Diário do regresso a Moçambique, dia 13 - Ilha de Moçambique

Era sábado e a Ilha estava a ficar cheia de gente e de carros chegados de Nampula ou de Nacala, ainda mais por sexta ter sido Dia dos Heróis Moçambicanos, feriado nacional. Mas o pontão estava tranquilo, a maré muito baixa e a deixar ver bem o rebocador por ali naufragado, que me dizem ter pertencido em tempos à família João Ferreira dos Santos. E a história da JFS, leio no site da empresa, remonta ao final do século XIX, quando um rapaz humilde, de 19 anos e originário da zona Oeste de Portugal, abriu na Ilha de Moçambique um modesto estabelecimento comercial, que seria o início de um importante grupo económico, que ainda hoje tem actividade no sector agrícola, como a produção de algodão ou de sisal, na indústria metalomecânica ou no sector da energia.

Ao pontão foram chegando alguns rapazes (há sempre rapazes que nos fazem companhia pela Ilha) e com eles ficámos à conversa, nós dentro de água e eles sentados nos degraus de acesso ao mar. Abdul, o miúdo com mais imaginação, conta-nos sobre a viagem que fez ao Dubai, onde o pai lhe ofereceu o Burj Khalifa e onde conduziu um carro de ouro. Também nos tenta vender três leões que tem em casa, num negócio que tem de ser discreto, com entrega dentro de uma caixa de cartão. Abdul gosta de falar sobre futebol (o Benfica é o clube do coração e sobre o Sporting diz que “Esse aí nem é clube”) ou sobretudo sobre comida, com destaque para a xima, que é um acompanhamento à base de farinha. Fiquei a saber que xima preta, que é feita de farinha de mandioca e em macua se chama karakata, faz de qualquer um um homem, capaz de carregar “até 200 quilos”. E que quem come xima branca, feita de farinha de milho e conhecida por Celeste, não consegue carregar nem um quilo. “My name is Black Xima”, diz-nos na despedida.


















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