Jordânia: um escaldão em Aqaba

Aqaba, o único porto e única estação balnear da Jordânia, localizada entre deserto e montanhas e o Mar Vermelho, entrava no nosso roteiro inicial como lugar de descanso depois das caminhadas que prevíamos fazer em Petra e em Wadi Rum. Mas previsões meteorológicas catastróficas para três dias, que se confirmaram com ventos fortes e neve a cair sobre a antiga cidade dos nabateus quase no final do mês de Março, fizeram-nos inverter a ordem das coisas e rumar primeiro à cidade mais quente do país, onde as temperaturas médias máximas vão dos 20 graus em Janeiro aos 39 em Julho ou Agosto. Nós apanhámos 21 ou 22, algum vento, um sol meio encoberto e mesmo assim um escaldão.

Antes de chegar a Aqaba já sabia, pela leitura do Le Routard sobre a Jordânia, que a cidade, uma zona franca desde 2001, tem grandes avenidas e centros comerciais abertos até tarde, uma "cidade artificial" com uma marina, hotéis e apartamentos em Tala Bay, a caminho da fronteira com a Arábia Saudita, ou um "projecto faraónico" que  ocupa 17 quilómetros de frente de mar, na direcção da fronteira com Israel, com campos de golfe, hotéis de luxo e casas de férias, o Ayla Oasis. E sabia também, facto curioso, que em 1965 o então rei Hussein trocou com a Arábia Saudita 6 000 quilómetros quadrados de deserto jordano por 12 quilómetros de costa ao sul da cidade.

Mas o que encontrei em Aqaba foi uma cidade com hortas bem tratadas e bem regadas entre o casario e a Al Ghandour Beach, uma cidade cheia de comércio tradicional com lojas e bancas de rua que não parecem ter pressa em fechar, um passeio marítimo e uma praia pública que se enchem de gente, e ainda mais às sextas e sábados, dias de descanso para os muçulmanos, rapazes e homens que me pedem para os fotografar (e dois para lhes enviar as fotos por WhatsApp) e restaurantes com peixe e marisco suficientes para compensar o  frango comido nos dias que já levava de Jordânia (e o que ainda estava para vir).

Fazer mergulho ou snorkeling no Mar Vermelho, em busca das espécies mais comuns de corais mas também de um coral de cor negra, com forma semelhante à de uma árvore, é o que atrai muitos turistas a Aqaba. Como nunca nos iniciámos no mergulho e o tempo estava fresco para banhos prolongados, ficámo-nos por um passeio de barco com fundo de vidro, um clássico da cidade. E foi bom. Vimos de mais perto a cidade israelita de Eilat, mesmo em frente de Aqaba, o Egipto ao longe, um imenso navio de cruzeiro proveniente do Dubai atracado, com dois passageiros, máscaras anti Covid postas, a dizer-nos adeus da janela do camarote, e a bandeira gigante que simboliza a Revolução Árabe a voar na paisagem. Pelo fundo de vidro da embarcação espreitámos um avião do Irão que caiu em 2017 e que agora permanece no fundo do mar, os restos de um barco naufragado e, imagine-se, um tanque de guerra M42 que se encontra a uns seis metros de profundidade e que foi afundado em 2001 por ordem do então rei Hussein como atracção para os mergulhadores, sendo que o rei fazia ele próprio mergulho. 

Os reis da Jordânia parecem gostar de Aqaba (e eu também era capaz de voltar, seguramente para fazer o snorkeling que agora não fiz, talvez para fazer a travessia para o Egipto ou pelo menos visitar a ilha Pharaon, que tem um castelo construído no século XII para defender a costa contra os cruzados). Diz-me o condutor da nossa embarcação que o actual rei, Abdullah II, se mudou para a cidade há dois anos, no início da pandemia (e aponta ao longe o palácio onde vive com a família). O que explica termos tido um encontro tão inesperado como fugaz, ao final da tarde do primeiro dia da estadia, com o carro que transportava o Presidente de Moçambique Filipe Nyusi, na altura de visita oficial à Jordânia.

 




























Aqaba tem praias públicas, a Al Ghandour Beach no centro ou a South Beach a  16 quilómetros, e praias privadas e pagas, como a do Berenice Beach Club, que tem piscina, actividades para crianças, actividades desportivas e transporte de e para a cidade. A entrada para um adulto custa 10 dinares (cerca de 13 euros), um passe para 7 dias 50 (65). Na South Beach apanhámos o escaldão, a de Berenice não experimentámos.

As duas noites em Aqaba foram passadas no Twins Boutique Hotel, muito central, a 500 metros da praia mais popular e numa zona onde há outros hotéis em construção. Por agora tem vista de mar por o edifício em frente ainda não estar concluído. Quartos duplos no Booking à volta de 57 euros com pequeno almoço.

Restaurantes mais tradicionais ou mais internacionais abundam em Aqaba. Nós experimentámos um queijo grelhado e os camarões fritos e grelhados do Khashoka Aqaba, um restaurante turco cheio de jordanos localizado no Royal Yacht Club, onde fica também o italiano e elegante Romero. E também um peixe no Captain's Restaurante, restaurante do Captain's Hotel, e mais uns camarões e uma salada tradicional fatoosh, com tomate, pepino e pimento, no Al Shami.

Mais sobre a viagem à Jordânia nos links: Jerash e AjlounAzraq e Castelos do DesertoMadabaWadi Mujib e Estrada do ReiWadi RumPetraMar Morto e Amã.

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