a 15 de Agosto. Vale a pena ficar um pouco por ali a gozar as vistas sobre o Funchal, antes de partir à descoberta dos jardins da Quinta do Monte (a última residência do imperador Carlos I da Áustria, que morreu no exílio em Abril de 1922) ou do Jardim Botânico Monte Palace, que tem plantas exóticas de todo o mundo e um museu com duas galerias de esculturas africanas e outra com uma colecção de minerais provenientes de vários continentes.










Uma rua

Foram as boas referências sobre o restaurante Jaquet, uma espécie de tasca que só serve peixe frito e que não aceita reservas, que nos levaram à estreita e pedonal Rua de Santa Maria, na zona velha do Funchal, logo no início da viagem. Mas ficaram as suas iguarias por provar (é famoso o peixe espada em vinha de alhos), por ainda não serem oito horas e este se encontrar cheio (ou quase cheio) e o sr. Gonçalves, o dono, se mostrar pouco empenhado em encontrar uma solução. O que tinha sido fácil: havia uma mesa que dava para cinco ocupada por um casal que ainda não tinha começado a jantar e uma mesa para dois livre mesmo ao lado.
Depois de andarmos um pouco por ali, entre muitas portas pintadas com motivos vários, acabou o jantar por ter lugar no Venda de Donna Maria (localizado no número 51 e que tem fado às segundas, quartas e domingos), onde ficou aprovada a comida (um peixe espada servido com banana e maracujá seria a primeira de várias refeições dedicadas ao mar), o atendimento, o preço (60.80 euros para cinco, sem entradas nem sobremesas) e a decoração, a fazer lembrar uma mercearia antiga.








Um museu

O interior do Mudas Museu de Arte Contemporânea foi visto a correr, em dez minutos, que era o tempo que faltava para fechar (está aberto de terça a domingo, das 10h às 17h). Mas mesmo que só nos tivéssemos ficado pelo exterior e pelas vistas (já agora, a praia que se vê é de areia clara e importada) já não seria em vão a viagem até à Calheta.
O Mudas, um projecto premiado internacionalmente do arquitecto madeirense Paulo David, foi inaugurado em Outubro de 2015 em resultado da transferência da colecção do antigo Museu de Arte Contemporânea do Funchal, localizado na Fortaleza de São Tiago, para o Centro das Artes Casa das Mudas (este inaugurada em 2004). Tem uma colecção permanente com obras de artistas como Pedro Calapez, José Pedro Croft ou Pedro Cabrita Reis, entre muitos outros. Mais informações aqui.




















Um lugar para ver o pôr-do-sol

Um antigo colega de trabalho, fotógrafo, que escolheu a Ponta do Sol para viver, diz-me, quando lhe pergunto por Messenger uma ou outra coisa sobre a Madeira, que a sua vila é a mais bonita da ilha. Não sei se será ou não mas neste mini roteiro tem direito a figurar como o melhor lugar para ver o pôr-do-sol. E para isso é só escolher entre o restaurante Sol Poente (que alguns no Triadvisor acham valer a pena não pela comida ou atendimento mas apenas pela óptima localização e vistas sobre o mar) ou o Maré Alta, mesmo sobre a praia. Nós ficámo-nos pelo segundo e apenas por uma bebida ao final da tarde (uma poncha, pois claro), que o jantar havia de ter lugar em Campanário, já a caminho do Funchal.












Um restaurante

E depois de muito peixe espada (primeiro com banana e maracujá, a seguir com molho de manga), algum atum (em tomatada e comido no Colmo, em Santana) e um jantar de lulas grelhadas comprado no take away do Tourigalo da Achada (uma opção prática para quem ficar alojado em apartamentos por perto), estava reservada a última refeição para as famosas espetadas de carne em pau de louro ou em espeto. Que acabei por não provar, por não ser muito fã de carne de vaca e por serem várias as opções alternativas no La Parreira, um original restaurante em Campanário, perto da Ribeira Brava.
Somos atendidos pela dona Teresa, que nos explica como funcionam as coisas: no balcão do talho escolhemos a carne que queremos que nos cozinhem e alguns acompanhamentos (optamos por espetos de vaca, de salsichas, de entrecosto, de frango, de abacaxi e de queijo, este a fazer lembrar as espetadas de queijo de coalho que há anos provei no areal de Ponta Negra, no Brasil, um bolo do caco com manteiga de alho e uma dose de batata doce), no café ao lado do talho escolhemos as bebidas e mais alguns acompanhamentos (uma salada e o obrigatório milho frito) e do outro lado da estrada esperamos que tudo nos chegue à mesa.
E foi esta uma refeição feliz. Pela qualidade dos produtos, pela excelente confecção, pelo atendimento e pelos preços verdadeiramente simpáticos: cada espeto custa 2 (os de abacaxi), 3.50 ou 4.50 euros, uma dose de batata doce 6,50 e um bolo do caco gigante 3. Para os mais aventureiros, há ainda, para além dos referidos, espetos de rim, coração ou fígado. Mais informações: 291957025 ou 967575958.

Uma taberna para beber poncha

O melhor sítio da Madeira para beber poncha é, para muitos, a avaliar pelos comentários disponíveis na Internet, a Taberna da Poncha, em Serra de Água, mais ou menos a meio caminho entre São Vicente e a Ribeira Brava. E nós lá fomos, depois de um dia a viajar pela ilha, experimentar a típica bebida, vendida ali em versão tradicional (aguardente com mel e limão) e nas versões maracujá e tangerina. Sempre com amendoins a acompanhar, que é tradição descascar para o chão.
A Taberna da Poncha, que tem uma balcão muito concorrido, paredes cheias de cartões de visita de quem por ali passou, uma esplanada e vários espaços interiores, fica mesmo à beira da estrada mas pode não ser fácil de encontrar (não confundir com a Tasquinha da Poncha ou outros estabelecimentos afins). Mais informações: 291952312.




Um alojamento

Como um hotel para cinco estava fora de questão, ainda pensei estrear-me no Airbnb para alugar um apartamento no Funchal. Mas acabou por ser no Booking que encontrei um Excelente T3 Duplex no bairro da Achada por 210 euros para 3 noites (com três quartos, cozinha equipada, uma sala com varanda com vista de mar e garagem). Fica na Rua do Alto do Pico, a mais ou menos um quilómetro (sempre a descer e no regresso sempre sempre a subir) da Marina e da Avenida do Mar. Mais informações com o dono, Jorge Caldeira, através do telefone 918215345.


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