Amã: adeus à Jordânia na cidade da diversidade
Não será por Amã, capital da Jordânia, um país que tem o sítio arqueológico de Petra, o deserto de Wadi Rum e as ruínas romanas de Jerash, que turistas e viajantes se fazem ao país. Mas estando por lá, vale a pena dedicar algum tempo a uma cidade que à primeira vista pode assustar – pela imensidão, por alguma desarrumação, algum lixo e pelo trânsito intenso e caótico, sobretudo na parte baixa e mais antiga. Em Amã, que recebeu da Lonely Planet o primeiro lugar da categoria de "welcoming destination in diversity" nos Best in Travel 2021, vivem mais de 4 milhões de pessoas, entre jordanos e refugiados iraquianos, libaneses ou sírios, que ali foram procurando abrigo ao longo dos anos.
Nos dois dias em que por lá andámos percorremos a cidade a pé, por entre ruas íngremes e escadas que sobem e descem as colinas, de táxi numa das noites para regressar ao nosso Canary Boutique Hotel e na companhia de um motorista perdido e que não falava inglês e também ao volante do carro alugado, o que é coisa geralmente desaconselhada mas que ocorreu sem incidentes. E encontrámos uma capital com algumas relíquias: um teatro romano bem preservado e com capacidade para 6000 pessoas (e ainda utilizado para eventos culturais, pelo menos antes da pandemia) e uma cidadela construída num local ocupado desde o Neolítico e que tem, para além da melhor vista sobre Amã, um Museu Arqueológico onde estão duas estátuas de Ain Ghazal, consideradas as primeiras estátuas feitas pelo Homem, duas colunas muito fotografadas que restam do Templo de Hercules e as ruínas do complexo islâmico Umayyad, que tinha uma mesquita, um souk, um hammam e um palácio.
Amã, que estava enfeitada para o Ramadão, o mês de jejum para os muçulmanos que havia de começar dali a dois dias, com luzes, estrelas e crescentes pendurados pelas ruas da cidade baixa, tem quiosques que são livrarias, outros que vendem sumos de fruta ou de cana de açúcar, tem lojas de especiarias e de frutos secos, de doces tradicionais (e todas vendem knafeh, um doce feito com queijo e uma massa muito fina, semelhante à aletria), de perfumes, onde se podem misturar várias essências para fabricar uma fragrância única, muitas de vestidos usados geralmente em cerimónias e em ocasiões especiais, e tem cafés onde apetece ficar a observar a cidade, sendo que o Balat Al-Rasheed Café, de 1924, também conhecido por Eco Tourism Café, é um dos mais antigos.
No site Visit Jordan há uma lista com 99 coisas para fazer na capital da Jordânia. Escaparam-nos bastantes (ir ao Jara Flee Market na Rainbow Street a uma sexta-feira ou cantar karaoke nas noites de Amã), mas fizemos umas quantas. Fomos ao restaurante Hashem, aberto em 1956 por uma família turca e que é uma instituição (serve menus de falafel e hummus a um preço super económico e está aberto 24 horas). Jantámos no Zajal, que não está mas podia estar na lista e que fica num primeiro andar com varanda com vista para a Prince Mohammed Street (e uma limousine branca, descapotável na parte de trás a passar, enquanto esperava o meu prato de frango acompanhado de bulgur, nozes e passas). Fomos ao Al-Hussein Park, onde fica o Royal Automobile Museum, que retrata o reinado do rei Hussein através dos seus carros e motos (está lá o Land Rover que usou em muitas visitas pelo país e que foi em 2014 usado pelo Papa João Paulo II ou o carro alemão anfíbio em que o rei se descolava quando visitava Aqaba, o único sítio da Jordânia com acesso ao mar). Visitámos a Jordan National Gallery of Fine Arts, instalada em dois edifícios separados por um parque (tem obras de artistas jordanos mas também da Papua Nova Guiné ou do Egipto) e vimos ao longe a mesquita Abu Darwish, de 1962, preta e branca a marcar a paisagem, e de mais perto a mesquita Al-Husseini, na parte baixa da cidade, mandada construir em 1924 pelo rei Abdukkah I no sítio de uma antiga mesquita do ano 640.
E o Jordan Museum, que tem direito a três routards no Le Routard sobre a Jordânia, tinha também de entrar no roteiro. Trata-se de um museu que conta a História do país desde o Paleolítico e que exibe tesouros como as estátuas de Ain Ghazal ou fragmentos dos manuscritos do Mar Morto (a história da descoberta destes papiros bíblicos está na Wikipedia). E onde o visitante pode ficar a saber factos curiosos sobre o país: qual o significado das quatro cores da bandeira e da sua estrela de sete pontas, quais os nomes mais populares usados em 2016 (Mohamad, Ahmad, Omar, Amir e Yousef para os rapazes; Salma, Jana, Sarah Joud e Jouri para as raparigas), qual o tamanho médio das famílias (5.4 pessoas em 2017, 6.7 nos anos 80), como é constituída a população (55 por cento tem até 24 anos e 9 por cento mais de 55), como é a cozinha beduína, cujo prato mais famoso é o mansaf, à base de carne de carneiro, há quantos séculos a Jordânia produz azeite (pelo menos há 5000 anos) ou como tem evoluído a situação das mulheres. Uma boa forma de quase nos despedirmos da Jordânia. Faltava só um regresso a Madaba, também conhecida como a cidade dos mosaicos, que fica a cerca de 23 quilómetros do aeroporto. Amman, cidade a fazer lembrar um quadro cubista, fica a 35.
Mais sobre a viagem à Jordânia nos links Jerash e Ajloun, Azraq e Castelos do Deserto, Madaba, Wadi Mujib e Estrada do Rei, Aqaba, Wadi Rum, Petra e Mar Morto.
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