Desconfinando por aí (take II): Serra da Lousã

Desde a leitura de Terra Que Já Foi Terra, uma análise sociológica sobre nove lugares agro-pastoris da Serra da Lousã assinada por Paulo Monteiro, para a cadeira de Ciências Sociais na Faculdade, no ano de 1987 ou 1988, que nomes como Talasnal, Vaqueirinho ou Chiqueiro me ficaram a bailar na memória. Data também dessa altura a vontade de conhecer ao vivo as aldeias que foram sendo abandonadas por gente que procurava em Lisboa ou na vila da Lousã uma vida mais fácil do que a de ser agricultor em terras tão pobres, com o xisto quase à vista, ou por quem emigrou para longe, para os Estados Unidos ou para o Brasil, onde, em 1867, era fundada no Estado de São Paulo a colónia agrícola Nova Lousã, que logo no início empregava 29 lousanenses e passados oito anos 76, incluindo sete casais.

Mais de três décadas depois, para comemorar o fim de mais um confinamento, rumei finalmente à Serra da Lousã, que, juntamente com a Serra do Açor e a da Estrela, faz parte de um dos alinhamentos montanhosos mais importantes de Portugal, a Cordilheira Central. À lista das aldeias do concelho da Lousã que queria visitar  Cerdeira, Talasnal, Casal Novo, Chiqueiro e Candal  juntei Casal de São Simão, no concelho de Figueiró dos Vinhos, Comareira, Aigra Nova e Aigra Velha, as três no concelho de Góis, e Gondramaz, a "aldeia mais que perfeita", assim considerada pela rede das Aldeias do Xisto, esta no concelho de Miranda do Corvo. Pelo caminho, fui encontrando velhos e novos aldeões: Albertino Torres, com quem podia ainda hoje estar à conversa, Esperança, mais preocupada em lavar a roupa que esfregava no tanque do que em falar comigo, Vanessa, que há dois anos deixou Cascais e agora toma conta de alojamentos locais em Candal, ou Maria do Céu, a única moradora da Comareira e que não gosta de ter os veados por companhia.

Preparei esta viagem de cinco dias, todos úteis, de segunda a sexta, que aos fins de semana a Serra pode ficar demasiado cheia (diz-me Vanessa que no Candal, a única das aldeias que fica à beira da estrada, a N236, e também das poucas que nunca chegou a ficar despovoava, chega-se a andar "aos encontrões") com os textos, roteiros e dicas do Viajar Entre Viagens, do Vagamundos e do  Alma de Viajante. E estou como o Filipe Mourato Gomes, que foi adiando eternamente a ida à Lousã: "Há destinos que não mereciam esperar tanto tempo." 


Mais sobre a viagem à Serra da Lousã aqui (primeiro dia), aqui (segundo dia) e aqui (terceiro dia).


Isto é Lousã, entre Chiqueiro e Casal Novo

Talasnal

Candal

Candal

Gondramaz

Cerdeira


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