Jordânia: a banhos no Mar Morto
A ideia inicial era ter chegado ao Mar Morto a partir de Aqaba, percorrendo toda a Jordan Valley Highway, também conhecida como Dead Sea Highway. Mas uma mudança de planos a meio da estadia na Jordânia fez-nos viajar a partir de Petra e repetir um pouco da já percorrida King's Highway, depois a estrada 60, montanhosa e com vistas ao longe sobre Israel e finalmente um pedaço da estrada do deserto, até chegarmos ao "mar" que na realidade é um lago e que é famoso por ser o lugar mais baixo do mundo em terra seca (à volta de 425 metros abaixo do nível do mar) e o lugar com maior concentração de sal, cerca de dez vezes mais do que a água dos oceanos. Fez-nos companhia um rapaz jordano a quem demos boleia logo a seguir a Little Petra e que à falta de palavras em inglês utilizou o tradutor do Google para nos agradecer no final e desejar uma boa estadia no Mar Morto.
E foi essa uma estadia curta, apenas de uma noite passada nos Chalets de Mujib, uns quantos quilómetros a sul da zona onde, do lado da Jordânia, se concentram muitos hotéis de cadeias internacionais e de tamanho XXL, por ainda se encontrar fechada a Reserva da Biosfera de Mujib, logo ali ao lado e onde tem o visitante vários trilhos de caminhada ao dispor, alguns em parte dentro de água. Mas foi uma estadia boa, com um banho ao final da tarde no "maior spa do mundo", assim chama o Turismo da Jordânia às águas ricas em minerais do Mar Morto (mas onde plantas e animais, à excepção de alguns microorganismos, não conseguem sobreviver), seguido de um banho de água doce para retirar o sal da pele e de um banho de lama feito com um saquinho comprado na recepção do nosso alojamento. Não fizemos a fotografia da praxe, turista deitado na água sem ir ao fundo a ler o jornal ou um livro, mas não resistimos a fazer uma selfie cobertos de cinzento.
No dia seguinte, antes de rumarmos à capital Amã, última etapa da volta pela Jordânia, trocámos os banhos salgados do Mar Morto pelos banhos quentes da estação termal de Hammamat Ma'In, conhecida e usada desde a Antiguidade e na quinta feira em que por lá passámos cheia de jordanos e alguns turistas a gozar as piscinas exteriores de águas que ultrapassam os 40 graus ou uma sauna natural numa gruta com temperaturas ainda mais elevadas. E tivemos ainda tempo para uma ida ao Dead Sea Panoramic Complex, que vale pela vista sobre o Mar Morto, pelo restaurante Panorama e a cerveja artesanal jordana Carakale ali servida e pelo didáctico museu que explica porque é o Mar Morto tão salgado (tem a ver com a evaporação da água e com o sal que é deixado para trás), o que são "dolines" (uns buracos que se abrem na terra onde já houve água e que engolem o que estiver à volta, estradas, edifícios ou campos cultivados) ou porque está o Mar Morto a encolher. Quatro imagens pintadas no chão reproduzem a silhueta deste lago nos anos 1950, 1996, 2009 e de como se prevê que seja em 2400, altura em que poderá ter apenas 536 quilómetros quadrados de superfície (agora andará à volta dos 640).
O encolhimento que o Mar Morto enfrenta, agravado pelo necessário desvio de água do rio Jordão e afluentes para uso na agricultura e para consumo doméstico, pela intensa actividade da indústria extractiva e pela evaporação de água acelerada pelas mudanças climáticas, não tem solução fácil. Depois de anos de negociações e de estudos, Israel, Jordânia e Autoridade Palestiniana chegaram a acordo para a construção de um canal que levaria água do Mar Vermelho para o Mar Morto, solução cara (na realidade muito cara) e não isenta de problemas, uma vez que pode pôr em causa o já frágil equilíbrio do Mar Morto. Preocupado com a redução do lago está também o fotógrafo norte americano Spencer Tunick, que ali esteve em 2011 e regressou em 2021 para fotografar cerca de 200 voluntários, homens e mulheres nus e pintados de branco. À Associated Press disse na altura que o seu objectivo é criar consciência sobre o Mar Morto, que está a desaparecer. E entretanto este vai mesmo desaparecendo um metro por ano.
Um bungalow para dois nos Chalets de Mujib, um alojamento isolado e construído a poucos metros da água, custou 75 dinares, cerca de 105 euros, com boa vista, terraço, banho no Mar Morto e pequeno almoço incluídos. É possível jantar no local (14 dinares, cerca de 21 euros) ou fazer a reserva para uma lunch bag (6 dinares, cerca de 8 euros). Mais informações no site da Wild Jordan.
A Reserva da Biosfera de Mujib, cujos 212 quilómetros quadrados vão de uma altitude de -424 metros a 900, é habitat de cerca de 300 espécies de plantas, 10 de carnívoros e de mais de duas centenas de aves residentes ou migratórias. Nela pode o visitante, assim esteja aberta, o que não aconteceu na nossa passagem no mês de Abril (por ter água em excesso ou por estar prestes a começar o Ramadão, foram as justificações), percorrer o Siq Traill por conta própria (duas a três horas) ou o Ibex Trail, um trilho de montanha, na companhia de um guia (3 a 4 horas, o único que se pode fazer todo o ano). Mais informações sobre preços e outras no Centro de Visitantes junto à Mujib Bridge, pelo telefone +962 797203888 ou aqui. Mais informações sobre todos os trilhos disponíveis aqui.
O acesso ao Mar Morto para banhos é condicionado e geralmente pago, mesmo nas praias públicas de Amman Beach, localizada a cerca de 1 quilómetro do Crowne Plaza em direcção a sul (entrada a 12 dinares, cerca de 16 euros), ou na Amman Tourist Beach Resort, um pouco abaixo da anterior (20 dinares, cerca de 28 euros). Os grande hotéis, como o Dead Sea Spa Hotel, o Movenpick ou o Marriot permitem a entrada a não residentes em troca de umas quantas dezenas de dinares. Pelo que o nosso banho gratuito (ou incluído na estadia) nos Chalets de Mujib nos pareceu a melhor opção.
As termas de Hammamat Ma'In, geridas pelo grupo hoteleiro Ma'In Hot Springs Resort & Spa, são constituídas por quatro cascatas na área pública e duas dentro da área do resort. Estão abertas para o público em geral das 9h às 21h (entrada a 15 dinares, cerca de 21 euros) e das 6h às 9h em exclusivo para hóspedes. Mais informações aqui.
Mais sobre a viagem à Jordânia nos links Jerash e Ajloun, Azraq e Castelos do Deserto, Madaba, Wadi Mujib e Estrada do Rei, Aqaba, Wadi Rum, Petra e Amã.
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