Jerash, Jordânia: entre ruínas gregas e romanas e petiscos libaneses
"Hi", "Hello", "Welcome", "Welcome to Jordan", "Where are you from?", "Portugal? Nice people, nice country", "Portugal? Cristiano Ronaldo, the best". Foi esta a banda sonora das duas semanas pela Jordânia, uma viagem que tinha tudo para correr bem. Afinal, é na Jordânia, um país carregado de História e habitado por um povo que gosta de receber bem, que fica Petra, cidade única no mundo, e o deserto de Wadi Rum, assim uma espécie de planeta Marte no planeta Terra, usado desde o Lawrence da Arábia como cenário de vários filmes. E onde ficam também as ruínas gregas e romanas de Jerash, escondidas pela areia durante séculos e alvo de trabalhos arqueológicos ao longo das últimas sete décadas. Surpreendem pela dimensão e pelo estado de conservação. Visitá-las era o programa para a estreia na Jordânia.
Depois de uma primeira noite passada perto do Queen Alia International Airport e de um inesperado pequeno almoço num IKEA localizado na Airport Road (onde por agora, mês de Ramadão, se servem buffets de iftar, a refeição da quebra de jejum, a 7.99 dinares), rumámos a norte, numa viagem curta, de cerca de 75 quilómetros. Pelo caminho, os primeiros rebanhos de ovelhas e de cabras; o primeiro lixo, sobretudo plásticos, a marcar a paisagem (o pior da Jordânia); bancas de frutas e de legumes de tamanho XL, muito arrumadas; muitas lojas de plantas pois o país não é só deserto; mesquitas com os seus minaretes e cúpulas (cerca de 92 por cento da população é muçulmana sunita); rapazes que anunciam a venda de chá e café abanando tabuleiros redondos e prateados quase em cima da estrada; dois cartazes de publicidade ao Lebanese House Restaurant, também conhecido como Um Khalil e que o Lonely Planet considera ser "um tesouro nacional" desde a abertura em 1977.
Almoçar por lá fazia parte dos planos, mesmo antes de me cruzar com os anúncios à beira da estrada. Mas antes disso, foi a manhã passada a percorrer a antiga cidade de Jerash, quase sempre na companhia do chamamento das mesquitas que chegavam da cidade nova. Depois de entrar pelo Arco do Triunfo de Hadrien, construído no ano 129 aquando da visita do imperador que lhe dá o nome, encontra o visitante o antigo hipódromo, onde se faziam corridas de carruagens e que podia receber até 17 000 pessoas, a belíssima Praça Oval com as suas colunas quase intactas, o Cardo Maximus, que é a avenida principal de 800 metros, o Templo de Zeus, o Teatro Sul, que pode receber 3 000 espectadores e que se enche de gente todos os anos no Verão durante o Jerash Festival for Culture and Arts (realiza-se desde 1981 e teve uma interrupção em 2020 por causa da pandemia), o Templo de Artémis, com boas vistas para a cidade, o Teatro Norte, quase deserto, apenas com um rapaz nas bancadas. E ainda o que resta da antiga catedral, considerada a mais velha igreja bizantina de Jerash, os antigos souk, a fachada da antiga e grandiosa fonte Nymphaeum ou as ruínas de igrejas como a de Marianos, que tem um pavimento em mosaicos bastante intacto.
E do sítio arqueológico, seguiu-se então o Um Khalil, ali perto, que significa qualquer coisa como "amigo íntimo" e que era o nome que os jordanas davam à libanesa Antoinette Ramy, fundadora do restaurante. Juntámo-nos nesse dia, felizes, aos cerca de 8 milhões de clientes de todo o mundo que já o visitaram, com destaque para uma lista de notáveis onde figuram nomes como Nelson Mandela, Kofi Annan, o antigo rei Hussein, que governou a Jordânia entre 1952 e 1999, ou o actual rei Abdullah II. Do menu fazem parte mezze quentes e frios – entre queijo halloumi frito, tagine de peixe, tomate com alho, azeitonas de Aleppo ou falafel –, acompanhados de um pão acabado de sair do forno, e pratos principais sobretudo à base de frango e de carneiro, as duas carnes mais consumidas no país. Tudo bom e bem servido, o que deu direito a um take away para o almoço do dia seguinte.
A norte de Jerash, a 19 quilómetros, fica Ajloun, uma espécie de oásis de pinheiros e de oliveiras a mais de 1000 metros de altitude. Vale a pena percorrê-los, mesmo que pelo caminho se encontre um mega engarrafamento provocado pela campanha eleitoral para as municipais que teriam lugar dali a uns dias (e um dos rapazes a gritar-me um "I love you" do topo de uma das camionetas, quando me vê a fotografar). E vale a pena subir ao alto do seu castelo medieval islâmico, o Qala'at Er-Rabadh ou Qala'at Ajloun, construído no século XII sobre as ruínas de um mosteiro para impedir o avanço dos Cruzados mas também para garantir a segurança das minas de ferro existentes nas proximidades. O castelo fazia ainda parte de um importante sistema de comunicação que ligava as maiores cidades da região, incluindo Damasco, na Síria, Bagdad, no Iraque, ou Cairo, no Egipto, e que usava pombos correios ou sinais de fumo durante a noite. Do seu topo, panorama de 360 graus garantido, com sorte com a Síria, Palestina e Israel no horizonte.
A Reserva Florestal de Ajloun, criada pela Royal Academy for Nature Conservation para permitir a reintrodução de veados, desaparecidos no norte da Jordânia, é outro dos motivos de interesse desta zona do país. Por lá é possível fazer caminhadas em busca da fauna e da flora – uma mais curta por conta própria, outras maiores, como a que vai até uma fábrica de sabão onde trabalham mulheres da região, na companhia de um guia e com reserva prévia (e custo adicional). Também é possível pernoitar, em casinhas de betão e madeira, e com sorte não acordar congelado. As noites podem ser frias na Jordânia, mesmo com o Inverno a acabar, sobretudo se o gás do único aquecimento acabar durante a noite. E ainda nem chegámos a Wadi Rum.
Lisboa – Roma com a TAP e Roma – Amã (ou arredores de Amã, que o Queen Alia International Airport fica a cerca de 40 quilómetros da capital) com a Ryanair foi a rota desta viagem à Jordânia. O voo da Ryanair, ida e volta, custou 220.96 euros para dois, com duas malas de dez quilos incluídas e duas mochilas que têm de caber debaixo do banco da frente.
Aeroporto (uma noite no Faraseen Apartments), Jerash e Ajloun (uma noite na Ajloun Forest Reserve), Azraq e "castelos" do deserto (uma noite no Azraq Lodge), Madaba (uma noite no Tell Madaba Hotel), Rota dos Reis e Dana (uma noite na Dana Guesthouse, com o termómetro a chegar aos zero e a ordem do roteiro previsto a ter de ser mudada), Aqaba e Mar Vermelho (duas noites no Twins Boutique Hotel, em busca de algum calor e à espera que passasse o mau tempo), Wadi Rum (uma noite no Bedouin Guide Camp e outra no acampamento Wadi Rum Legend Camp), Wadi Musa e Petra (duas noites na Jordan Guest House), Mar Morto (uma noite nos Mujib Chalets, junto à Mujib Biosphere Reserve, na altura ainda fechada), Amã (duas noites no Canary Boutique Hotel) e Madaba (regresso ao Tell Madaba Hotel) foi o roteiro dos 15 dias de viagem.
Os alojamentos foram reservados via Booking e no site Wild Jordan, sobretudo para os locais mais remotos ou com pouca oferta de alojamento. Foi o caso de Ajloun Forest Reserve, o mais caro das 15 noites (tarifas aqui), Azraq Lodge, mesmo ao lado de uma movimentada base aérea (aqui), Dana Guesthouse, quase suspensa na montanha e com vista para um desfiladeiro (aqui) e Mujib Chalets, muito tranquilos e a poucos metros do Mar Morto (aqui). O regresso ao Tell Madaba Hotel, que devia ser um cinco estrelas pela simpatia, foi combinado via WhapApp.
O carro – conduzido pelo companheiro de viagem e devolvido sem danos apesar da condução meio louca dos jordanos, que não fazem sinais, que transformam uma ou duas faixas em três ou quatro, que param em qualquer lado, que fazem marcha atrás como quem anda para a frente – foi alugado na Dollar e custou 350 dinares para as duas semanas (480 euros, 32 por dia).
Os visitantes da Jordânia têm a possibilidade de comprar aqui o Jordan Pass, que é válido para 15 dias depois da primeira utilização e inclui o custo do visto de entrada no país, no valor de 40 dinares (cerca de 52 euros), e a entrada em cerca de 40 locais, entre Petra, o deserto de Wadi Rum, museus e sítios arqueológicos. Está disponível em três versões: 70 dinares incluindo um dia de visita a Petra (que custa 50 sem Jordan Pass), 75 incluindo dois dias de visita consecutivos a Petra (custa 55 sem Jordan Pass) e 80 para três dias (60 sem Jordan Pass). Nós compramos o de 80 (cerca de 104 euros) pois só o visto e os três dias que queríamos passar em Petra custariam 100 dinares (cerca de 130 euros). E ainda o utilizámos mais de umas duas dezenas de vezes em outros locais.
O site Visit Jordan disponibiliza informações gerais sobre o país, os principais locais de interesse, sobre alojamento e restaurantes ou preços de entrada nas reservas, museus e sítios arqueológicos. A entrada em Jerash está incluída no Jordan Pass e custa 10 euros para estrangeiros que não o tenham.
Mais sobre a viagem à Jordânia nos links Azraq e Castelos do Deserto, Madaba, Wadi Mujib e Estrada do Rei, Aqaba, Wadi Rum, Petra, Mar Morto e Amã.
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