Diário do regresso a Moçambique, dia 14 - Ilha de Moçambique e Lumbo

O pequeno almoço tomado ainda antes das oito na esplanada do Feitoria, que fica sobre o mar, foi um dos raros momentos frescos desta viagem à Ilha, se exceptuarmos as horas passadas dentro de água. Mas foi fresco de pouca dura. Domingo é dia de feira semanal no Lumbo, povoação que faz parte do distrito da Ilha de Moçambique embora se localize no continente. E foi para lá que segui, com uma paragem junto ao mercado do peixe de Jembesse para fotografar do lado de quem chega a ponte projectada pelo engenheiro Edgar Cardoso e inaugurada nos anos 60, os pescadores e os vendedores de macuti, que é o nome dado às folhas de coqueiro usadas para cobrir as casas e também ao bairro de construções precárias da Ilha, construído parcialmente abaixo do nível do mar - por dali terem sido retiradas as pedras que permitiram construir a Cidade de Pedra e Cal.

Foi esta ida à feira, onde há bancas de carvão (uma é do vendedor Eleutério Adriano), de cestos, de roupas em segunda mão que chegam a África em fardos (as “calamidades”), de farinha de milho e de mandioca (para a xima) ou de frutas e legumes, aproveitada para comprar uma capulana e uma dúzia de cadernos, que o ano lectivo havia de começar no dia seguinte. E foi aproveitada também para conhecer o Aeródromo do Lumbo, com a sua aerogare e a torre de controle em bom estado, e o bem cuidado cemitério inglês, que presta homenagem aos combatentes da comunidade britânica que morreram em Moçambique durante a I Guerra Mundial. Faltou dar um salto às ruínas do hotel que existiu no Lumbo e que em 1950 recebeu o príncipe Ali Aga Khan, de visita à comunidade ismaelita, e a actriz norte americana Rita Hayworth, com quem na altura era casado.

De regresso à Ilha, saímos para o mar com o capitão e arquitecto Gabriel, um italiano que vive por ali há 23 anos e que recuperou muitas das casas da Ilha (também é o dono do alojamento Pátio dos Quintalinhos, que fica em frente à mesquita principal e ao lado da “escolinha” gerida pela ONGD portuguesa Helpo). Rumamos à Cabaceira, que é zona de mangal e onde há armadilhas de pesca, e ao banco de São João, um pedaço de areia branca e fina no meio do mar que nem sempre se deixa ver. Há quem diga que é o melhor sítio para se falar de tudo, incluindo de política e de políticos. É aproveitar antes que a maré suba. 













































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